Com crise dos Correios, governo avalia mudança em meta de estatais de 2026
Estatal busca empréstimo de R$ 20 bilhões, e equipe econômica avalia que precisa ter clareza do cenário antes de qualquer definição
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva está analisando com lupa a situação das estatais para avaliar mudanças na meta de resultado primário das empresas não dependentes do Tesouro Nacional no ano que vem. Interlocutores da equipe econômica afirmam, contudo, que é necessário ter acesso ao cenário dos Correios de forma clara antes de qualquer definição.
Atualmente, a meta prevista no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2026 é de R$ 6,75 bilhões, mas o rombo previsto para as estatais este ano foi revisado de R$ 5,5 bilhões em setembro para R$ 9,2 bilhões em novembro, sobretudo devido à grave crise dos Correios, cujo resultado negativo projetado piorou R$ 3,4 bilhões.
A estimativa superou a meta deste ano, de R$ 6,2 bilhões, forçando o governo a fazer uma compensação de R$ 3 bilhões, para evitar descumprimento, o que gerou a necessidade de segurar outros gastos no Orçamento.
Leia também
• Correios: TCU recebe representação para fiscalizar empréstimos de R$ 20 bilhões com aval do Tesouro
• Estatais federais acumulam déficit de R$ 6,35 bilhões até outubro e ampliam pressão sobre Orçamento
• Setor público faz superávit de R$ 32,4 bi em outubro, mas estatais registram déficit de R$ 149 mi
Agora, a ideia é fazer uma avaliação ampla para 2026 para verificar se a meta proposta no PLDO está adequada à situação fiscal das estatais e evitar que novas compensações sejam necessárias no ano eleitoral. A avaliação foi revelada pelo “Estado de S. Paulo” e confirmada pelo GLOBO.
O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, já havia admitido, no fim de novembro, que a situação dos Correios poderia virar um problema ainda maior para as contas públicas no ano que vem.
— É um ponto que tem me incomodado. É um resultado muito ruim, que de fato causa o impacto negativo neste relatório, não fosse os Correios, poderíamos estar em um cenário um pouco melhor, mas temos que lidar com a situação que nos chega — disse Durigan.
Entenda a crise nos Correios
Com prejuízos seguidos, os Correios buscam um empréstimo de R$ 20 bilhões, já aprovado internamente. Segundo interlocutores da empresa, o empréstimo será liberado em três parcelas: R$ 10 bilhões em 2025 e mais duas parcelas de R$ 5 bilhões em 2026. O prazo de pagamento é de 15 anos, com três anos de carência para pagamento dos juros. O empréstimo foi negociado com um grupo de bancos, formado por Banco do Brasil, Citibank, ABC, BTG e Safra.
A direção da estatal aguarda a liberação da primeira parcela do empréstimo neste mês para regularizar a dívidas e fechar as contas deste ano.
O empréstimo é uma operação casada com o plano de reestruturação dos Correios, que prevê corte de despesas em torno de R$ 2 bilhões, sobretudo com pessoal e fechamento de 1 mil agências. Do lado da geração de receitas, o plano prevê a venda de imóveis ociosos, uma arrecadação estimada em R$ 1,5 bilhão, além de novos serviços em parceria com o setor privado.
Uma parte dos recursos vai custear o plano de demissão voluntária (PDV) para desligar dez mil funcionários. O restante será usado para pagamento de empréstimo bancário antigo, dívidas com fornecedores e prestadores de serviço, sentenças judiciais e recolhimento para para a previdência e FGTS.
Após a validação do Tesouro, deverá ser editado um decreto presidencial com o embasamento jurídico da operação de salvamento da estatal, que opera no vermelho desde julho e registrou prejuízo de R$ 6 bilhões entre janeiro e setembro deste ano.

