Correios: prejuízo pode chegar a R$ 23 bilhões em 2026 sem plano de reestruturação
Proposta da gestão Emmanoel Rondon foi aprovada no Conselho de Administração da empresa na quarta
O prejuízo dos Correios pode chegar a R$ 23 bilhões em 2026 se não houver avanços no plano de reestruturação da empresa, segundo estimativas internas obtidas pelo GLOBO. Neste ano, o rombo projetado seria de R$ 10 bilhões. O cenário é gerado por queda de receitas e aumento de custos, além de perda de espaço no mercado de encomendas, de 51% para 25%. Com a execução do plano, os Correios estimam redução do déficit em 2026 e retorno à lucratividade em 2027.
A empresa registrou prejuízo acumulado de R$ 4,3 bilhões no primeiro semestre de 2025. Apenas no segundo trimestre, entre abril e junho, o resultado negativo atingiu R$ 2,6 bilhões, quase cinco vezes o registrado em igual período do ano anterior, de R$ 553,1 milhões. O fluxo de caixa mensal é negativo em cerca de R$ 750 milhões.
Nesta sexta-feira, a estatal anunciou que o plano foi aprovado pelas instâncias de governança da empresa, a diretoria executiva e o Conselho de Administração, na última quarta. Entre as medidas previstas, estão uma operação de crédito de até R$ 20 bilhões, medidas de corte de gastos e a modernização e readequação do modelo de negócio da empresa, que vive a pior crise de sua história.
Leia também
• Correios aprovam Plano de Reestruturação com previsão de operação de crédito de até R$ 20 bi
• Correios bucam R$ 850 milhões ainda este ano com repasse de imóveis ociosos para a estatal Emgea
• Correios vivem corrida contra o tempo para levantar R$ 10 bi e planejam demissão de 10 mil
Como mostrou o Globo, os Correios esperam concluir até semana que vem as negociações do empréstimo. Diante das altas taxas cobradas pelos bancos em uma primeira rodada de conversas, a empresa mudou a estratégia e agora tenta captar o máximo de recursos com juros mais próximos de 120% do CDI, teto geralmente considerado em operações com garantia da União.
No curto prazo, a cúpula da estatal espera ao menos R$ 10 bilhões para reequilibrar as contas e colocar de pé as primeiras medidas do plano de reestruturação. De largada, a empresa quer regularizar pagamentos essenciais, como fornecedores, revisar os maiores contratos e atingir 95% de regularidade nas entregas em 2026. Atualmente, esse percentual está em 92%.
No âmbito de redução estrutural de despesas, as principais metas são um Programa de Demissão Voluntária (PDV) com adesão de 10 mil funcionários, o repasse de imóveis ociosos, cujo potencial foi revisado para até R$ 1,5 bilhão, e a otimização da rede de atendimento com redução de até mil pontos deficitários. Além disso, o plano prevê a diminuição do déficit do Postal Saúde, plano de saúde dos funcionários que é bancado pela empresa.
Depois de estabilizar e reorganizar a casa, a terceira etapa do plano de reestruturação visa o retorno ao crescimento sustentável. Nessa fase, as ações previstas incluem parcerias estratégicas, adoção de tecnologia de ponta e ajustes no modelo de negócio.
"Os Correios sinalizam ainda a possibilidade de operações de fusões, aquisições e outras reorganizações societárias para fortalecer a competitividade da estatal no médio e longo prazo", disse a empresa em comunicado à imprensa.
Universalização
Na nota, os Correios afirmaram que a universalização do serviço postal, ou seja, a obrigação de fazer entregas de cartas e encomendas em todo território nacional, tem um custo alto - R$ 5,4 bilhões no primeiro semestre de 2025. Mas a empresa destaca que esse é um "compromisso estratégico e social inegociável".
"Garantir a universalização é essencial para a integração nacional, a comunicação segura e a soberania logística do país. Em diversos países, mecanismos formais de compensação asseguram a universalização, reconhecida como serviço público indispensável", disse a estatal.
"No Brasil, apesar da queda das receitas tradicionais, cenário que ocorre em todo o mundo, os Correios permanecem como o único operador capaz de atender todos os municípios, inclusive regiões remotas onde a presença do Estado é vital", completou.
A empresa destacou que sua capilaridade permite a execução de operações logísticas importantes para o país, como a entrega de urnas eletrônicas e auxílio em momentos de calamidade, a exemplo das enchentes no Rio Grande do Sul e do tornado no Paraná.

