Seg, 15 de Dezembro

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CRISE NOS CORREIOS

Correios: presidente é avisado que 'não há chance' de aprovação de empréstimo com juros acima do CDI

Estatal suspendeu negociações com bancos após órgão considerar custo elevado de negociação

Fachada dos CorreiosFachada dos Correios - Foto: Júnior Soares/Folha de Pernambuco

Com o grande desafio de tirar os Correios da pior crise da História, o presidente da estatal, Emmanoel Rondon, recebeu um recado duro do Tesouro Nacional em reunião na terça-feira (2): não há chance de o órgão dar aval a um empréstimo com juro acima do padrão adotado para esse tipo de operação, de 120% do CDI.

Apesar das más notícias para a estatal, que busca ao menos R$ 10 bilhões para ter um respiro no curto prazo, Rondon não foi o destinatário final da mensagem do Tesouro. Ele foi orientado a repassar para os bancos que o governo não vai aceitar que os credores coloquem uma "faca no pescoço" de qualquer estatal federal.

A taxa de 136% do CDI oferecida pelo consórcio de BTG Pactual, Citibank, ABC Brasil, Banco do Brasil e Banco Safra é considerada "abusiva" para uma operação com aval da União. Na prática, caso a empresa não pague, o Tesouro assume os compromissos, sem risco de calote para a instituição financeira.

O Comitê de Garantias do Tesouro estabelece o custo máximo que deve ser observado para que uma operação seja elegível ao aval da União. Para um empréstimo com duração superior a 10 anos, esse teto é de 120% do CDI.

Em tese, a flexibilização do teto de juros é possível de ser negociada a depender do risco da operação, mas, no caso dos Correios, essa opção foi descartada. O Tesouro nem chegou a analisar as demais condições do empréstimo - o custo foi um critério de eliminação.

A estratégia é fazer pressão sobre as instituições financeiras para que melhorem as condições do empréstimo. BTG, Citi e ABC Brasil já têm um contrato ativo de R$ 1,8 bilhão com os Correios, sem garantia. Portanto, teriam interesse em trocar a operação, para garantir que serão pagos.

O empréstimo, no entanto, também é importante para o governo, uma vez que, no limite, caso não se encontrem soluções para a estatal, a empresa pode se tornar depende da União. Nesse caso, os gastos da empresa teriam que disputar espaço com outros gastos, como políticas públicas. Mas a equipe econômica já vem pensando em outras alternativas.

A negativa do Tesouro interrompeu a segunda tentativa dos Correios para conseguir levantar R$ 20 bilhões e aumenta as dúvidas sobre a capacidade da empresa em conseguir reverter sua grave situação financeira.

Do lado da estatal, o momento é de avaliar as possibilidades, mas a empresa deve "partir para briga" com as instituições para tentar baixar as taxas. A cúpula dos Correios deve continuar insistindo com os bancos que não é necessário "resolver tudo de uma vez".

A ideia é repetir que a operação pode ser fatiada, com um valor menor em um primeiro momento, mas com um custo mais razoável. Essa foi a estratégia da segunda rodada de negociações, que visava obter ao menos R$ 10 bilhões no curto prazo, mas não surtiu efeito, já que as condições foram bastante similares na oferta agora recusada pelo Tesouro Nacional.

A Caixa Econômica Federal ficou de fora das negociações e não participou da oferta de crédito para os Correios. Mas a direção do banco pode entrar nas negociações, caso seja acionado pelo governo. Em parceria com o BB, há possibilidade de uma taxa menor para ajudar os Correios, disse um executivo. O interesse se deve à garantia do Tesouro.

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