Eliminação de taxa de 10% por Trump é difícil, e caminho é buscar exceções, acreditam negociadores
Presidente americano anunciou tarifas chamadas por ele de recíprocas nesta semana
Os sinais emitidos pelos Estados Unidos ao governo brasileiro até o momento são que a tarifa de 10% aplicada ao país não será eliminada.
Por essa razão, os negociadores querem reduzir o percentual, ou excluir o máximo de produtos da pauta de itens vendidos para os EUA com a nova taxa.
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Representantes do Brasil e do governo Donald Trump têm se reunido semanalmente e uma nova conversa acontecerá nos próximos dias.
Segundo um interlocutor que participa das discussões, a decisão de adotar a tarifa mínima de 10% para o Brasil foi um "mal menor", pois parceiros tradicionais dos EUA, como China e União Europeia, terão alíquotas mais elevadas.
Nos bastidores, a informação é que o principal critério para convencer os americanos a poupar as exportações brasileiras de taxas maiores, como a de 34% para a China, ou a de 20% para a União Europeia, foi o superávit que os EUA têm na balança comercial com o Brasil.
A estimativa é que, de 2019 a 2024, os americanos acumularam um saldo positivo de mais de US$ 58 bilhões no comércio de bens e serviços.
A reação do Brasil ao tarifaço de Trump depende de discussões com o setor privado brasileiro.
Para evitar o acirramento da guerra comercial, o acordo com os EUA é o objetivo principal do Brasil.
No entanto, discute-se internamente um plano de retaliação que abrangeria elevação de tarifas de bens e quebra de patentes de produtos como medicamentos.
Um integrante do governo ressaltou que o Brasil já tem a "carta da retaliação na manga", em uma referência ao projeto aprovado pelo Congresso Nacional, com o apoio de governistas e opositores a Lula, que permite a adoção de medidas como a elevação de tarifas de importação e a quebra de patentes e direitos autorais.
Esse interlocutor disse ainda ser preciso saber o que a indústria quer fazer para se defender, sem se prejudicar.
Como o aumento das alíquotas cobradas encarece as importações e, por tabela, os custos industriais, o mais provável é focar em propriedade intelectual.
Nesse caso, o lado mais afetado seriam os EUA, que detém patentes de medicamentos e são grandes exportadores de filmes.
Mas o setor privado dará a última palavra.
Até a última quarta-feira, dia em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou o tarifaço no comércio com outros países, as conversas estavam concentradas, principalmente, no aço.
Junto com alumínio e automóveis, os produtos siderúrgicos estão, desde 12 de março último, com uma taxa de 25%.
O Brasil é um dos principais fornecedores de aço para os EUA e alega que a maior parte é matéria-prima para a indústria americana.
Um interlocutor do governo Lula disse que a ideia é restabelecer o acordo de cotas de exportação fechado em 2018 com os EUA, no primeiro mandato Trump.
Assim, entraria naquele país uma quantidade limitada de aço sem a taxa de 25%.

