Fatia de celulares contrabandeados no Brasil recua, mas faturamento cresce, mostra balanço do setor
Para Abinee, redução tem a ver com medidas de repressão implementadas por autoridades e órgãos de fiscalização
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A participação de celulares irregulares nas vendas totais de smartphones recuou de 19% para 12% este ano, mostram dados da Associação Brasileira Indústria Elétrica Eletrônica (Abinee) divulgados nesta quinta-feira.
Apesar disso, o faturamento do mercado ilegal avançou com o aumento dos valores médios dos aparelhos, vendidos em média por de R$ 2 mil a R$ 2,5 mil. Ainda segundo a entidade, as marcas chinesas Xiaomi e Realme são os principais alvos de contrabando.
Para a Abinee, o cenário é resultado das medidas de combate ao mercado ilegal implementadas em conjunto por autoridades e órgãos de fiscalização, como a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), a Polícia Federal (PF), a Receita Federal e secretarias estaduais de Fazenda.
Diretor de Dispositivos Móveis de Comunicação da Abinee, Luiz Claudio Carneiro observa que uma das ações recentes foi uma resolução publicada pela Anatel em agosto que especifica que lojas online e marketplaces onde são vendidos os aparelhos se responsabilizam "solidariamente" com os vendedores que comercializam ali os produtos.
Segundo o executivo, porém, há ainda "muita resistência" de alguns marketplaces que atuam no Brasil. Sem citar diretamente nenhuma empresa, ele ressalta que há ações de plataformas de vendas online contra a Anatel e a Receita.
— Existem muitas ferramentas que viabilizam retirada de anúncios irregulares. E vimos isso na recente crise do metanol, onde rapidamente tiraram do ar anúncios de garrafas vazias, selos de marcas... — destaca. — (Essas empresas) gastam fortunas com escritórios de advocacia em vez de usar ferramentas de inteligência artificial ou contratar pessoal para tirar os anúncios irregulares do ar. Isso é uma sinalização de que não querem cumprir as regras.
Carneiro também aponta que o principal problema hoje é o contrabando ou descaminho, com aparelhos entrando irregularmente no país via Paraguai e sendo comercializado em marketplaces. De acordo com a associação, as principais marcas alvo do contrabando são as asiáticas Xiaomi e Realme:
— Importante destacar que não estamos dizendo que é a marca que importa de maneira irregular, mas que sofre com a irregularidade
Falta de chips
Na coletiva, a entidade também alertou que o expressivo avanço de data centers para suprir a demanda global por inteligência artificial (IA) fez os preços de semicondutores avançar consideravelmente e há risco de restrições de chips no ano que vem.
A associação destacou que o aumento nos valores dos componentes "já é realidade" tanto no cenário global quanto no mercado brasileiro, e que as indústrias monitoram "quando e como" serão impactadas por restrições.
— Com a explosão de data centers e tecnologias de IA o mercado se reposicionou e as empresas de semicondutores estão optando por atender esse segmento, que tem um valor agregado maior — afirma Mauricio Helfer, diretor de Informática da associação. — Pela nossa perspectiva, já é algo para impactar o fim desse ano e inicio de 2026. Será um grande desafio para o nosso mercado e também o setor automotivo.
Faturamento cresce
Apesar de uma queda de 1,4% na produção, a indústria brasileira de eletrônicos encerra o ano com faturamento de R$ 270,8 bilhões, um crescimento real (descontada a inflação) de 4% na comparação com o ano passado.
— O crescimento no faturamento pode ser explicado pela mudança no perfil de consumidor que tem buscado produtos mais sofisticados e novas tecnologias — justifica Humberto Barbato, presidente da entidade.
Apesar do tarifaço imposto pelo governo americano às exportações brasileiras, os envios do setor ao exterior apresentaram alta em 2025 de 3%, totalizando US$ 7,9 bilhões. Os Estados Unidos foram o principal destino das exportações, correspondendo a 26% do total do setor.
— Houve a antecipação de uma série de embarques antes que o tarifaço entrasse em vigor. De uma certa maneira, isso contribuiu de forma positiva. Daqui pra frente, a manutenção do tarifaço pode gerar maiores dificuldades — diz Barbato.

