Ferrero negocia compra da Kellogg por US$ 3 bi, e ações da donas do Sucrilhos disparam quase 60%
Negócio deve ser anunciado ainda nesta semana, diz fonte, e consolida a construção de um império de alimentos erguido nas últimas décadas
A Ferrero International, empresa familiar italiana conhecida pelo chocolate Ferrero Rocher, está perto de adquirir a fabricante de cereais WK Kellogg por cerca de US$ 3 bilhões, segundo pessoas com conhecimento do assunto.
As negociações estão avançadas, e o anúncio do acordo pode ocorrer ainda esta semana. Com isso, as ações da Kellogg chegaram a subir 57% nas negociações pré-mercado nesta quinta-feira.
A aquisição uniria a fabricante da pasta de chocolate com avelã Nutella à empresa por trás dos cereais Froot Loops e Frosted Flakes, vendido no Brasil com o nome de Sucrilhos Kellog's, consolidando ainda mais os esforços da Ferrero para construir um império de alimentos e ampliar sua presença na América do Norte.
Controlada pelo bilionário discreto Giovanni Ferrero, a empresa tem feito uma série de aquisições nos últimos anos, mirando marcas frequentemente visadas por reguladores de saúde e por mudanças nas tendências de consumo.
Na última década, a Ferrero comprou a Fannie May, fabricante de chocolates que fortaleceu sua capacidade de produção e presença no mercado de chocolates premium nos Estados Unidos.
Também adquiriu a divisão de confeitaria da Nestlé nos EUA, ganhando marcas conhecidas nos EUA como Butterfinger.
O movimento mais recente da Ferrero, que registrou um aumento de quase 9% nas vendas no ano passado, alcançando € 18,4 bilhões (US$ 21,5 bilhões ou R$ 118 bilhões), parece “crível” considerando a estratégia da empresa de expandir sua presença nos Estados Unidos, segundo Robert Moskow, analista do TD Cowen.
As ações da Kellogg chegaram a subir 57% nas negociações pré-mercado nesta quinta-feira, após o Wall Street Journal noticiar na véspera que as duas empresas estavam perto de um acordo, reforçando especulações anteriores sobre um possível interesse de aquisição.
Até o fechamento de quarta-feira, as ações haviam caído 2,7% no ano, avaliando a empresa em US$ 1,51 bilhão (R$ 8,2 bilhões).
Procurados pela reportagem, representantes da Ferrero e da Kellogg não responderam de imediato aos pedidos de comentário.
Uma aquisição poderia impulsionar um negócio que vem enfrentando dificuldades para crescer desde que a Kellogg foi dividida em duas empresas, com a divisão de snacks sendo renomeada como Kellanova e as marcas de cereais ficando sob a WK Kellogg.
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Em maio, a Kellogg reduziu sua previsão anual de vendas, com o CEO Gary Pilnick destacando um “ambiente operacional desafiador”, à medida que os consumidores se afastam dos alimentos açucarados e passam a preferir opções mais baratas de cereais de marcas próprias.
A Kellanova, dona das marcas Pringles e Cheez-It, já foi vendida para outra empresa familiar, a Mars, gigante de doces e guloseimas e dona, entre outras marcas, dos chocolates M&M's e Snickers e das balas Skittles, por quase US$ 36 bilhões, incluindo dívidas.
A consolidação entre empresas de bens de consumo tem sido uma tendência há algum tempo, à medida que os negócios enfrentam a inflação e o aumento dos custos de commodities. Mais recentemente, a guerra tarifária do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, trouxe ainda mais dificuldades para empresas que frequentemente operam com margens de lucro apertadas.
A Ferrero, que também fabrica os chocolates Kinder Bueno e as balas Tic Tac, tem suas origens em uma confeitaria na Itália, pertencente aos avós de Giovanni, Piera e Pietro, que usavam avelãs para compensar o fornecimento limitado de cacau. Foi sob a liderança de Michele, pai de Giovanni, que a empresa se transformou em uma potência global a partir da década de 1950.
A Ferrero tem se esforçado para diversificar tanto seus produtos quanto sua presença geográfica, em parte para ajudar a lidar com a disparada dos preços do cacau.
A empresa não está focada apenas em doces, tendo adquirido também negócios de lanches saudáveis, como a Eat Natural, fabricante britânica de barras de cereais e granola, e a FULFIL Nutrition, produtora de barras de proteína e vitaminas.
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O recente lançamento das barras energéticas FULFIL no mercado italiano é um exemplo claro de como a Ferrero consegue expandir com sucesso marcas já existentes, segundo Sebastiano Grandi, professor de gestão e marketing da Università del Sacro Cuore, em Piacenza.
A abordagem “racional e moderna” da Ferrero busca marcas pouco aproveitadas e as relança “garantindo, ao mesmo tempo, que continuem sendo líderes autênticos em suas categorias”, afirmou Grandi.

