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ECONOMIA

Imposto menor para produção de "carros verdes" vai frear importados? Veja o que dizem especialistas

Redução do tributo pode levar à queda de preços, mas efeitos dependerão do detalhamento das exigências do programa e das escolhas das montadoras em termos de tecnologia embarcada na produção do modelo

Carros da montadora alemã Volkswagen à venda em Dortmund, no Oeste da Alemanha Carros da montadora alemã Volkswagen à venda em Dortmund, no Oeste da Alemanha  - Foto: Ina Fassbender/AFP

O lançamento do programa Carro Sustentável deve estimular a indústria nacional, com efeitos pontuais, mas, por si só, não deve ser suficiente para frear por completo a invasão de importados chineses, na avaliação de analistas.

De um lado, a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para veículos mais baratos e eficientes do ponto de vista ambiental pode levar à queda de preços, mas os efeitos dependerão do detalhamento das exigências do programa e das escolhas das montadoras em termos de tecnologia embarcada na produção do modelo.

Para analistas, a medida deve beneficiar carros de entrada que têm maior margem para redução dos custos. Mas o preço final mais competitivo pode depender da combinação entre o imposto reduzido e eventuais cortes de equipamentos.

Cássio Pagliarini, sócio da consultoria Bright Consulting, avalia que a iniciativa faz sentido se o objetivo for impulsionar o volume da indústria nos segmentos de entrada:

— Imagino que o governo busca fomentar o volume da indústria e, para isso, só trabalhando na parte de baixo da pirâmide de preços. Se você pegar um carro de R$ 140 mil e abaixar 5%, ele vai substituir outros carros e não aumentar o volume da indústria.

Novo nicho de atuação
Para Pagliarini, é exagerado classificar os carros beneficiados como “ populares”.

— É possível reduzir os atuais 5,27% de IPI dos veículos para 0,1%, como foi feito no programa anterior, em 2023. Mas, para chamar o carro sustentável de popular, é preciso ter um diferencial de preço maior — afirma.

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Antônio Jorge Martins, coordenador de cursos de MBA do setor automotivo da FGV, avalia que o programa tende a funcionar mais como um apoio às montadoras já instaladas no país do que como incentivo direto à tecnologia verde. A eficiência energética entra na equação, mas “a reboque”, afirma:

— Eles estão criando um novo nicho de atuação das montadoras já instaladas aqui, de tal forma a compensar a elevada competitividade que as chinesas têm em veículos com motorização mais potente do que essa que está sendo objeto do programa.

Entre janeiro e junho deste ano, foram importados 228,5 mil veículos (contra 197 mil no mesmo período do ano passado). E 70,9 mil unidades vieram da China, o que representa uma alta de 37,2%.

Martins lembra que as fabricantes chinesas, a exemplo da BYD, operam com modelos com motores mais potentes e ainda importados. Com o novo programa, montadoras com produção local terão mais chances de praticar preços menores.

O professor da FGV avalia que as montadoras com maior capacidade de se adequar ao programa são Volkswagen, General Motors, Hyundai, Renault e Stellantis, que têm modelos 1.0. Marcas como Toyota, Honda e Audi, que focam em motores mais potentes, poderiam ficar de fora.

O impacto final sobre os preços dos carros dessas marcas, porém, ainda é incerto porque depende do detalhamento da nova sistemática de IPI e da capacidade das montadoras de adaptar seus projetos, explica Martins.

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Para ele, a simples redução da alíquota de IPI não garantirá preços mais competitivos. As montadoras provavelmente terão de abrir mão de equipamentos com alto grau de tecnologia embarcada para baixar custos, diz:

— Não sabemos o que eles vão excluir de tecnologia. São incógnitas que impactam muito fortemente no preço a ser praticado — conclui Martins.

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