Sáb, 06 de Dezembro

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Itamaraty: Governo mapeia acordos de Trump para definir estratégia em negociação do tarifaço

Para Fernando Pimentel, Brasil ocupa uma posição "sui generis" as negociações com os EUA

Fernando Pimentel, diretor do Departamento de Política Comercial do Ministério das Relações ExterioresFernando Pimentel, diretor do Departamento de Política Comercial do Ministério das Relações Exteriores - Foto: Ministério das Relações Exteriores

O diretor do Departamento de Política Comercial do Ministério das Relações Exteriores, Fernando Pimentel, afirmou nesta terça-feira que o Brasil ocupa uma posição “sui generis” nas negociações com os Estados Unidos sobre tarifas e eventuais acordos comerciais.

Pimentel disse que, como não há um pedido específico dos EUA, o Brasil precisa mapear “todos os acordos” já firmados por Washington, identificar elementos aplicáveis ao país e avaliar o que pode servir para uma negociação mais ampla.

Segundo ele, diferentemente de vários países asiáticos que firmaram entendimentos com Washington, o Brasil não se enquadra na lógica que norteou o governo Donald Trump ao adotar medidas tarifárias para tentar reduzir déficits bilaterais.

— A maioria dos países da Ásia com os quais os americanos fizeram um acordo tem um grande déficit. Eles estão no foco do pensamento do presidente Trump, que era resolver o déficit através da imposição de tarifas e negociação. O Brasil é um dos poucos países de grande importância com déficit expressivo com os EUA. Pela lógica, a gente estaria fora do escopo dos países asiáticos.

Pimentel afirmou que apenas dois países com superávits frente aos EUA negociaram acordos recentemente: o Reino Unido, em um modelo “bastante diferenciado”, e a Argentina, em um acordo ainda sem detalhes, em fase inicial e em “condições muito especiais”, com apoio financeiro e um conjunto de ações específicas.

— A gente fica vendo quais desses se enquadram melhor no que o Brasil precisa e no que o Brasil pode esperar — disse.

Para ele, é fundamental aproximar o Brasil das condições obtidas por países que já têm superávit com os americanos, sem ignorar que Washington apresenta interesses variados conforme o parceiro.

— Quanto mais perto a gente chegar dos países com que os EUA têm superávit, melhor. Essa é a lógica econômica, e o Brasil já está inserido nesse universo. Mas há grande diversidade de interesses dos americanos. Em alguns países, o carro-chefe é o investimento: o que você vai investir nos EUA? Em outros, é a regulação normativa — afirmou.

— O Brasil, por estar nessa posição sui generis, devia compor um mapa com tudo que pode fazer, todos os ativos que tem, valorizar muito o superávit deles com a gente em serviços e bens, valorizar nossos investimentos. Pegar tudo o que interessa ao governo americano — e que também nos interessa — para tentar voltar ao diálogo.

Ele também abordou o processo brasileiro na Organização Mundial do Comércio (OMC), onde o país levou sua contestação às tarifas americanas. Disse que o caso foi levado à OMC porque, mesmo combalido, o organismo pode ser uma nova janela para o diálogo.

— Não faz sentido esse tipo de imposição de tarifas em relação ao Brasil. O Brasil está do lado certo das regras comerciais. É uma satisfação mostrar que o Brasil não fez nada errado.

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