Japonesa Softbank acerta compra de US$ 2 bi em ações da americana Intel
Anúncio, que surpreendeu o mercado, ocorre em meio a discussões do governo Trump para adquirir 10% da fabricante de chips
Em meio às discussões do governo americano de adquirir uma fatia da fabricante de chips Intel, a japonês Soft Bank concordou em comprar US$ 2 bilhões em ações da empresa, que tem ficado para trás no setor de chips. O anúncio foi feito na noite de segunda-feira e surpreendeu o mercado.
Com o acordo, a companhia japonesa adiciona a Intel a um portfólio de investimentos que já inclui peças-chave da inteligência artificial, como Nvidia e Taiwan Semiconductor Manufacturing (TSM). Ela pagará US$ 23 por ação — um pequeno desconto em relação ao último fechamento do papel da Intel.
A compra das ações representa uma participação acionária de pouco menos de 2%, disse um porta-voz da Intel. A empresa japonesa se tornará sua sexta maior acionista.
As ações da fabricante americana de chips, que emitirá novos papéis para a SoftBank, dispararam mais de 5% nas negociações pós-fechamento. Já as ações da SoftBank caíram até 5,4% nesta terça-feira na Bolsa de Tóquio, sua maior queda desde abril.
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O governo Trump está em discussões para adquirir uma participação de cerca de 10% na Intel , o que o tornaria o maior acionista da companhia. O plano do governo americano, que converteria subsídios concedidos sob a Lei de Chips e Ciência dos EUA em participação acionária, está em análise.
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A Intel está programada para receber um total de US$ 10,9 bilhões em tais subsídios para produção comercial e militar. A empresa também pode recorrer a até US$ 11 bilhões em empréstimos previstos na lei de 2022.
Esperanças de recuperação da pioneira dos chips
Tanto o governo dos EUA quanto a multinacional japonesa veem potencial de recuperação na Intel, embora provavelmente valorizem partes diferentes do negócio. Para o governo Trump, a recuperação da capacidade produtiva da fabricante de chips ajudaria a gerar empregos e votos. Para a SoftBank, as operações de design de chips da Intel atraem pela promessa de altas margens de lucros.
A SoftBank, que é dona da Arm Holdings Plc, há décadas tenta ser um ator central na inteligência artificial, mas tem sido em grande parte uma espectadora diante do boom global de investimentos em hardware. O progresso tem sido mais lento do que o esperado no Stargate, um empreendimento de US$ 500 bilhões com a OpenAI, a Oracle e o fundo MGX de Abu Dhabi para construir data centers nos EUA.
O plano de Masayoshi Son, fundador e CEO da Softbank, de projetar um chip energeticamente eficiente para competir melhor com a Nvidia por meio do projeto “Izanagi” também ainda não se traduziu em um produto comercializável.
— É difícil ver o quanto esse investimento contribui para o valor da SoftBank ou para os lucros de curto prazo — disse Tomoaki Kawasaki, analista sênior da Iwaicosmo Securities.
Para a Intel, o movimento da empresa com sede em Tóquio representa um forte voto de confiança em uma histórica fabricante de chips dos EUA que tem lutado para se manter relevante no setor de IA.
A Intel busca provar que pode voltar a ser líder em tecnologia após ter ficado atrás da TSMC, na fabricação, e da Nvidia, no design de chips. O CEO da Intel, Lip-Bu Tan, se reuniu com o presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca na semana passada, ajudando a preparar o terreno para discussões sobre medidas para resgatar a Intel, empresa sediada em Santa Clara, na Califórnia.
Depois de pedir a renúncia imediata do CEO da Intel e acusá-lo de ter conflito de interesses, o presidente Trump afirmou que Lip-Bu Tan tem 'história incrível' e que seu gabinete continuará com as discussões com a fabricante.
Tan, por sua vez, afirmou que tem total apoio do conselho da empresa e que entrou em contato com a Casa Branca para esclarecer o que chamou de “informações incorretas” sobre seu histórico profissional.
Para a SoftBank, comprar ações da Intel amplia sua presença nos Estados Unidos, justamente depois de Tóquio ter prometido no mês passado um pacote de investimentos de US$ 550 bilhões nos EUA como parte de um acordo comercial com Washington para redução das tarifas impostas por Trump. Uma fonte do governo japonês com conhecimento das negociações entre os dois paíse, no entanto, indicou que o investimento na Intel não faz parte desse pacote no momento.
Uma outra fonte a par do assunto disse à agência Reuters que a decisão da SoftBank de investir na Intel não está ligada a Trump. Procurada pela reportagem, a Casa Branca não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
Recentemente, a SoftBank fechou um acordo para comprar a fábrica de veículos elétricos da Foxconn Technology em Ohio, em um movimento que pode dar início ao projeto Stargate. Isso acontece enquanto algumas das maiores empresas da Ásia, incluindo a TSMC e a Samsung Electronics, reiteram planos de gastar bilhões de dólares em fábricas nos EUA.
Mas o momento do acordo — dias após a reunião entre Trump e o CEO da Intel — está gerando temores de que a política possa ter desempenhado um papel relevante no negócio.
— Se for político, então não é motivado pelo lucro — disse Amir Anvarzadeh, estrategista de ações japonesas da Asymmetric Advisors. — Investir na Intel para agradar Trump talvez não seja visto como um bom negócio.
Ao anunciar seu investimento na Intel, a SoftBank prestou homenagem à história da pioneira dos chips.
“Por mais de 50 anos, a Intel tem sido uma líder confiável em inovação”, disse Masayoshi Son em um comunicado. “Este investimento estratégico reflete nossa convicção de que a fabricação e o fornecimento avançados de semicondutores continuarão a se expandir nos Estados Unidos, com a Intel desempenhando um papel fundamental.”
O CEO da Intel, Tan, um veterano da indústria de chips que assumiu o comando em março deste ano da fabricante americana, já havia investido em startups ao lado de Son e passou anos no conselho da SoftBank como diretor independente antes de renunciar em 2022.
— Agradeço a confiança que ele depositou na Intel com este investimento — disse Tan.
Várias rodadas de conversas
Nas semanas que antecederam o anúncio de que a companhia japonesa investiria US$ 2 bilhões em ações do grupo americano, Son e Tan mantiveram conversas sobre a compra da vacilante divisão de fabricação de chips por contrato da empresa, informa o jornal britânico Financial Times.
Os dois executivos vinham se reunindo desde a nomeação do CEO da Intel em março, para discutir um possível acordo, segundo várias pessoas com conhecimento das negociações, enquanto a empresa americana tenta encontrar uma solução para sua avançada unidade de fabricação de chips, que tem dificuldades para competir com a TSMC.
As conversas foram amplas e poderiam ter levado a múltiplos desfechos, incluindo joint ventures com terceiros ou um investimento minoritário semelhante ao anunciado na segunda-feira, acrescentou o FT. No entanto, duas dessas fontes disseram que o anúncio não exclui um acordo maior no futuro envolvendo o chamado negócio de fundição da Intel. SoftBank e Intel, no entanto, se recusaram a comentar.
A Intel tem enfrentado dificuldades para atrair clientes para sua fundição de chips desde que o antecessor de Tan, Pat Gelsinger, anunciou em 2021 que abriria o negócio para clientes externos. A decisão envolveu investir bilhões de dólares em novas fábricas na esperança de que clientes apareceriam. Os custos desses projetos, somados às finanças problemáticas da Intel, levaram Tan a alertar que pode retirar a empresa dos processos de fabricação de chips mais avançados.
De acordo com a reportagem do FT, o negócio de fundição da Intel ofereceria a Trump uma forma de manter capacidade de produção avançada de chips nos EUA como contrapeso à dominância da TSMC e daria a Son outro componente-chave em seus ambiciosos planos para inteligência artificial.
Atualmente, a TSMC produz a esmagadora maioria dos chips mais avançados do mundo. Embora grande parte da fabricação ocorra em Taiwan, a empresa tem investido em novas instalações no estado americano do Arizona, que já começaram a produzir chips para Nvidia e Apple.
O jornal acrescenta que a compra da fundição da Intel atenderia aos planos de Son de construir uma infraestrutura completa de IA que inclui robótica, energia e fabricação de chips. O CEO da SoftBank já possui participações na OpenAI e na Nvidia e é a força motriz por trás do projeto Stargate. No mês passado, a Arm, controlada pela SoftBank e responsável por criar e licenciar projetos de semicondutores, confirmou que estava explorando a ideia de lançar seus próprios chips.
E mais: a SoftBank manteve conversas com a Intel no ano passado sobre a produção de um chip de IA, mas o plano fracassou depois que a fabricante americana não conseguiu atender às exigências do grupo japonês.
Citando fontes, o Financial Times ressalta que o fundador da SoftBank tem visitado os EUA a cada duas semanas e construiu uma conexão pessoal próxima com Trump. Son e Trump apareceram juntos em janeiro para anunciar o projeto Stargate de data centers de US$ 500 bilhões. Procurados pela reportagem, a Casa Branca e o Departamento de Comércio dos EUA não responderam a pedidos de comentário.

