Ministro da Agricultura do Japão renuncia após ironizar escassez de arroz no país
"Nunca comprei, meus apoiadores me dão", disse ele
O ministro da Agricultura do Japão renunciou nesta quarta-feira em meio à comoção causada pela declaração de que "nunca havia comprado um saco de arroz" — o grão básico da alimentação japonesa, atualmente em falta no país.
O comentário chamou ainda mais atenção para a incapacidade de o governo de resolver a escassez de arroz, que fez disparar o preço de um alimento consumido por quase todas as famílias japonesas. Os preços continuam altos, mesmo após a liberação de milhares de toneladas de arroz dos estoques emergenciais do governo.
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A frustração veio à tona depois que o ministro da Agricultura, Taku Eto, fez o comentário de forma casual no domingo.
— Nunca comprei arroz para mim mesmo — disse Eto durante um discurso sobre a política agrícola: — Francamente, meus apoiadores me dão bastante arroz. Tenho tanto arroz em casa que poderia até vender.
A escassez foi atribuída a políticas antigas, criadas para proteger pequenos agricultores, que impedem novos produtores de comprar ou usar terras agrícolas, deixando milhares de hectares sem cultivo. Tentativas de mudar o sistema têm sido barradas pela cooperativa agrícola nacional e por outros interesses rurais, que são firmes apoiadores do governista Partido Liberal Democrata.
Preço alto
Isso colocou o primeiro-ministro Shigeru Ishiba em uma situação difícil. Eleitores urbanos têm se irritado com os preços elevados e a falta do produto, o que por vezes levou à imposição de racionamento em supermercados. A questão derrubou ainda mais os índices de aprovação já baixos de Ishiba, em queda às vésperas das eleições para a câmara alta do Parlamento, previstas para julho.
Eto foi imediatamente criticado por sua declaração, que passou a imagem de alguém alheio à realidade, justamente quando o Japão começa a sentir, ainda que em pequena escala, os tremores do populismo que abalam outras democracias avançadas.
“Não precisamos de um ministro da Agricultura que não compreende a visão dos consumidores ou dos produtores”, disse Kazuya Shimba, secretário-geral do Partido Democrático pelo Povo, uma sigla populista de direita.
Embora Eto tenha se desculpado rapidamente, a reação negativa só aumentou. Aproveitando a oportunidade política, partidos da oposição intensificaram a pressão, ameaçando apresentar uma moção de censura contra o ministro no Parlamento. O escândalo se tornou um peso para Ishiba, cujos índices de aprovação caíram para pouco mais de 20%.
“Se a confusão causada por sua declaração continuasse, afetaria a implementação das políticas agrícolas”, disse Ishiba na quarta-feira, ao explicar a decisão de Eto de renunciar.
Ressaltando a importância política de conter a crise, Ishiba anunciou que havia convidado um dos jovens nomes em ascensão do Partido Liberal Democrata, Shinjiro Koizumi — filho carismático de um ex-primeiro-ministro — para substituir Eto.

