Por que a JBS entrou na mira do governo Trump em meio à alta no preço da carne nos EUA?
Presidente americano determina investigação sobre conluio. Casa Branca cita gigante brasileira e outras três empresas que, juntas, respondem por 85% do abate de gado nos Estados Unidos
Uma investigação do Departamento de Justiça sobre as maiores empresas de processamento de carne do país por conluio e manipulação de preços tem o potencial de reestruturar as indústrias de gado e carne bovina. No entanto, tentativas anteriores de enfraquecer o domínio desses frigoríficos não tiveram sucesso, aponta reportagem do The New York Times.
A Casa Branca pediu uma apuração das práticas dos frigoríficos após o presidente Donald Trump, em uma postagem nas redes sociais na sexta-feira, acusá-las de inflar artificialmente os preços e colocar em risco o abastecimento alimentar do país.
“Estou pedindo ao Departamento de Justiça que aja com rapidez”, publicou Trump na sexta-feira em suas redes sociais. “Medidas devem ser tomadas imediatamente para proteger os consumidores, combater monopólios ilegais e garantir que essas corporações não estejam lucrando de forma criminosa às custas do povo americano.”
Um comunicado oficial da Casa Branca mencionou especificamente as empresas JBS, Cargill, Tyson Foods e National Beef como alvos da investigação. Juntas, essas companhias abatem 85% do gado dos Estados Unidos e a maior parte dos suínos.
Trump pareceu atribuir a culpa às empresas de capital estrangeiro, o que fez as ações da JBS, maior processadora de carne bovina do mundo, caíram até 6,2% nas negociações após o fechamento do mercado na sexta-feira. A subsidiária de frango da companhia, a Pilgrim’s Pride, doou US$ 5 milhões ao comitê de posse de Trump.
A Smithfield Foods, produtora de carne suína controlada majoritariamente pelo grupo WH Group, com sede em Hong Kong, também registrou queda, enquanto a Tyson Foods chegou a cair até 2%, antes de se recuperar.
A procuradora-geral Pam Bondi afirmou que uma investigação, liderada pela divisão antitruste do Departamento de Justiça, já está em andamento.
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Pecuaristas há muito tempo reclamam que os quatro grandes frigoríficos concentram poder excessivo. Eles destacam dados que mostram que, ao longo da última década, os preços da carne bovina no varejo subiram, enquanto o valor pago pelo gado caiu, permitindo que intermediários como os abatedouros ficassem com uma parcela maior dos lucros.
“Apoiamos essa investigação para garantir que os produtores de gado recebam preços competitivos por seus animais e que os consumidores paguem valores definidos por um mercado competitivo, e não por um monopolista”, disse Bill Bullard, diretor-executivo do Ranchers-Cattlemen Legal Action Fund, em comunicado divulgado na sexta-feira.
Procuradas pelo NYT, as empresas JBS, Cargill, Tyson Foods e National Beef não responderam aos pedidos de comentário.
Segundo o Departamento de Estatísticas do Trabalho dos EUA (BLS, na sigla em inglês), o preço da carne moída chegou a US$ 6,32 por libra em setembro, um aumento de mais de 11% em relação ao ano anterior. Os preços da carne bovina no atacado, que vêm disparando nos últimos anos, aumentaram 16% em 2025, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).
A maioria dos economistas aponta o rebanho bovino americano — que encolheu para o menor nível em sete décadas, em parte devido às secas — como a principal causa dos altos preços da carne.
Além disso, o tarifaço imposto pelos EUA ao Brasil afetou as vendas de carne brasileira no mercado americano.
A abertura da investigação pode acalmar críticos de Trump entre pecuaristas e agricultores. Embora a América rural tenha votado majoritariamente nele na última eleição presidencial, muitos se tornaram mais críticos à medida que sua guerra comercial reduziu os preços das commodities agrícolas e seu governo destinou US$ 40 bilhões para socorrer a Argentina, uma concorrente agrícola dos EUA.
Trump também culpou os pecuaristas pelos altos preços da carne bovina, o que provocou queda nos preços do gado nos leilões — embora o preço da carne no varejo continue subindo.
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No fim do primeiro mandato de Trump, o Departamento de Justiça abriu uma investigação antitruste sobre a indústria de processamento de carne. Seu sucessor, Joe Biden, deu continuidade à iniciativa, mas nunca chegou a abrir um processo judicial.
Em 2022, Biden lançou uma iniciativa para permitir que produtores denunciassem práticas comerciais desleais por parte da indústria. Os frigoríficos há muito tempo enfrentam críticas por sua alta concentração de mercado e já pagaram centenas de milhões de dólares para encerrar processos por manipulação de preços e violações antitruste.

