Risco de desabastecimento de chips para a indústria automotiva ainda não está zerado, diz Anfavea
Mesmo com retomada das exportações de fabricante chinesa, ritmo ainda é lento
A crise no fornecimento de chips para a indústria automotiva começa a se normalizar com a retomada das exportações da Nexperia, fabricante chinesa, mas o risco de desabastecimento ainda existe, alertou o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Igor Calvet.
A informação que a Anfavea tem neste momento é de que há uma retomada lenta e gradual na exportação desses semicondutores. Há cerca de três semanas, a entidade alertou sobre a possibilidade de desabastecimento, já que os estoques naquela data eram suficientes para duas semanas.
— A gente não pode dizer que o mercado (de chips) está normalizado. Eu acho que diminuiu o risco com as ações que foram tomadas pelo governo chinês, mas como o processo (de retomada das exportações) é lento e gradual, acho que a vigilância nos impele a continuar monitorando semana após semana, se não diariamente essa questão. O risco está zerado? Não, o risco não está zerado — disse Calvet durante coletiva da Anfavea, realizada em Belém, onde acontece a COP30, para apresentar os dados de produção e vendas do mês de outubro.
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Calvet lembrou que as empresas do setor seriam afetadas de maneira diferente. Algumas tinham mais estoque, algumas usavam mais os chips da Nexperia. Portanto, disse o executivo, a queda ou paralisação da produção não aconteceria de maneira simultânea por todas as empresas.
— Fica a impressão de que o setor todo pararia ao mesmo tempo, o que não é uma verdade, porque você tem planejamentos de produção diferentes em cada uma das empresas. Mas como um todo, o setor sofreria bastante em algumas semanas — disse.
Calvet afirmou que a luz amarela acendeu quando empresas associadas à entidade começaram a ser notificadas pelos fornecedores de que a exportação desses semicondutores não chegaria ao Brasil. Ele contou que a Anfavea entrou em comtato com o ogverno brasileiro e com o governo chinês e que houve avanços. Há uma semana, o governo chinês informou que as empresas brasileiras do setor automotivo teriam um "fast track" (aceleração) para a liberação desses semicondutores. E que as empresas que atuavam no Brasil com fábricas na China também teriam uma facilidade para a exportar esses semicondutores.
— Conversei com algumas empresas na última semana, e a informação é que as exportações estão chegando lentamente — explicou Calvet que entretanto não soube avaliar se houve algum impacto na produção, já que cada empresa tinha seus próprios estoques.
— Não conseguimos fazer isso (estimar o impacto na produção), mas o relato de todos é de que nós tínhamos poucas semanas para agir e resolver o problema sob pena de termos paralisaçõe — disse.
A crise no fornecimento de chips teve início após a escalada de um conflito diplomático entre a Holanda e a China envolvendo a fabricante de chips Nexperia. A tensão começou quando o ministro holandês da Economia, Vincent Karremans, de 38 anos, decidiu vetar a influência dos acionistas chineses na empresa, sediada em Nijmegen, alegando riscos à segurança nacional. A decisão foi tomada após pressões dos Estados Unidos, que vêm impondo restrições comerciais à Nexperia.
A reação de Pequim foi imediata: o governo chinês bloqueou a comunicação entre a Nexperia e sua fábrica na China, o que já começou a afetar o fornecimento de chips para clientes do setor automotivo no Japão e na Europa
Produção de veículos recua em outubro
Em outubro, a produção de veículos chegou a 247,8 mil unidades, queda de 0,5% em relaão ao mesmo mês de 2024. No acumulado de janeiro a outubro, a produção chegou a 2,2 milhões de unidades, alta de 5,2% em relação ao acumulado de 2024.
Já os emplacamentos, chegaram a 260,7 mil unidades em outubro, queda de 1,6% em relação ao mesmo período do ano passado. No acumulado do ano (até outubro), os emplacamentos chegam a 2,17 milhões frente aos 2,12 milhões do mesmo período do ano passado, alta de 2,2%.
A queda na venda de caminhões, mesmo com perspexctiva de alta safra e crescimento da economia, preocupa a Anfavea. A redução das vendas nos últimos três meses, diz a Anfavea, equivale a quase um mês de produção. Os juros elevados são apontados pela Anfavea como principal fator de retração das vendas no segmento de caminhões.
Entre janeiro e outubro de 2025, a produção de caminhões caiu 7,3% em relação ao mesmo período de 2024, passando de 117,4 mil para 108,6 mil unidades. O emplacamento também registrou retração superior a 8%, de acordo com a entidade.
Embora o cenário geral da indústria automotiva ainda mostre estabilidade na produção de veículos leves, a falta de medidas específicas para o setor de pesados agrava o quadro. Enquanto os carros tiveram algum alívio com o programa Carro Sustentável, lançado pelo governo, o segmento de caminhões ficou sem incentivos, lembra a Anfavea.

