Festas juninas impulsionam pequenos negócios e movimentam economia
Com 342 empreendedores nos polos juninos da cidade, expectativa é de crescimento de até 30% no faturamento em relação a 2024
Os festejos juninos no Nordeste é o período do ano que mais movimenta negócios informais, potencializando a renda dos empreendedores que apostam nas festas. No centro do Recife, por exemplo, a cultura junina toma conta da metrópole e cria oportunidades para geração de renda. Para empreendedores que trabalham nos polos do Recife e os que atuam com venda de itens sob encomenda, a expectativa é de um ciclo junino aquecido e promissor para a economia local.
Os polos da cidade reúnem 342 empreendedores, e a estimativa é de um aumento de até 30% no faturamento total do comércio junino este ano em relação a 2024. De acordo com a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Pernambuco (Fecomércio-PE), 56,1% dos entrevistados pretendem gastar com as festas juninas.
Os pernambucanos devem concentrar seus gastos principalmente em roupas (43%), calçados (21,5%) e acessórios (20,7%), com um ticket médio de R$ 225. Já os gastos com alimentação fora do lar devem atingir uma média de R$ 207 por pessoa durante o período.
Oportunidades
Para o analista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de Pernambuco (Sebrae-PE) Arthur Tavares o ciclo junino representa uma das maiores oportunidades econômicas para pequenos empreendedores, especialmente no Nordeste.
“É uma excelente chance para microempreendedores e trabalhadores informais aproveitarem a alta demanda e, inclusive, pensarem na formalização do negócio, transformando uma oportunidade pontual em algo contínuo ao longo do ano”, destacou.
As festas movimentam uma cadeia variada de produtos e serviços típicos: alimentação, vestuário, turismo e entretenimento — e favorece negócios de saída rápida, segundo ele. Para quem busca empreender com pouco investimento e boas chances de retorno, há diversas estratégias viáveis.
Comércio
Motor de dinamização econômica local, as festividades juninas influenciam o comércio, ajudam o turismo com ocupações hoteleiras; e fomentam serviços variados. De acordo com dados da Secretaria de Turismo e Lazer da Prefeitura do Recife, são registrados 15 voos extras no período, e isso acaba se refletindo na ocupação hoteleira da cidade.
Em 2024, a ocupação foi de 63%. A estimativa para este ano é de 65% dos leitos ocupados, aumentando o fluxo de turistas e, consequentemente, de consumidores. “A geração de trabalho temporário é diversificada, beneficiando também pessoas sem registro formal, pequenos negócios e microempreendedores, que é uma característica muito própria do Recife”, afirmou o secretário municipal de Desenvolvimento Econômico, Carlos Andrade Lima.
De acordo com o Sebrae-PE, a área de alimentação é uma das mais promissoras, com a venda de comidas típicas feitas em casa ou comercializadas em barraquinhas montadas na calçada, especialmente em ruas de maior circulação.
“Você não precisa, necessariamente, morar em uma via movimentada, mas isso ajuda. Incorporar um serviço de delivery (entrega), por exemplo, com o uso de plataformas como o iFood, pode ampliar o alcance das vendas, desde que se leve em conta a precificação ajustada para cobrir as taxas da plataforma”, orientou.
Ponto
Outra possibilidade é utilizar barracas móveis ou conseguir um ponto em feiras e eventos locais. O mês de junho não é só chance para quem está começando, mas também um reforço de peso para quem já empreende.
A confeiteira Lilian Bezerra, de 50 anos, aproveita a temporada para turbinar as vendas e ampliar o alcance do negócio com os sabores típicos das festas. Pelo terceiro ano consecutivo, ela é um dos empreendedores que participam da Vila Junina do polo da Avenida Rio Branco, no Recife Antigo.
O carro-chefe do quiosque de Lilian são a torta do prefeito, que leva flor de sal, amendoim e cocada cremosa, e o bolo pé de moleque. “Não tenho como mensurar exatamente o faturamento deste ano porque os produtos aumentaram, né? Mas com certeza será mais que no ano passado, já que trabalho com variedades e acaba saindo muito”, informou Lilian.
Lilian aposta no bolo de pé de moleque para turbinar as vendas. Foto: Paullo Allmeida. Mesmo sendo um período sazonal, o ciclo junino exige de empreendedores um plano básico que envolva custos, metas de vendas e estratégias de divulgação, lembrou o analista do Sebrae-PE Arthur Tavares.
“Investir em marketing, mesmo que simples e rápido, pode fazer toda a diferença. Criar uma conta em redes sociais, usar listas de transmissão no WhatsApp e apostar no boca a boca são ações de baixo custo que ajudam a alcançar mais clientes”, aconselhou.
O especialista lembra que ferramentas de design gráfico, como o Canva, e de inteligência artificial (IA), como ChatGPT, Copilot e Gemini, podem auxiliar na criação de identidade visual e conteúdo de forma prática e gratuita. “Outra dica é considerar parcerias com outros empreendedores para dividir espaços em feiras ou eventos, ampliando o alcance e reduzindo custos”, destacou.
Moda
No setor de moda, a venda ou aluguel de roupas e acessórios juninos é uma alternativa, principalmente para quem já possui peças em casa ou consegue comprá-las a preços acessíveis. “Quem não quiser produzir, pode começar como afiliado, representando marcas ou costureiras locais”, acrescentou o analista do Sebrae-PE.
As peças produzidas pelas mãos dos artesãos pernambucanos, entretanto, têm um potencial especial de venda, tanto para turistas em busca de lembranças da festa quanto para os pernambucanos que desejam estilizar o visual e entrar no clima das celebrações juninas.
Para isso, quem vem curtir as festas juninas no Recife Antigo tem à disposição os acessórios e roupas dos artesãos Elizabeth Dantas e Natanael Santana, que dividem a barraca do Programa de Apoio ao Desenvolvimento do Artesanato do Recife (Prodarte).
As expectativas da artesã Elisabeth Dantas, de 39 anos, que pela primeira vez participa da programação junina como empreendedora, são animadoras. Para isso, ela se baseia na experiência anterior do Carnaval deste ano. “Acredito que o faturamento será mais ou menos o mesmo”, disse. Com produtos que variam de R$ 30 a R$ 130 e que incluem acessórios (tiaras, chapéus, sandálias), Elizabeth aposta que os adornos vão ser os mais procurados. “Flor de cabelo e tiara são os que mais saem. As pessoas adoram se enfeitar para a festa”, afirmou.
Aposta
Já o artesão Natanael Santana, de 70 anos, estima um faturamento entre R$ 6 mil e R$ 8 mil. Ele, que participa pelo terceiro ano consecutivo da Vila Junina, também está otimista com as vendas. “Estou apostando que 2025 seja bem melhor. O ano passado foi regular”, comentou.
Artesão, Natanael pretende faturar de R$ 6.000 a R$ 8.000. Foto: Paullo Allmeida. Com peças que custam entre R$ 85 e R$ 120, Natanael aposta nas camisas com estampas temáticas do Nordeste. “Luiz Gonzaga, a nossa vegetação, Lampião, Maria Bonita. Essas são as estampas que eu estou trabalhando, que, aliás, já vêm saindo desde o fim do carnaval."


