Shopee é a plataforma de e-commerce mais usada entre moradores de favelas, diz pesquisa
Impulsionado pela força no segmento da moda, marketplace de Singapura está a frente do argentino Mercado Livre, mostram dados do Instituto Data Favela
Quando compram pela internet, apesar de enfrentarem entraves para a chegada do produto até a porta de casa, os moradores das favelas brasileiras elegem a Shopee como a plataforma de e-commerce favorita, seguida pelo Mercado Livre.
O domínio está ligado ao foco da marca de Singapura na área vestuário, segundo pesquisa do Instituto Data Favela divulgada nesta sexta-feira (18).
O instituto ouviu 16,5 mil pessoas nas favelas. O Brasil tem aproximadamente 12,3 mil aglomerados desse tipo, com 17 milhões de moradores e 6,6 milhões de domicílios, o equivalente a 8% dos lares brasileiros. Segundo os dados, essa fatia da população têm uma renda total de R$ 300 bilhões ao ano.
Os dados apontam que 60% dos moradores das comunidades brasileiras possuem o hábito de comprar produtos pela internet. Entre os entrevistados, 70% disseram que pretendem comprar itens de vestuários nos próximos seis meses, enquanto 60% devem adquirir perfumes e 51%, produtos de beleza.
Leia também
• Receita Federal realiza leilão com eletrônicos e veículos em Pernambuco e na Paraíba
• Mais de meio milhão de beneficiários já aderiram ao acordo de ressarcimento dos descontos do INSS
• Favelas têm renda total de R$ 300 bi por ano e 90% dos moradores estão otimistas com o futuro
— (A posição da Shopee no ranking) tem a ver com portfólio, mais ligado a roupas do que o Mercado Livre, com a Shien logo ali (próxima) — diz o fundador do Data Favela, Renato Meirelles.
Professor de marketing da FGV e diretor da consultoria Canal Vertical, Roberto Kanter elenca ainda outros motivos para a liderança da Shopee neste segmento.
— A Shopee traz uma gamificação, um lado lúdico que as pessoas adoram — diz Kanter. Ele se refere aos jogos que existem dentro do aplicativo do marketplace que distribuem cupons aos consumidores. A Shopee foi criada pelo singapurense Forrest Li, também responsável pela empresa de jogos Garena, dona de hits como o jogo de tiro Free Fire.
Dados de um estudo do banco americano Citi divulgados em janeiro apontavam a Shopee na liderança em usuários ativos mensais no Brasil em dezembro de 2024. A empresa teve naquele mês 50 milhões de usuários ativos mensais; em segundo lugar aparecia a novata Temu, com 39 milhões de usuários; e em terceiro o Mercado Livre, com 37 milhões.
Mas 40% dos entrevistados disseram que ainda não utilizam plataformas de e-commerce. Eles narram problemas ao adquirirem produtos pela internet, como encomendas entregues com atraso, ou produtos que não chegam porque a empresa não conseguiu encontrar o endereço.
Segundo o Data Favela, os hábitos de consumo dessa camada da população são também ligados à expressão de um sentimento de conquista e prosperidade financeira.
78% dos entrevistados relataram que se esforçam para comprar produtos que não teve acesso quando era mais jovem e 85% narram um sentimento de realização ao economizarem e atingirem a meta de adquirir determinado item.
Em outra seara, o consumo também é acompanhado de sentimentos de frustração e exclusão. 50% dos entrevistados disseram que já se sentiram constrangidos ou humilhados por não possuírem produtos “da moda” ou não usarem alguma marca em alta.
— O hábito de consumo é a grande diversão nas classes C e D. A alta satisfação, a conversão da dificuldade da vida para um momento de compensação através do consumo — diz Kanter.

