Clínica Desenvolver: pioneirismo na integração entre clínica, escola e família
Desde 2005, a instituição idealizada por Natalia Spinelli promove desenvolvimento integral, autonomia e dignidade aos seus pacientes e familiares
“A inclusão não pode ficar restrita ao papel. Ela precisa se concretizar no cotidiano escolar, em ações que acolham, respeitem e deem condições reais de aprendizado aos estudantes.” A frase da fonoaudióloga Natalia Spinelli, fundadora da Clínica Desenvolver, resume o desafio que ela e sua equipe enfrentam diariamente: transformar a inclusão escolar em realidade com um trabalho estruturado, científico e em constante diálogo com famílias e instituições de ensino.
Criada em 2005, inicialmente como Centro de Desenvolvimento Infantil Natalia Spinelli (Cdins), a clínica nasceu com o objetivo de atender crianças com ou em risco de atraso de linguagem, dificuldades de aprendizagem, transtorno do espectro autista, entre outras condições que demandam apoio especializado. Sob o nome Clínica Desenvolver, desde 2017, a instituição reúne hoje um corpo interdisciplinar que integra Psicologia, Psicomotricidade, Psicopedagogia, Fonoaudiologia, Fisioterapia, Terapia Ocupacional, Assistência terapêutica clínica, domiciliar e escolar.
A Desenvolver trabalha a ciência ABA - Applied Behavior Analysis (Análise Comportamental Aplicada), tendo como base para todas as terapias a metodologia Hanen, a qual, busca capacitar pais e cuidadores para a obtenção de melhores resultados e generalização para todos os ambientes.
Com duas décadas de experiência e centenas de histórias de transformação, Natalia Spinelli acredita que o papel da Desenvolver é ser ponte entre a ciência, a família e a escola. “O nome da clínica tem esse sentido: desenvolver pessoas em todos os contextos. Os pacientes em primeiro lugar, mas também suas famílias, as escolas e os profissionais. Quando todos se engajam, o resultado é muito maior do que apoio. É vida em movimento, é inclusão de verdade”, ressalta.
O elo
Um dos pilares da Desenvolver é o engajamento da família no processo terapêutico. “Aqui, a gente não funciona como creche. Não permitimos que os pais apenas deixem as crianças. Eles precisam participar”, enfatiza Natalia. Para isso, a clínica disponibiliza um lounge equipado para que responsáveis possam acompanhar as sessões mesmo em meio às demandas do trabalho remoto.
O cuidado também se estende à gestão interna: cada paciente é acompanhado por uma supervisão e coordenação clínica responsáveis por integrar os objetivos entre seis ou sete especialidades diferentes.
“Prefiro falar em trabalho transdisciplinar. Multidisciplinar é cada um no seu quadrado. Transdisciplinar significa olhar para o mesmo paciente e construir objetivos em comum. É o que garante consistência”, explica. Nesse processo, o papel da escola se torna central. É um dos ambientes que o acompanhante terapêutico (AT) atua, generalizando o que foi aprendido na clínica e em casa. “A escola é solo fértil para aprendizagens. O AT vai muito além do apoio pedagógico: ele é um profissional treinado para trabalhar programas específicos, sempre supervisionado por analistas do comportamento”, reforça a fonoaudióloga.
A fonoaudióloga Natalia Spinelli, fundadora da Clínica Desenvolver | Felipe Ribeiro/Folha de PernambucoO acompanhante terapêutico surgiu na Argentina, nos anos 1960, em hospitais psiquiátricos. No Brasil, chegou nos anos 1980, alinhado às práticas da Análise do Comportamento Aplicada. “Muita gente ainda confunde o AT com uma assistente de sala. Não é. Ele tem um papel clínico, não pedagógico. Sem a organização comportamental, o aluno não aprende. O AT garante a generalização dos objetivos trabalhados na clínica para o ambiente escolar”, detalha Natalia.
Esses profissionais vêm de diferentes áreas: psicologia, pedagogia, terapia ocupacional ou psicopedagogia, sempre com especialização em ABA e protocolos de avaliação. “O fundamental é a formação continuada e o treinamento intensivo. Nossos ATs são escolhidos a dedo, porque precisam lidar com a coleta de dados, execução de programas, e também com situações desafiadoras, sendo às vezes mal interpretados em ambientes diversos”, ressalta.
Inclusão
Para que esse trabalho funcione, a parceria com as escolas é essencial. A Desenvolver criou protocolos de atuação e promove encontros de capacitação com essas instituições. “Costumo dizer que plantamos sementes. O professor continua sendo o referencial de sala de aula. O At faz intervenções mediante necessidade comportamental. Precisa ser uma parceria e todos ganham com isso e desenvolvem. Mas quando ele vê as estratégias aplicadas pelo AT, começa a perceber novas formas de acessar o aluno. Muitos se encantam a ponto de se tornarem ATs depois”, conta.
Essa relação, explica Natalia, deve ser construída com respeito. “O professor continua sendo a referência em sala de aula. O AT não substitui, mas apoia, sempre com o objetivo de reduzir gradualmente a dependência da criança. É um meio, não um fim”, defende.
Hoje, a clínica atua em parceria com centenas de escolas, sendo quase 50 com presença regular de acompanhantes terapêuticos. Em todas, a inserção segue protocolos claros: a avaliação inicial é feita na clínica, os objetivos são traçados pela equipe multidisciplinar e, após treinamento e vínculo estabelecido, o AT é introduzido na rotina escolar.
Desafio
Apesar dos avanços conquistados, a fundadora da Clínica Desenvolver reconhece que ainda existem obstáculos importantes a serem superados. Um deles é a ausência de regulamentação da profissão de acompanhante terapêutico no Brasil. Os planos de saúde não cobrem esse serviço, já que a ANS não considera como serviço de saúde.
A inclusão social após a fase escolar também permanece como um grande desafio. Por isso, a busca pela autonomia continua sendo o foco central do trabalho desenvolvido na clínica. “Nosso maior objetivo é que a criança seja funcional, adaptada e consiga se inserir na sociedade”, afirma. Ela acompanha alguns pacientes desde a infância e hoje se vê diante do desafio de ajudá-los nos próximos passos da vida adulta.


