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Descarbonização: tecnologia a favor do clima

Mecanismos de Captura, Armazenamento e Transporte de Carbono (CCS) evitam que o CO2 produzido pelo homem se acumule na atmosfera, impactando o clima

Queima de combustíveis fósseis libera CO2, um dos responsáveis pelo aquecimento globalQueima de combustíveis fósseis libera CO2, um dos responsáveis pelo aquecimento global - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A queima de combustíveis fósseis libera dióxido de carbono (CO2), um dos responsáveis pelo aquecimento global. O processo é essencial para gerar energia, mas tem impacto no clima. Diante desse desafio, a descarbonização torna-se estratégica. 

Tecnologias de Captura, Armazenamento e Transporte de Carbono (CCS) evitam que o gás chegue à atmosfera, contribuindo para conter as mudanças climáticas e permitindo a geração de créditos de carbono, o que pode estimular a adesão da indústria e acelerar a transição para a economia limpa.

O CO2 é capturado por diferentes métodos e, após o transporte, é comprimido e injetado em formações geológicas profundas para armazenamento de longo prazo. 

Embora tenha metade da matriz energética composta por fontes renováveis, em contraste com o cenário global, onde predominam as não renováveis, o Brasil tem potencial para capturar até 200 milhões de toneladas de dióxido de carbono (MtCO2) anualmente, segundo a CCS Brasil. Em Pernambuco, sexto estado que menos emitiu gases de efeito estufa em 2023, podem ser capturadas cerca de 550 mil toneladas de CO2 por ano. 

A cofundadora da CCS Brasil Nathalia Weber explica que o conjunto de tecnologias CCS (ou CCUS, quando se aplica o uso do CO2 capturado) é desenvolvido há décadas, mas foi ressignificado quando a sociedade passou a buscar metas de neutralidade de carbono.

“CCS serve para reduzir as emissões para qualquer uso de combustível fóssil e para remover CO2 da atmosfera quando aplicamos à captura direta do ar ou à bioenergia”, diz Nathalia. “Precisamos de uma solução definitiva que lide com a larga escala que não conseguimos evitar. A solução é a injeção em reservatórios geológicos”, afirma.

"Precisamos de uma solução definitiva que lide com essa larga escala que a gente não consegue evitar", diz Nathalia Weber, cofundadora da CCS Brasil | Foto: CCS Brasil/Divulgação

Potencial
A diretora de Estudos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Heloisa Borges, diz que Pernambuco reúne condições favoráveis para o desenvolvimento de CCS. “O estado se destaca pela proximidade entre grandes emissores e possíveis sítios de armazenamento geológico, especialmente na região de Suape; matriz energética limpa; e ambiente acadêmico e institucional ativo”, afirma.

Essas características reduzem custos, aumentam a atratividade de investimentos e posicionam o estado como potencial polo nacional de descarbonização. “Pernambuco tem essa confluência de fontes emissoras, inclusive de produção de etanol, com bacias sedimentares. É a combinação que a gente precisa”, resume Nathalia.

Professora de Geologia e Vulcanologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Carla Barreto investiga o potencial das rochas vulcânicas da Suíte Magmática Ipojuca, na região de Suape, onde há emissões significativas, para armazenamento geológico de carbono.

O CO2 injetado em formações rochosas no subsolo reage com minerais presentes nas rochas e forma minerais carbonatados estáveis. “Esse processo transforma o CO2 gasoso em um sólido estável, imobilizado permanentemente na estrutura mineral da rocha, eliminando o risco de vazamento e proporcionando uma forma segura e natural de remoção de carbono da atmosfera”, explica. “Ao se tornar parte da própria rocha, o CO2 deixa de ser um risco ambiental.”

Heloisa Borges“O estado se destaca por três fatores: proximidade entre grandes emissores e possíveis sítios de armazenamento geológico, matriz energética limpa, e ambiente acadêmico e institucional ativo”, destaca Heloisa Borges,
Diretora de Estudos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis da EPE | Foto: EPE/Divulgação

Pioneirismo
O Brasil tem projetos pioneiros em CCS em operação e outros em fase avançada para implantação. “A tecnologia de maior destaque é a injeção de CO2 para recuperação aprimorada de petróleo, adotada desde os anos 1990 pela indústria de óleo e gás”, descreve Heloisa.

É na Bacia de Santos (SP) que a Petrobras desenvolve a recuperação de petróleo, que responde por 28% de toda a capacidade de armazenamento das operações no país. “É o maior projeto de CCUS do mundo. Ele injeta o CO2 em reservatórios de petróleo e isso melhora a produção do óleo, torna a produção mais eficiente”, diz Nathalia.

“Nosso compromisso é garantir que o Brasil esteja preparado para aproveitar de forma soberana, segura e estratégica o potencial dessa tecnologia”, finaliza Heloísa.

Para tornar a tecnologia viável, é preciso haver uma infraestrutura dedicada ao transporte de CO2. “O Brasil tem um potencial imenso para CCS, que é limitado, na verdade, pelo volume que a gente emite. Tem muito mais lugar para guardar do que CO2 sendo emitido. Nós precisaríamos, sim, desenvolver essa infraestrutura”, arremata Nathalia Weber.

A engenheira ainda defende que é preciso haver um trabalho conjunto de compreensão sobre potenciais e a formulação de políticas públicas, que, de fato, vão criar incentivos para os setores industriais.

“Ao se tornar parte da própria rocha, o CO2 deixa de ser um risco ambiental”, diz Carla Barreto, professora de Geologia e Vulcanologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) | Foto: Adriano Rodrigo

Permanente
A engenheira da CCS Brasil lembra que captura e armazenamento de carbono é uma solução permanente e indispensável para enfrentar a crise climática. Setores como cimento e siderurgia ainda dependem do carbono e substituir esse insumo em larga escala é inviável com as tecnologias atuais. Por isso, Nathalia defende a urgência em desenvolver infraestrutura, reforçando que a CCS será parte essencial da transição para uma economia de baixo carbono.

“CCS não é transitório. Mesmo que a gente consiga parar amanhã de emitir qualquer molécula de CO2 para a atmosfera, ainda assim nós vamos precisar passar anos tirando. Precisamos de carbono e carbono vem de combustível fóssil ou de biomassa, mas eu precisaria plantar três Brasis inteiros para substituir uma siderúrgica de coque de carvão por biomassa. É inviável”, conclui.

Para a professora Carla Barreto, a discussão sobre o armazenamento de carbono é urgente e necessária. “Este método representa uma solução segura e durável, fazendo com que seja uma tecnologia-chave para o futuro climático do país.”

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