Energias renováveis e o futuro
É preciso insistir na mudança da composição de uma matriz energética, que ainda está impactada pelo peso dos chamados combustíveis fósseis.”
Em nome de um modelo de desenvolvimento que seja, efetivamente, sustentável, as fontes renováveis pedem passagem, quando o assunto é o futuro das matrizes energéticas. De fato, diante de eventos climáticos extremos e muita omissão da sociedade em rever velhos conceitos sobre energia e meio-ambiente (sobretudo, por parte dos agentes públicos), é preciso insistir na mudança da composição de uma matriz energética, que ainda está impactada pelo peso dos chamados combustíveis fósseis. A busca por uma vida mais harmoniosa no planeta, tem-se mostrado como um valor imperioso, uma legítima missão urgente. Nesse sentido, o futuro da humanidade carece de mais apostas em energias renováveis, sem que se perca de vista decisões equilibradas e criteriosas, para que o nível de desenvolvimento se prove como sustentável.
O cardápio de oportunidades das fontes renováveis está dado: hidroelétrica, solar, eólica e biomassa são os principais referenciais. Embora se esteja ainda longe de condições mais amplas e estratégicas, as apostas nessas fontes já estabeleceram algumas tendências importantes, para os próximos 5 anos, aqui e alhures. Isso já revela a assimilação básica de, pelo menos, três lições: a) de ordem econômica; b) de efetiva preocupação com a segurança; c) de grandeza ambiental. No primeiro plano, pela ampla margem de oportunidades de empregos e rendas a ser gerada. No segundo, pela própria diversidade de fontes permitir que a matriz fique menos vulnerável, pelo uso racional, pela estabilidade da política energética e pela minimização das flutuações de preços. Por fim, no terceiro plano, pela regeneração dos recursos naturais e redução da emissão de gases, com suas graves consequências sobre o preocupante efeito estufa.
Se esse discreto avanço ainda está longe do desejado em muitos países, no Brasil os desafios também seguem firmes. Da urgência da transição energética aos investimentos propriamente ditos, há muitos obstáculos ainda para serem superados. Até mesmo o aguçamento de embates ideológicos têm contribuído para que o ritmo da mudança siga mais lento. Exemplos não faltam para serem debatidos e solucionados, dentro da civilidade e consciência desejadas aos protagonistas dessas necessárias mudanças.
Por mais que o Brasil possa ainda se expressar como um país com sistema consolidado de fornecimento de energia que, em larga medida, é garantido pelo estoque natural limpo e renovável das hidroelétricas, o pensar na sustentabilidade exige uma maior amplitude nas estratégias e ações. Afinal, mesmo que tenhamos aí uma diversidade que contribui para algo como 80% de renováveis no bojo da matriz, toda sua capacidade garantidora ainda não é suficiente. De fato, para a agregação de outras fontes renováveis, exige-se superação na condução da política setorial, que me parece ainda ziguezagueante. O desafio das inovações tecnológicas e dos investimentos precisa de ajustamentos e acomodações diante de restrições ambientais e até mesmo impasses burocráticos. Por mais sustentáveis que sejam essas opções, não há como desatrelá-las de situações que carecem de ser revistas.
Um exemplo imediato que logo se coloca à mesa das discussões são os investimentos no convencionalismo renovável das hidroelétricas. Não se trata apenas da ordem de grandeza desses investimentos, em tempos de orçamentos públicos comprimidos. São também dilemas que envolvem a relação custo/benefício, vistos pelas lentes do impacto ambiental. Nesse ponto conflituoso, posta a ponderação técnica, embasada no princípio da sustentabilidade, termina-se por valer, muitas vezes, o enfadonho embate ideológico histérico e estéril. Há como se mitigar, por meio de ações mais sensatas.
Um outro aspecto que revela a dimensão dessa realidade contraditória, está posto, sutilmente, nas contas de luz dos distintos consumidores brasileiros. A título de fortalecer a preocupação com algumas fontes renováveis, os subsídios cobrados são, no geral, anacrônicos. Por um lado, ainda se apoia, com esse instrumento, justo setores alinhados com os combustíveis fósseis. Da mesma maneira que se insiste com concessões e benefícios em áreas como os dos modelos eólicos. Não que essa alternativa seja, inteiramente, descartada. E porque o custo do investimento não só se reduziu, tal e qual sua localização sem estudos mais profundos tem causado, incrivelmente, danos ao próprio ambiente. Mais uma vez, ponderação é algo vital nas tomadas de decisões.
O futuro é agora. O cenário energético exige que se avance nas fontes renováveis. Portanto, insistência com as práticas que ponham no devido equilíbrio o econômico, o social e o ambiental é decisão firme e que não tem volta. Isso porque a sustentabilidade não é mera opção. É questão de sobrevivência humana e, por conseguinte, do próprio planeta.
O melhor do futuro está na percepção da beleza dos sonhos que cada um de nós projeta. No entanto, como diria Einstein, “a gente pode até nem pensar no futuro, mas ele não tarda a chegar”.
* Economista, professor e pesquisador. Foi o quarto presidente de Suape, da Fundação Joaquim Nabuco e ocupou, ainda, cargos distintos de secretário, nas três esferas públicas. É
colunista da Folha de Pernambuco.

