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Usina Petribu: tecnologia com soluções regionais

Referência em inovação no setor sucroenergético, a Usina Petribu desenvolve tecnologias próprias e mostra que o futuro do campo ultrapassa a Zona da Mata

Usina Petribu: tecnologia com soluções regionaisUsina Petribu: tecnologia com soluções regionais - Foto: Divulgação

A Usina Petribu, localizada na zona rural de Lagoa de Itaenga, na Zona da Mata Norte de Pernambuco, está trilhando um caminho inovador no setor sucroenergético, aliando tradição familiar a uma gestão moderna e tecnológica. Com uma tradição secular de história e atualmente na oitava geração de liderança, a empresa é presidida por Daniela Petribú, a primeira mulher a assumir o comando da usina e também a primeira a liderar uma unidade do setor no Brasil.

Em um cenário de mudanças climáticas cada vez mais intensas, adaptar-se às adversidades climáticas deixou de ser uma opção e se tornou uma necessidade para o setor sucroenergético. A usina, localizada em uma região que, embora faça parte da Zona da Mata, zona de transição para o Agreste, tem encarado esse desafio de forma estratégica.

“Dos últimos dez anos, sete foram secos. E não temos como fazer chover. O que fazemos é usar tecnologia para mitigar os efeitos da seca”, destaca a presidente.

Daniela Petribú, presidente da usinaPresidente da Petribu, Daniela Petribú | Foto: Divulgação

Entre as soluções adotadas está a irrigação por gotejamento, que aplica a quantidade de água diária que a cana precisa diretamente no solo, utilizando a água e os insumos agrícolas de forma eficiente e, no momento ideal, de acordo com a necessidade do canavial. Isso evita perdas com chuva e garante que cada planta receba exatamente o que precisa, promovendo o uso racional da água e dos insumos.

Monitoramento
Iniciado em 2019, a empresa implantou um moderno Centro de Operações Agrícolas (COA), que permite monitorar, em tempo real, 100% da frota e dos equipa- mentos agrícolas. O sistema emite alertas, por exemplo, quando um caminhão permanece desligado por tempo acima do normal ou desvia de sua rota.

A inovação também se estende ao combate a incêndios: câmeras com sistema que possui um algoritmo (IA) que monitora a ocorrência de qualquer fumaça identificam focos num raio de até 50 km, permitindo uma resposta rápida e eficaz. “Antes, dependíamos de pessoas em torres com binóculos.Observamos uma maior quantidade de focos, mas reagimos mais rápido, tendo um menor volume de cana incendiada”, explica.

Durante mais de duas décadas, a usina buscou uma tecnologia capaz de mecanizar o corte da cana em áreas de encosta, um desafio ignorado por fabricantes que priorizam a realidade geográfica do Sudeste. Após anos de tentativas, a resposta veio de uma parceria internacional.

“Buscamos essa solução por 20 anos. Recentemente, encontramos um parceiro na China que topou desenvolver essa máquina conosco. A primeira versão chegou este ano, foi testada, e já estamos aguardando a segunda, aprimorada com base nesses testes”, relata Daniela Petribú.

Esse processo demonstra o esforço contínuo da usina em buscar soluções que respeitem as particularidades do relevo nordestino. “Muitas tecnologias são pensadas para o Sudeste. Precisamos de soluções que sirvam para a nossa realidade”, reforça a presidente.

Digital
O avanço tecnológico também chegou à lavoura. A usina desenvolveu um sistema de inteligência artificial capaz de interpretar dados e oferecer informações em tempo real. O aplicativo permite que gestores façam perguntas por comando de voz e recebam, instantaneamente, informações sobre irrigação, produtividade, pragas e outros indicadores.

“Queremos que o colaborador possa perguntar como está o campo hoje e tenha respostas precisas, sem depender de uma visita presencial”, explica Simone Tavares, gerente de Tecnologia da Informação.

Essa inovação permite decisões mais ágeis e embasadas, reduz custos operacionais e aumenta a eficiência do manejo agrícola.

Para lidar com a ausência de soluções adequadas no mercado, a usina criou seu próprio Centro de Inovação. Um dos principais frutos dessa iniciativa é o sistema de orçamento por lote, que avalia a rentabilidade individual de cada área plantada, uma ferramenta inédita no setor.

“Agora podemos decidir com mais clareza se vale a pena investir em determinada área ou se é melhor realocar recursos. Esse sistema não existia, fomos nós quem desenvolvemos”, afirma Daniela. A ferramenta será testada em agosto e, após validação, poderá ser comercializada para outras usinas.

Outro projeto em andamento busca automatizar e integrar completamente o campo à indústria. A ideia é que, assim que a cana seja colhida, todas as informações logísticas, sejam transmitidas automaticamente à planta industrial. Isso permite uma preparação mais eficiente para a moagem ou, quando necessário, para manutenções programadas, reduzindo perdas.

A automação também chega à logística, com caminhões identificados por leitura de placas e separação de produtos em tempo recorde. “Queremos rastreabilidade, eficiência e segurança”, resume a equipe técnica.

Sustentabilidade
A sustentabilidade é mais que um discurso: está incorporada a todas as etapas do processo produtivo da usina. Toda a cana-de-açúcar é aproveitada: da produção de açúcar e etanol à cogeração de energia elétrica. Resíduos como a vinhaça e a torta da destilaria são reutilizados em práticas sustentáveis, como fertirrigação e compostagem.

A empresa também investe na preservação ambiental, com áreas de reserva legal, projetos de reflorestamento e ações de educação ambiental voltadas para crianças da comunidade. “Somos uma empresa 100% sustentável”, garante Daniela Petribú.

Desde 1909, a usina mantém uma escola destinada aos filhos dos funcionários. Atualmente, mais de 200 crianças estudam na instituição, que nasceu do ideal da bisavó da atual presidente. “A educação sempre foi prioridade para nossa família”, diz Daniela. Muitos ex-alunos seguem carreira dentro da própria usina. “Temos um mural com fotos dos antigos alunos, atuais colaboradores. Nosso objetivo é formar profissionais desde cedo.”

Além da educação, o incentivo ao esporte se tornou um diferencial. O que começou como uma ação voltada à saúde dos colaboradores se expandiu e hoje inclui o patrocínio de sete atletas de elite que competem em provas regionais. “Isso motivou muitos colaboradores a deixarem o sedentarismo e melhorarem sua qualidade de vida”, completa.

usina Petribu
 

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