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Obesidade e síndrome metabólica: o que está por trás da rotina que adoece

Você sabe o que está por trás da rotina que adoece? A obesidade e a síndrome metabólica vão muito além da balança e dizem muito sobre o estilo de vida moderno

Os problemas na alimentação costumam começar logo cedo, no café da manhãOs problemas na alimentação costumam começar logo cedo, no café da manhã - Foto: Freepik

Muito se tem falado sobre síndrome metabólica, mas é importante trazer esse tema para um ponto de vista mais prático, que faça sentido na vida real das pessoas. Afinal, a obesidade e seus efeitos não são apenas uma questão estética ou de números na balança. O perigo mora nas alterações silenciosas do organismo, como inflamações crônicas, resistência à insulina e acúmulo de gordura visceral, aquela que se instala entre os órgãos vitais e compromete o funcionamento de todo o corpo.

A chamada síndrome metabólica é, na verdade, um conjunto de fatores de risco que costuma andar de mãos dadas com a obesidade. Envolve aumento da circunferência abdominal, pressão alta, níveis alterados de colesterol e triglicerídeos, além da glicemia fora do ideal. Quando essas condições aparecem juntas, o risco de desenvolver doenças cardíacas, diabetes tipo 2 e AVC cresce de forma exponencial. É como se o corpo estivesse acendendo várias luzes de alerta ao mesmo tempo e, muitas vezes, o indivíduo segue o dia a dia sem perceber o tamanho do problema.

O curioso é que boa parte desse desequilíbrio nasce de hábitos tão comuns que passam despercebidos. O café da manhã, por exemplo, costuma ser o início da armadilha: pães brancos, biscoitos recheados, sucos de caixinha e cereais industrializados parecem inofensivos, mas são ricos em açúcares e farinhas refinadas que disparam a glicose no sangue e aumentam a gordura abdominal. São escolhas práticas, rápidas e baratas, porém com um custo alto para o metabolismo.

Os problemas na alimentação costumam começar logo cedo, no café da manhã | Foto: Freepik



Outro vilão silencioso é o sedentarismo moderno. Mesmo quem pratica exercícios algumas vezes por semana pode passar longas horas sentado no trabalho, no trânsito ou em frente às telas. Esse comportamento reduz o gasto calórico, prejudica a circulação e interfere na sensibilidade à insulina. Fazer pequenas pausas para se alongar, caminhar ou subir escadas é uma forma simples e eficaz de quebrar esse ciclo de inatividade que tanto adoece.

O sono ruim também tem papel importante nessa equação. Dormir mal altera hormônios que regulam o apetite, como a grelina, que estimula a fome, e a leptina, que provoca saciedade. O resultado é previsível: noites mal dormidas levam a mais fome, mais beliscos e escolhas alimentares piores. Quem dorme pouco tende a buscar energia rápida em doces e carboidratos, o que piora ainda mais o quadro metabólico.

Há ainda o engano dos rótulos. Produtos com apelos como “fit”, “light” ou “zero” nem sempre são aliados. Muitos escondem quantidades excessivas de sódio, adoçantes artificiais e aditivos químicos que sobrecarregam o fígado e desregulam o metabolismo. Comer “de verdade”, com alimentos frescos e minimamente processados, continua sendo o caminho mais seguro e eficaz.

A responsabilidade não é apenas individual. Vivemos em ambientes obesogênicos, onde tudo parece conspirar contra o equilíbrio. As refeições prontas estão em cada esquina, o tempo para cozinhar é escasso e o estresse virou parte da rotina. Diante disso, não basta cobrar força de vontade; é preciso discutir políticas públicas, educação nutricional e apoio psicológico para mudar o cenário de forma sustentável.

Ainda há muito o que podemos fazer hoje, no cotidiano, para reverter esse quadro. Pequenas atitudes, como caminhar mais, dormir melhor, cozinhar com ingredientes simples e se afastar um pouco das telas, têm um efeito prático e transformador. Talvez o segredo esteja em algo que parece banal, mas é profundamente verdadeiro: “descascar mais e desembrulhar menos.” Essa simples frase resume uma escolha de vida: trocar o artificial pelo natural, o apressado pelo consciente e o automatismo pela presença. Cada pequeno gesto e cada atitude contam.

“Vivemos em ambientes obesogênicos, onde tudo parece conspirar contra o equilíbrio", diz o médico Rafael Coelho 

* Médico @rafaelcoelhomed - www.rafaelcoelhomed.com.br
 

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