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"Demos novos passos estruturantes para enfrentar grandes gargalos históricos do SUS", afirma Padilha

Em entrevista à Folha Saúde, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, aponta as prioridades e as ações da pasta para reafirmar a saúde como um direito de todos

Ministro da Saúde, Alexandre PadilhaMinistro da Saúde, Alexandre Padilha - Foto: João Risi/MS

Maior política pública do Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) completa trinta e cinco anos de criação ainda enfrentando desafios, gargalos, mas também colhendo sucessos. Em entrevista à Folha Saúde, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, avalia esses desafios e aponta as soluções que estão sendo tomadas, as prioridades e as ações da pasta para reafirmar a saúde como um direito de todos.

Como o Ministério da Saúde avalia a atual situação da saúde pública do Brasil?
Três décadas e meia após a sua criação, o SUS é hoje a maior política pública da nossa história. Internacionalmente, o risco de emergências climáticas, a preparação para novas pandemias e o envelhecimento da população representam desafios de saúde globais. Mas os legados pós-pandemia, construídos a partir da liderança do presidente Lula, apontam para um novo SUS, que evolui a partir da sua reconstrução, responde aos novos desafios e reafirma a saúde como um direito de todos. Após mais 700 mil mortes causadas pela pandemia, quando o país viveu as duras consequências de um desmonte institucional, foi necessária uma reconstrução do nosso sistema público de saúde.

Desde 2023, retomamos a cobertura vacinal após uma tendência de queda desde 2016 e recebemos a recertificação de país livre do sarampo. Em uma ação essencial para mulheres, iniciamos a oferta de absorventes para populações vulneráveis com o Dignidade Menstrual. Ampliamos o SAMU em mais de 6 milhões de pessoas e 300 municípios, dobramos o número de profissionais do Mais Médicos, que passou de 13 mil em 2022 para mais de 27 mil médicos em 2025, tornamos o Farmácia Popular 100% gratuito e alcançamos números recordes de cirurgias eletivas e transplantes.

Em 2025, demos novos passos estruturantes para enfrentar grandes gargalos históricos do SUS, com criação do Agora Tem Especialistas que busca reduzir o tempo de espera por atendimentos especializados, e, ao mesmo tempo, reorganizamos a porta de entrada do SUS com a estratégia Saúde Brasil 360, que coloca a vida no centro do cuidado.

Quais os principais desafios que a pasta enfrenta?
O maior desafio é o tempo de espera por atendimentos especializados, que foi agravado pela pandemia de Covid-19. Por isso, o Ministério da Saúde lançou o programa Agora Tem Especialistas, que prevê um conjunto de medidas inéditas para aumentar acesso a consultas, diagnósticos e cirurgias em seis especialidades prioritárias (oncologia, ginecologia, cardiologia, ortopedia, oftalmologia e otorrinolaringologia).

Quais políticas públicas na área da saúde podem ser destacadas como as principais?
O programa Agora Tem Especialistas, que é uma política transformadora, a maior mobilização em saúde desde a pandemia, que envolve estados, municípios, hospitais filantrópicos e setor privado. Uma das novas medidas é a integração com hospitais privados, filantrópicos e planos de saúde, que podem trocar dívidas com a União por atendimentos a pacientes do SUS. E para levar atendimentos para áreas remotas, em outubro, iniciamos atendimentos com carretas de saúde que têm percorrido o país para realizar exames de saúde da mulher com foco na prevenção de câncer de colo do útero e mama.

Para melhorar o acesso a tratamento de câncer, até o fim de 2026, vamos distribuir 121 aceleradores lineares. Lançamos o Mais Médicos Especialistas, que leva profissionais para áreas que têm maior carência. A partir da rede federal de saúde, realizamos mutirões nacionais de consultas, exames e cirurgias com mais de 68 mil atendimentos desde o lançamento do programa. Vamos ampliar o funcionamento de hospitais e ambulatórios com terceiros turnos, e ativação da capacidade ociosa (atendimento aos sábados e à noite, por exemplo) e expandir a oferta de telessaúde pública e privada.

Quais são as prioridades do ministério para o ano de 2026?
A prioridade para 2026 é fortalecer o programa Agora Tem Especialistas, reduzindo o tempo de espera e desigualdades regionais de acesso a cirurgias, consultas e diagnósticos em todo país.

O Brasil voltou a registrar aumento nas coberturas vacinais, após queda entre 2016 e 2022. Foto: João Risi/MS

O Ministério da Saúde desenvolve ações para incentivar a população a ter uma vida mais saudável, com projetos para reduzir o comportamento sedentário e aumentar o consumo de alimentos considerados saudáveis?

O Ministério da Saúde desenvolve diversas ações para incentivar uma vida mais saudável, reduzindo o comportamento sedentário e promovendo hábitos alimentares adequados. Entre as principais, estão o Guia de Atividade Física para a População Brasileira, que traz recomendações sobre prática regular de exercícios em todas as fases da vida; e o Guia Alimentar para a População Brasileira, que apresenta orientações sobre alimentação saudável baseadas nos principais hábitos alimentares dos brasileiros. Nas escolas públicas, o Programa Saúde na Escola (PSE) promove a formação de estudantes, incluindo ações de prevenção e incentivo à prática de atividades físicas.

Na atenção primária, porta de entrada do SUS, o Programa Academia da Saúde promove atividades físicas, alimentação saudável, práticas integrativas e ações culturais. O Incentivo Financeiro de Custeio às Ações de Atividade Física (IAF) apoia financeiramente municípios na implementação de ações voltadas à atividade física. O SUS conta com equipes multiprofissionais (eMulti), que podem ser formadas por fisioterapeutas, educadores físicos, entre outros profissionais que utilizam o movimento e as práticas corporais como recurso terapêutico e de promoção da saúde.

Qual balanço o senhor pode fazer das ações do ministério desde que assumiu o cargo?
Para reduzir tempo de espera por consultas, exames e cirurgias, criamos o Agora tem Especialistas, com soluções inéditas para alcançar populações desassistidas, como o aumento da oferta com participação do setor privado; a criação de novos turnos e horários em unidades públicas; e implantação de carretas de saúde, que levam consultas, exames e tratamentos especializados para regiões remotas. Com a criação do Mais Médicos Especialistas, pela primeira vez o governo federal fixa médicos especialistas em cidades do interior e outras regiões desassistidas. Na atenção primária, rede que inclui mais de 40 mil UBS em todo o país, criamos a estratégia Saúde Brasil 360, que passa a remunerar qualidade, e não apenas quantidade: são 15 indicadores financeiros que valorizam boas práticas voltadas a idosos, gestantes, crianças e portadores de doenças crônicas.

Iniciamos atendimentos no Centro de Referência de Saúde Indígena, em Surucucu, que beneficia populações em território Yanomami. Fortalecemos a saúde digital, e o CPF virou a chave de acesso ao SUS, simplificando a vida de quem precisa. Para fortalecer o cuidado de crianças e adolescentes, lançamos a versão digital da Caderneta de Saúde da Criança. Criamos uma nova linha de cuidado para Transtorno do Espectro Autista (TEA) e investimos R$ 72 milhões em 71 novos serviços que fortalecem a Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência. Fortalecemos a soberania nacional com retomada da produção nacional de insulina após 20 anos e criação de novas plataformas de desenvolvimento tecnológico baseadas em RNA mensageiro.

Para doenças raras, passamos a ofertar a primeira terapia gênica no SUS: o medicamento de altíssimo custo zolgensma, utilizado no tratamento de crianças com Atrofia Muscular Espinhal (AME). Em um grande avanço na oncologia, passamos a ofertar o medicamento Trastuzumabe Entansina, medicamento de última geração que poderá reduzir em até 50% a mortalidade das pacientes com câncer de mama do tipo HER2 positivo. A saúde da mulher é uma prioridade. Por isso, incorporamos o implante subdérmico contraceptivo liberador de etonogestrel, conhecido como Implanon. Até 2026, o Ministério da Saúde estima distribuir 1,8 milhão de dispositivos para atender a todas as mulheres, sendo 500 mil ainda neste ano.

O Ministério da Saúde vem realizando campanhas e ações para incentivar o aumento da imunização para a população em geral?
Estamos vivendo um momento importante: o Brasil volta a registrar aumento nas coberturas vacinais, após uma queda de 2016 a 2022. Entre 2023 e 2024, houve aumento na cobertura de 15 dos 16 imunizantes do calendário infantil. A primeira dose da vacina contra o sarampo subiu de 80% para 95% e, como resultado, o país foi recertificado como território livre do sarampo no ano passado. Esse é o resultado de ações amplas de mobilização e retomada da confiança na ciência, como a Campanha Nacional de Multivacinação, que teve mais de 7 milhões de doses aplicadas neste ano, cerca de 1 milhão apenas no Dia D, realizado em 18 de outubro. Como médico infectologista, que tem uma filha de 10 anos, faço um apelo a todos pais e cuidadores: o sarampo ou poliomielite foram eliminados porque um dia os seus responsáveis levaram escolheram para vacinar, então façam isso pelos seus filhos também.

O Cartão Nacional de Saúde passou a exibir nome e CPF em substituição ao número do Cartão Nacional de Saúde (CNS). Qual é o objetivo da mudança e como o ministério pretende garantir a segurança dos dados pessoais dos usuários, especialmente em casos de populações vulneráveis?
Com a adoção do CPF como identificador único dos cidadãos no SUS, queremos trazer mais segurança, eficiência e integração dos sistemas de informação. A mudança simplifica o acesso, evita registros duplicados e reduz fraudes, fortalecendo a transparência do sistema. Ninguém ficará sem atendimento: em situações em que o CPF não puder ser apresentado, como no caso de pessoas desacordadas ou em situação de rua, será realizado um cadastro temporário. O mesmo vale para populações vulneráveis sem CPF, como estrangeiros, indígenas e ribeirinhos. Realizamos o mapeamento dos 41 sistemas de informação em saúde e já inativamos 54 milhões de cadastros duplicados. A meta é inativar 111 milhões até abril de 2026, alcançando 228 milhões de cadastros ativos e alinhados ao total de CPFs na Receita Federal.

Quais ações já foram realizadas em Pernambuco por meio do programa Agora Tem Especialistas e qual é o principal objetivo da iniciativa?
Os avanços são concretos. Para multiplicar a oferta de atendimentos, o programa permite que planos de saúde troquem dívidas de ressarcimento por atendimentos ao SUS. Quem deve ao SUS tem a chance de pagar ajudando a salvar vidas. A primeira cidade brasileira a receber esses atendimentos foi Recife (PE), por meio da adesão da operadora de planos de saúde Hapvida. Em Pernambuco, Pará, Ceará e no Distrito Federal, a expectativa é de até R$ 1,3 milhão por ano convertido em atendimentos aos usuários do SUS. Desde o lançamento do programa, dois mutirões de saúde foram realizados em Petrolina (PE) e Recife (PE), por meio de parceria com hospitais da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh).

No Outubro Rosa, a Carreta de Saúde da Mulher Agora Tem Especialistas chegou ao município de Garanhuns para realização de consultas, mamografias, ultrassonografias, biópsias e outros serviços de prevenção do câncer de colo de útero e de mama. E para ampliar o tratamento oncológico, destinamos R$ 19,8 milhões para aquisição de dois aceleradores lineares.

Com a posse dos novos diretores da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), quais medidas concretas o ministério pretende adotar para fortalecer a integração entre SUS e saúde suplementar sem gerar sobreposição ou competição entre os sistemas?
Com a criação do programa Agora Tem Especialistas, os planos de saúde poderão quitar suas dívidas com o Fundo Nacional de Saúde (FSN) prestando atendimento direto à população. Com essa inovação, não há sobreposição de serviços. Para abater dívidas, os planos de saúde devem oferecer uma matriz de serviços que atenda as demandas informadas pelos estados e municípios. O ressarcimento é voltado exclusivamente para prestação de serviços que vão ao encontro das necessidades reais de cada local.

Para garantir a eficiência, pela primeira vez, os dados dos atendimentos realizados pela rede pública e pela rede de saúde suplementar estarão integrados em uma única plataforma, a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS). Com isso, no aplicativo Meu SUS Digital, estarão disponíveis exames, prescrições médicas, diagnósticos e tratamentos realizados no SUS e nos hospitais, clínicas e laboratórios conveniados aos planos de saúde.

Em julho de 2025, o Governo Federal destinou, por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), mais de R$ 300 milhões para o SUS em Pernambuco. O montante está sendo investido em quais setores da saúde?
Com R$ 332,5 milhões de investimentos do Novo PAC em 2025, a rede pública de saúde em Pernambuco será ampliada com 480 novas unidades de saúde e equipamentos. Serão 60 novas UBS; 179 combos de equipamentos para UBS; 70 ambulâncias do SAMU; sete Centros de Atenção Psicossocial (CAPS); 18 Unidades Odontológica Móvel (UOM); duas policlínicas e 349 kits de teleconsulta.

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