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"O CAOS!"

Em entrevista exclusiva, narrador Rômulo Mendonça fala sobre sucesso e bordões

Dono de frases como "Aqui não, sua lambisgóia" e "Mora de pantufas no meu coração", o profissional da ESPN falou sobre o seu sucesso atual com o público

Rômulo MendonçaRômulo Mendonça - Foto: ESPN/Divulgação

"É uma jararaca alienígena!" ou "Foi num ritmo frenético de ragatanga insano!".Para os tradicionalistas, pode parecer um monte de palavras sem nexo. Para os mais novos ele está no topo das paradas de sucesso. Mais do que um estilo diferente de narrar, o mineiro Rômulo Mendonça, de apenas 34 anos, vem conseguindo roubar a cena com suas tiradas humorísticas e referências pitorescas, além da qualidade técnica de passar a emoção de um narrador de elite. "Minha base é o estudo. O humor é complemento", faz questão de ressaltar. Em conversa exclusiva com a Folha de Pernambuco, Rômulo bateu um papo de quase uma hora de duração. Nos minutos iniciais, poucas risadas e uma falsa impressão de entrevistado sisudo. Alguns instantes depois, descontração e muita sinceridade. Entre alguma revelações, o narrador falou sobre vários temas, desde o seu começo na carreira até a criação dos seus bordões, que levaram a ESPN a assumir a vice-liderança na TV fechada durantes as Olimpíadas Rio 2016.

FORMAÇÃO

Sou mineiro, fiz jornalismo na PUC-BH, mudei para São Paulo, em janeiro de 2011, já para trabalhar na ESPN. Em 2008 passei num teste da própria ESPN, mas por conta da crise eles não puderam me chamar. Fiz outro teste no final de 2010 e fui chamado.

FACULDADE
Eu era tranquilo. O sono me atrapalhava um pouco. Na verdade, é um dos desafios da minha vida esse negócio de acordar cedo, mas tudo bem (risos). Ainda mais agora que tenho trabalhando de noite, fazendo jogo até a madrugada, voltando para casa de 2h30, 3h às vezes. Acordo umas 10h. Mas, voltando, eu sabia que queria fazer algo relacionado ao rádio e TV. Não exatamente o que especificamente, mas sabia que era isso. E estava pronto para aproveitar ao máximo qualquer um deles. Acredito que você tem que apegar ao que a vida lhe dá.

COMEÇO DO TRABALHO
Meu começo foi em rádio, onde trabalhei muitos anos, tanto em Belo Horizonte como em rádios do interior também. Fiz de tudo: cheguei a narrar, mas também fiz outras funções como tudo mundo que está começando.

SUCESSO
Eu nunca pensei nisso, no lado do sucesso, do assédio, do "glamour". Eu me defino como versátil, por isso falo com várias fatias do público, de diferentes perfis. Talvez por isso fale para mais pessoas, mas não penso nessa parte de ter fama ou não.

ASSÉDIO
Não é só comigo, mas acontece muito de me pararem na rua pedindo para gravar um áudio para um amigo falando algum bordão meu, entre outras coisas. Mas isso é normal com quem trabalha em televisão. E é bem legal esse reconhecimento. Vou lá e gravo o áudio sem problemas. Porém, acontece também de eu não corresponder às expectativas das pessoas (risos). Algumas vezes elas esperam que eu seja bem engraçado, do tipo que acorda gritando e rindo, mas sou tranquilo, sou na minha.

"BOOM SHAKALAKA" DA CARREIRA
Foi o vôlei nas Olimpíadas 2016. Muito mais pelo evento em si. Não tem nada maior que Olimpíada. O público é muito maior do que o público recorrente que acompanha as ligas americanas que eu faço. É um evento de possibilidades extremas, tanto positivas como negativas. Eu fiquei sabendo um mês e meio antes que ia narrar o vôlei. Achei que seria o basquete, um esporte que já domino. Mas, eu quis fazer o vôlei não só da melhor maneira possível, mas sim de uma forma diferente. E foi tudo naturalmente.

LIMITE DO HUMOR
Eu não falaria nada que eu me sentisse mal depois. Não que eu me preocupe com patrulhas do "politicamente correto". Ao contrário, isso eu até ignoro. Mas, é uma coisa minha. No vôlei feminino eu fui percebendo que "lambisgóia" era um termo que se falado com uma jogadora específica poderia ser, não ofensivo, mas indelicado. E procurei usar "lambisgóia" me referindo à bola. No masculino não, continuo chamando os caras de lambisgóia mesmo (risos).

PREPARAÇÃO ANTES DOS EVENTOS
Eu estudo bastante antes, para todos os esportes, como nas Olimpíadas, quando fiz o vôlei. Nunca assisti tanto jogo de vôlei na minha vida. Vi com som ambiente, com narração nacional, internacional, de vários modos para pegar todos os detalhes. Não queria estar lá por estar. O resultado seria muito pequeno. Então, me preparo muito. É um trabalho muito desgastante. Muitas vezes aproveito a madrugada para já ler algumas coisas depois dos jogos. Apesar de ser muito marcante no meu estilo, o humor não é minha base. Minha base é o estudo e o humor é complemento. Nunca será o inverso.

ÍDOLO
Sempre que me perguntam isso eu respondo o Osmar Santos. Não que tenhamos estilos e características semelhantes, mas eu tenho uma admiração tremenda pelo Osmar pela forma que ele utilizava as expressões que ele criava, da forma como conduzia a transmissão, ele tinha estilo mais lúdico e eu adorava isso. Portanto, se eu tivesse que apontar uma referência seria ele.

BORDÕES
Cada narrador tem o seu jeito de criar e utilizar os bordões. Primeiro eu penso que não tem problema utilizá-los, mas desde que sirvam para enaltecer uma determinada jogada. A frase não é maior que o lance. Ela tem que ampliar, impactar o que aconteceu. Por exemplo, no vôlei tem o bloqueio, que é demonstração de força contra o adversário. Por isso, brinco com o "Aqui não, queridinha!" ou "Aqui não, sua sirigaita". Nas Olimpíadas, eu brincava contra a Itália, dizendo: "Aqui não tem Laura Pausini. Aqui é Joelma do Calypso!" ou "Aqui não tem Michelângelo. Aqui é Romero Brito!". No basquete, eu quis criar algo para a enterrada, por exemplo. Quando um quarterback sofre um sack no futebol americano também. Segundo, depende do estilo de cada narrador. Se você tem um estilo mais discreto, não adianta forçar o humor, os bordões. Não será natural e não funcionará. E não é necessário ser engraçado. Se for o seu estilo, vai fundo. Caso não seja, o cara goste de focar em números e coisas mais técnicas, não tem problema. No meu estilo, acho o humor essencial. Mas, respeito o jeito de cada profissional.

COBAIAS DOS BORDÕES
(Risos). Não tenho ninguém fixo para isso. Acontece de eu escolher alguns personagens do esporte que eu vou fazer. E em certas vezes falo com alguém antes. Por exemplo, não é recorrente, mas minha mulher foi meu "termômetro" antes das Olimpíadas eu vi muitos jogos de vôlei e brincava com ela sobre alguns atletas. Tipo, o Wallace, que eu cheguei para ela disse. "Esse tem um estilo legal, um estilo macho alfa". Ou o Lucarelli, que vinha destruindo tudo e eu disse: "Esse parece um mensageiro do caos". Teve também a Natália, que eu apelidei de "Carreta Furacão" depois de uma cortada dela. E aí, minha mulher olhou e disse: "Fala, vai funcionar". Tive essa "cobaia" (risos). Outra que minha mulher participou foi com a Irina Fetisova, da seleção de vôlei da Rússia. Eu disse que quando ela fizesse alguma jogada marcante, eu iria soltar. "Uma deusa, uma louca, uma Fetisova". E deu certo, o pessoal na cabine riu muito na hora (risos). Mas, geralmente sou eu quem penso antes, porém não forço. Só falo se o lance não combinar com o que eu imaginei. Não tenho essa necessidade de emplacar o bordão.

BORDÃO PREDILETO
Predileto não, mas talvez o que mais marcou foi "O caos!". As pessoas se identificam muito com essa e acho que é a que resume melhor a minha curta trajetória até agora na televisão. Mas, o pessoal comenta muito sobre "Ragatanga!", "Lambisgóia", "Aqui não, queridinha", entre outras. Me parece que o "Ragatanga!" foi o primeiro de grande repercussão dos meus bordões, foi muito legal. Eu não tinha a expectativa da dimensão que ganhou. Foi brutal!

COBERTURA INESQUECÍVEL
Por enquanto, como tenho apenas cinco anos de televisão, com certeza é a final do vôlei masculino. Meu sonho é passar uns 20, 25 anos, olhar para trás e ver que participei de várias Olimpíadas. É algo impressionante participar de uma cobertura desse tipo. Mas, também tem algumas transmissões que são marcantes, como o título do Chicago Cubs, no beisebol, depois de uma maldição centenária.

FRASES DE RÔMULO MENDONÇA:

"Ela disse adeus!", após um home run no basebol, em jogada que a bola é rebatida para as arquibancadas.

"Se linga no swing", quando algum jogador tenta fintar um adversário.

"Quem é o seu Deus?", quando um jogador faz uma jogada fantástica.

"Umba Umba UmbaÊ", quando acontece um fumble no futebol americano, com a bola a ser disputada pelos dois times.

"Ele está possuído pelo ritmo ragatanga", quando um jogador faz algo fantástico.

"Esse é o macho alfa", quando um jogador se impõe no jogo.

"Me engravida, Tom Brady", atleta de futebol americano e marido de Gisele Bundchen.  

"O caossssss!", serve tanto para jogadas de pontuação como para defensivas no futebol americano.

"Esse está mais louco que o padre do balão", sobre alguma atitude surpreendente de um jogador.

"Aqui não, queridinha (lambisgóia ou neném também são usados)", quando alguém sofre um revés na jogada.

"Aserehe ra de re, de hebe tu de hebere Seibiunouba mahabi, an de bugui an de buididipi", refrão da música Ragatanga, no extinto grupo Rouge!

"Mora de pantufas no meu coração", quando quer demonstrar afeto por alguém ou algo.

"Vai caçar Pokémon!", após uma japonesa ser bloqueada no vôlei.

“Nossa casa, nossas regras, nosso puxadinho”, nos jogos de vôlei nas Olimpíadas do Rio.

 

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