As vozes da emoção nos eSports
Narradores e comentaristas de uma das modalidades que mais crescem se inspiram nas vozes dos profissionais de tevê
A estrutura é igual à vista nas transmissões televisivas de futebol. Análise das partidas, estatísticas. Porém, ao invés da bola rolando, o que se vê é uma jogada do League of Legends, Counter-Strike ou outro jogo. A função do narrador e de comentarista nos eSports ganhou maior visibilidade no Brasil recentemente, quando os jogos, além do YouTube, passaram a ser exibidos na TV fechada para milhares de telespectadores. Para mostrar um pouco deste mundo na visão de quem narra, a Folha de Pernambuco conversou com Guilherme Cheida, o Tixinha, e Diego Pereira, o Toboco, "casters" oficiais do CBLoL.
Os narradores e comentaristas dos eSports seguem a tendência da modalidade: crescimento e profissionalização, e ganham cada vez mais visibilidade. Expressões como “Pentakill”, “Headshot” ou até “Roubou o Barão!” são os novos “É tetra!”, “Lá vem eles de novo” ou até “Eeeee que goool” da boca dos narradores mais famosos da TV brasileira (pelo menos para o mundo dos eSports).
Uma das vozes do CBLoL, Toboco, possuía uma empresa antes de começar a comentar partidas de League of Legends. A mudança veio em 2011, quando ele começou a narrar jogos da sua própria equipe. Em 2013, foi contratado pela Riot Games. No caso de Tixinha, a oportunidade para narrar os eSports acabou surgindo no mesmo ano. Formado em Publicidade e Propaganda, um dos comentaristas oficiais do League of Legends no Brasil começou tentando entrar no circuito profissional como jogador, mas foi convidado por Gustavo "Melao" Ruzza, outro caster, para trabalhar na ESL Brasil.
Entretanto, até chegar em um bom patamar, foi preciso sacrifício. Tixinha acabou deixando a carreira de publicitário, o que não foi bem aceito por familiares. "No começo foi bem complicado, eu trabalhava de casa. Era o dia inteiro trancado no quarto e não ganhava nada", conta. Já com Toboco, apesar de não ter tantas dificuldades com a aceitação da família, a profissão acabou afastando-o do convívio com os parentes no início. "Por conta dos jogos no domingo, em diversas situações a minha familia estava almoçando e eu tinha que sair para narrar".
A verdade é que, depois de tanta luta no início da carreira, o reconhecimento veio. Toboco, por exemplo, tem mais de 300 mil curtidas em sua página oficial no Facebook. Já Tixinha tem 200 mil. Já consolidado, o comentarista fala sobre o trabalho de um "caster" no mundo dos eSports. Ele observa que hoje em dia é preciso ter alguns cuidados na transmissão para não usar termos específicos demais. Apesar de ter um público direcionado, existem muitas pessoas entrando nos eSports. "A gente não usa às vezes palavras do jogo porque são complicadas, dificultam o entendimento. Então procuramos simplificar", explica.
O trabalho feito, sempre procurando facilitar a vida do telespectador, tem referência. Para Toboco, a figura de Galvão Bueno serviu de parâmetro para o início da carreira de narrador. "Galvão sempre fala: o narrador tem que ser um vendedor de emoções. Você tem que entrar no coração do torcedor. Tem que ser aquela pessoa que deixa o espectador emocionado em ver aquilo", comenta. Assim como o narrador da Globo, alguns jargões de Toboco ficaram famosos nas redes sociais, como "Roubou o Barão!". Como verdadeiros "vendedores de emoções", os "casters" nos eSports chegaram para ficar, e abrir mais um espaço no mercado da narração esportiva.
Legado
Se os comentaristas atuais dos eSports beberam na fonte dos narradores esportivos, agora eles servem de referência para o futuro. Com uma maior quantidade de transmissões e de campeonatos surgindo, é natual que a demanda seja atendida por novas vozes. Sobre esta "inspiração", Toboco fala que a aproximação com o público também ajuda. "Um rapaz veio falar comigo, no dia que eu estava ensaiando para a final do CBLoL. Ele falou que era narrador na região, que se inspira em mim. A partir do momento que a gente tá no Nordeste, a gente pode inspirar", encerrou.

