Saiba quem são os símbolos de resistência no esporte
Sobram casos de atletas que ultrapassaram os limites dos gramados, quadras ou pistas para encampar alguma causa, desafiar autoridades e levantar debates
Uma antiga controvérsia voltou ao noticiário esportivo recentemente. Quando a jogadora de futebol dos Estados Unidos Megan Rapinoe criticou publicamente contra o presidente Donald Trump, uma polêmica foi reacesa: afinal, esporte e política de fato se misturam? Não só caminham juntos, como o entrelaçamento entre estes dois campos é algo mais do que recorrente em nossa história. Sobram casos de atletas que ultrapassaram os limites dos gramados, quadras ou pistas para encampar alguma causa, desafiar autoridades e levantar debates públicos. A capitã da seleção norte-americana de futebol feminino não foi a primeira. E dificilmente será a última. O tema é espinhoso. Há inúmeros exemplos de esportistas que se prejudicaram por conta de seus posicionamentos políticos. Contudo, não abriram mão de levantar bandeiras pelas causas em que acreditavam. Confira outros históricos exemplos em que esporte e política se cruzaram:
Megan Rapinoe - A capitã do time de futebol feminino dos Estados Unidos, Megan Rapinoe, travou um conflito com o presidente americano Donald Trump durante a Copa do Mundo 2019 ao dizer que, se a seleção vencesse, não iria à Casa Branca. Lésbica assumida, Rapinoe disse que o discurso do político excluía pessoas como ela, além dos negros. Trump retrucou que ela precisaria “vencer antes de falar”. Ela venceu e, na chegada à Nova York para comemorar o título, reforçou o discurso. A jogadora também liderou o grupo de atletas que processou em março a federação de futebol para pedir pagamento igual ao dos homens.
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Jesse Owens (EUA) - O atleta americano já teria entrado para a história por ter conquistado quatro medalhas de ouro nos 100m e 200m rasos, no salto em distância e no revezamento 4x100m nas Olimpíadas de Berlim-1936. Mas Jesse Owens foi além dos feitos meramente esportivos. Com seu impressionante desempenho, o velocista negro contribuiu para combater o mito da suposta supremacia racial dos alemães arianos, ideologia que o chanceler da Alemanha à época, Adolf Hitler, propagava. Além disso, sua impressionante performance causou incômodo no segregacionismo racial em voga nos Estados Unidos.
Tommie Smith e John Carlos (EUA) - Tommie Smith ficou com a medalha de ouro nos 200m rasos das Olimpíadas da Cidade do México-1968. John Carlos terminou em terceiro lugar. No entanto, são lembrados por um gesto posterior. Quando tocava o hino nacional dos Estados Unidos, ambos abaixaram a cabeça e ergueram os braços com os punhos fechados, em apoio aos Panteras Negras, movimento que buscava combater o racismo e valorizar a cultura negra nos EUA. O Comitê Olímpico Internacional vetava que atletas fizessem atos políticos na competição. Ambos foram expulsos e perderam as medalhas, mas entraram para a história.
Carlos Caszely (Chile) - Veloz atacante, fez história no Colo-Colo e na seleção chilena. Conhecido pela língua ferina e forte personalidade, virou rapidamente um ídolo em seu país na virada da década de 1960 para 1970. Além disso, se posicionou abertamente contra o golpe militar dado por Augusto Pinochet, que depôs o presidente eleito Salvador Allende. Não bastasse isso, em entrevista televisiva revelou que sua própria mãe foi sequestrada e torturada pelos agentes da ditadura de Pinochet. Em uma cerimônia oficial no palácio, recusou-se a apertar a mão do ditador chileno, um ato lembrado até hoje.
Colin Kaepernick (EUA) - Jogador de futebol americano, ganhou fama recentemente, em 2016, quando passou a protestar contra a desigualdade racial nos Estados Unidos. Durante a execução do hino nacional, antes dos jogos, o quarterback se ajoelhava ou sentava no campo, gerando enorme repercussão em seu país. O atleta foi apoiado por outros colegas, mas também teria sofrido represálias devido a seus atos. Tanto é que está sem atuar por uma equipe da National Football League (NFL) desde 2017. Seus gestos levantaram debates sobre temas como a liberdade de expressão e o racismo nos Estados Unidos.
Matthias Sindelar (Áustria) - Nascido na Morávia, região que hoje pertence à República Tcheca, Sindelar foi eleito o maior jogador da Áustria do Século 20. O artilheiro ficou conhecido como o "homem que desafiou Hitler". Em 1938, quando a Áustria foi anexada pela Alemanha, foi marcado um amistoso entre as duas seleções. Os austríacos venceram por 2x0 e, dizem, Sindelar foi o craque do jogo e comemorou efusivamente os gols, para descontentamento dos oficiais alemãs. Além disso, não aceitou defender a seleção da Alemanha. Faleceu um ano depois em um misterioso caso de asfixiamento por monóxido de carbono.
Justin Fashanu (Inglaterra) - Filho de um advogado nigeriano e uma enfermeira guianesa, o inglês foi o primeiro - e até hoje único -, jogador da badalada primeira divisão da Inglaterra a se assumir homossexual. A revelação fez com que sua carreira entrasse em declínio. Segundo Fashanu, foi vítima de comentários preconceituosos por parte dos jogadores. Em março de 1998, foi acusado nos EUA por um jovem de 17 anos de tê-lo agredido sexualmente. Pouco depois, foi encontrado enforcado. Em sua carta de suicídio, escreveu: "Não quero mais ser uma vergonha para meus amigos e minha família". As investigações de agressão foram abandonadas por falta de provas.
Bruno Neri (Itália) - Ídolo da Fiorentina, integrou a seleção da Itália na década de 1930 e era reconhecido como um talentoso meio-campista. Diferente de muitos jogadores de futebol, era entusiasta da literatura e frequentava lugares tomados de intelectuais. Em plena ascensão do fascismo, recusou-se a fazer a saudação do movimento antes de um jogo, ao contrário de seus colegas. Mais tarde, fez parte do Comitê de Libertação Nacional (CLN), embrião da Resistência italiana, que combatia o fascismo em seu país. Entrou para a luta armada popular e morreu em combate, diante da ostensiva artilharia do exército nazista.










