Sáb, 06 de Dezembro

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eleições 2026

Aliados tentam fazer Bolsonaro desistir do Planalto, mas ex-presidente teme "morte política"

Inelegível e denunciado por tentativa de golpe, ele ampliou diálogo com partidos de centro-direita por objetivos pragmáticos, mas resiste a pedido para encampar outro candidato

Bolsonaro só deve decidir por um outro nome do campo da direita no segundo semestre, segundo aliadosBolsonaro só deve decidir por um outro nome do campo da direita no segundo semestre, segundo aliados - Foto: Sergio Lima/AFP

Réu por tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem convivido com pressões de aliados, que tentam convencê-lo a deixar de se colocar como candidato ao Planalto em 2026.

Inelegível desde a condenação por ataques às urnas eletrônicas, Bolsonaro vem se movimentando em busca de manter o seu espólio político — e é justamente esse o argumento utilizado por quem mira dissuadi-lo do plano.

Entre caciques de partidos de centro e integrantes do próprio PL, o desejo é que Bolsonaro encampe um outro nome, como o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), o quanto antes.

Interlocutores como o senador Ciro Nogueira (PP-PI), presidente do PP, também insistem para que o ex-presidente construa uma alternativa viável no campo da direita até o fim do ano.

Em paralelo, Bolsonaro ensaia uma reaproximação com outros nomes do campo conservador, como os governadores Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais; Ronaldo Caiado (União-GO), de Goiás; e Ratinho Jr. (PSD-PR), do Paraná — todos também presidenciáveis. O objetivo é costurar apoios ao projeto que anistia os condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023.

A mesma meta levou o ex-presidente a ampliar o diálogo com o presidente do Republicanos, Marcos Pereira, depois que o dirigente chegou a dar entrevistas afirmando que a anistia não deveria ser debatida no Congresso neste momento. No passado, os dois também tiveram a relação estremecida por críticas de Pereira à ida de Bolsonaro para os Estados Unidos antes da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Apesar do aceno a outras lideranças da direita, Bolsonaro ainda resiste em dar o braço a torcer, por temer que a retirada do próprio nome do páreo simbolize a sua “morte política” e implique em uma fragmentação da direita.

"Não há chance" 
Dentro do PL, também há a aposta de que o bolsonarismo adotará um tom mais moderado e caminhará para o centro, depois de encerradas as discussões sobre a anistia pelo 8 de Janeiro. A estratégia seria necessária para atrair eleitores na disputa de 2026.

Aliados tentam usar os números desfavoráveis sobre o governo Lula como argumento para que Bolsonaro dê logo uma sinalização mais clara. Na última quinta-feira (3), o Planalto realizou um evento em tom de campanha e aumentou as comparações com a gestão anterior, dando mais subsídios a quem defende que a oposição defina o quanto antes uma linha de atuação.

Próximo ao ex-presidente, Ciro Nogueira diz, porém, que Bolsonaro só deve se decidir no segundo semestre:

— Sou muito pragmático na política. Hoje, não há chance de o Bolsonaro lançar outro nome, não vejo isso ocorrer no curto prazo. Mas defendo que ele escolha até o fim do ano, se não estiver elegível. Por mais que surjam outros candidatos, o escolhido por ele será o nome da direita. Não acredito em fragmentação deste campo, nem em uma perda de capital político. Enquanto Lula e Bolsonaro estiverem vivos, serão os nomes respectivos da esquerda e da direita.

Embora relutante, Bolsonaro já demonstra mais abertura ao diálogo com outros nomes da direita do que no passado. Ratinho Jr., Caiado e Zema, agora afagados, foram alvos de frituras recentes do bolsonarismo justamente devido às pretensões para a corrida presidencial do ano que vem.

Vice-presidente do Congresso, o deputado bolsonarista Altineu Côrtes (PL-RJ) é da ala que não projeta opções para a disputa e garante que a escolha não passa pelo crivo de outros correligionários.

— O Valdemar (Costa Neto, presidente do PL) delegou ao Bolsonaro o comando das eleições de 2026, e o candidato é ele até o momento, mesmo com a inelegibilidade. Acreditamos na reversão. Nada será feito sem o comando dele. Essas correntes (que defendem a escolha de outros nomes) são da política, tem gente ansiosa por aí. Existem deputados e pessoas do centro que defendem uma definição, mas ainda falta muita água para rolar até a eleição. Bolsonaro segue como o nome mais forte, mas criou outras candidaturas com chances enormes, como a do Tarcísio — pondera Altineu.

Bolsonaro deve mergulhar, nos próximos meses, no projeto “Rota 22”, no qual o próprio ex-presidente cumprirá uma série de agendas em municípios de grande densidade populacional, espalhados por oito estados. O objetivo é que Bolsonaro vá aos locais e, junto de prefeitos e governadores, faça atos enumerando os feitos da sua gestão na Presidência.

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