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Nunes se aproxima do bolsonarismo com ida a ato e críticas ao STF, mas é mais discreto nas redes

No fim de semana, prefeito disse não ser possível 'achar que isso é normal' quando questionado sobre tornozeleira eletrônica; na última segunda, compartilhou vídeo de Tarcísio defendendo Bolsonaro

Ricardo Nunes, prefeito de SP, nunca se identificou como "bolsonarista", mas tem se aproximado desse setor da direita neste segundo mandatoRicardo Nunes, prefeito de SP, nunca se identificou como "bolsonarista", mas tem se aproximado desse setor da direita neste segundo mandato - Foto: Nelson Almeid/AFP

Reeleito ano passado com o apoio formal de Jair Bolsonaro (PL), o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), nunca se identificou como “bolsonarista”, mas tem se aproximado desse setor da direita neste segundo mandato.

No domingo (3), ele compareceu ao ato em apoio ao ex-presidente na Avenida Paulista, ainda que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que historicamente é sua principal ponte com Bolsonaro, estivesse ausente.

Um dia antes, Nunes ainda criticou a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que havia colocado tornozeleira eletrônica no ex-presidente, uma mudança de tom que vem sendo vista aos poucos — no ano passado, o prefeito costumava se esquivar de críticas à Corte.

Apesar de alguma aproximação com o núcleo bolsonarista, Nunes ainda tenta se equilibrar entre o perfil de direita e de centro direita, sobretudo nas redes sociais.

Nesta segunda, por exemplo, após o ministro Alexandre de Moraes determinar a prisão domiciliar de Bolsonaro, Nunes optou por compartilhar um vídeo feito por Tarcísio defendendo o ex-presidente, em vez de fazer uma publicação própria sobre o tema.

No ato do domingo, a mesma estratégia foi adotada: só mostrou publicamente que estava na Paulista ao compartilhar uma foto ao lado de seu vice, Mello Araújo (PL), nos stories do Instagram.

Na ocasião, quem discursou foi o vice-prefeito, não Nunes, em ação inimaginável em qualquer cerimônia político-administrativa da gestão.

Mas, aos poucos, nas falas e nas alianças, Nunes tem dado sinais de uma engrenada cada vez mais à direita. Desde que assumiu a prefeitura pelo segundo mandato, tem se colocado contra o apoio de seu partido, o MDB, ao presidente Lula (PT), se aproximou mais do PL — que possui duas secretarias em sua gestão, além do vice — e tem endossado algumas pautas caras ao bolsonarismo, como a defesa da anistia aos condenados pelo 8 de janeiro e, mais recentemente, a crítica ao endurecimento do STF contra Bolsonaro.

Além disso, tem adotado um discurso cada vez mais “linha dura” na segurança pública, também visando o eleitorado mais conservador.

Segundo aliados, o prefeito tem tentado acenar, "quando possível", para parte do paulistano que o elegeu, principalmente aqueles que o escolheram pelo endosso de Tarcísio, mas sem esquecer que ele é de um partido historicamente de centro-direita e que, numa cidade como São Paulo, “precisa governar para todos”.

Um aliado diz que o foco dele é a gestão, mas em determinados momentos, como nessa manifestação na Paulista, aproveita para mostrar que é um “representante da direita”, e que o vice bolsonarista também ajuda a manter pontes com esse eleitorado.

Nas palavras de um outro aliado, trata-se de um “bolsonarismo de ocasião”.

No sábado, Nunes disse que “não é normal” Bolsonaro estar em prisão domiciliar, e disse que a medida tomada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) “extrapolou um pouco”. O discurso destoa do tom que vinha sendo adotado antes pelo prefeito, que geralmente se esquiva de comentar decisões judiciais relativas ao ex-presidente.

— Num país democrático que a gente vive, alguém que não está condenado estar sendo submetido a uma prisão domiciliar… Hoje, sábado, e no domingo, ele não pode sair de sua casa, não pode sair depois das 19h, está com tornozeleira, sem estar condenado, eu acho que extrapolou um pouco e a gente precisa se posicionar. Com muito respeito com a nossa Suprema Corte, mas não é possível achar que isso é normal, o que está acontecendo com ele pode amanhã acontecer com qualquer pessoa — falou a jornalistas durante visita à Festa da Achiropita, na Bela Vista, em São Paulo.

Um dos motivos para a maior guinada à direita é a possibilidade de Nunes renunciar em abril do ano que vem para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes, no caso de o atual titular do estado concorrer à Presidência da República. Porém, a ideia pode esbarrar no “fator Mello Araújo” que, conforme mostrou o Globo no mês passado, tem angariado desafetos nos primeiros escalões da prefeitura.

Ainda segundo uma pessoa próxima ao prefeito paulistano, o fato de Mello criar atritos com secretários e assessores, juntamente com uma postura de inabilidade político-administrativa, pode “pregar Ricardo Nunes na cadeira da prefeitura em 2026”.

No Palácio dos Bandeirantes, a pedra no sapato de Ricardo Nunes também tem as digitais do vice-prefeito e um membro do governo estadual diz ainda que dificilmente o administrador paulistano teria condições de “limpar a barra” de Mello Araújo, sobretudo devido ao temperamento do número 2 da cidade, o que poderia inviabilizar os acordos partidários formados para a reeleição de Nunes. Em 2024, o prefeito foi eleito com o apoio de dez legendas.

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