Carnaval sem o Galo de Sávio
Após sete anos à frente da concepção do Gigante Maestro, divergências com a PCR motivaram saída do artista
Sávio afirma que foi convidado para uma conversa em que lhe propuseram que pintasse todo o Galo de cinza, para que o monumento pudesse ser grafitado por outros artistas, seguindo a temática da arte de rua que vai reger a decoração carnavalesca na Cidade. Sentindo a integridade conceitual da sua criação ameaçada, declinou do serviço.
“Você não pode se dirigir a um artista que fez o que eu fiz, com uma proposta indecorosa dessas. Foi uma proposta feita para eu não aceitar”, explica. A decisão, provavelmente, deve culminar na escolha de um o profissional que aceite assumir as especificações determinadas pela Prefeitura.
Dois aspectos preocupam Sávio sobre essa interrupção de seu trabalho à frente do Galo. Primeiramente, a tranquilidade de cerca de 50 pessoas que trabalhavam com ele na confecção da obra, que era fruto de um projeto social chamado Coração Caju. “Repassava bem os valores para eles, pelo tempo que eles trabalhavam. Mas, ganhavam um bom dinheiro porque eu sempre paguei bem. Não era uma coisa feita com nenhuma empresa, era um projeto social. Eu nunca cobrei a minha parte, verdade seja dita. Nunca cobrei meu trabalho artístico”, relata.
O outro questionamento do artista é social: afinal, mesmo em tempos de crise, o município terá despesas com um novo Galo, em vez de aproveitar a estrutura - testada e aprovada - utilizada nos últimos carnavais. “A Prefeitura tem muitas dívidas. E vai fazer um novo Galo?”, questiona. Procurada, até o fechamento desta edição, a PCR não se pronunciou sobre o novo projeto, limitando-se a dizer que todas as informações devem ser repassadas em coletiva.
ENTREVISTA> Sávio Araújo (artista plástico)
“Eu imaginei o Galo vazado. Dei a solução”
Quais foram as inovações implementadas por você nesses anos à frente do Galo?
Eu poupei a Prefeitura de uma situação onde a possibilidade do Galo cair era muito grande. Ele era preso com tonéis de água, sem qualquer garantia de que aguentaria ventania. Eu imaginei o Galo vazado, como se fosse feito de pastilhas. As penas são presas com elástico, viram persianas, é uma parte da tecnologia. Um exaustor de ar nas costas do Galo, uma abertura onde o vento entrava, também foi uma criação minha. Eu dei a solução para o Galo.
Essas tecnologias estão patenteadas?
Eu fiz um registro, mas não fiz, por exemplo, das persianas. Porque no momento em que sai em todos os jornais e todas as televisões exatamente isso, eu já tenho o registro. Registro é quando você torna público. Se eu for para um juiz e disser que a técnica é minha, eu vou ganhar, porque o mundo todo sabe que fui eu quem fez aquilo. O que eu gostaria de registrar agora é que não havia necessidade de me tratar desse jeito, isso não pode acontecer nem comigo nem com ninguém.
Você acha que eles copiarão sua tecnologia?
Eles podem inventar uma outra forma de fazer tranquilamente. Isso é responsabilidade deles, espero que dê tudo certo.

