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Cientista de Stanford alerta sobre a habilidade humana que está mais em risco; saiba qual

O especialista em empatia Jamil Zaki enfatiza que a capacidade de se conectar com outras pessoas é uma habilidade humana treinável

Amigas conversandoAmigas conversando - Foto: Pexels

Apesar do que é dito atualmente, os seres humanos são, de longe, os campeões mundiais em gentileza, colaboração e união. Ainda, segundo Jamil Zaki, psicólogo, diretor do Laboratório de Neurociência Social de Stanford e especialista internacional em empatia, o que torna os seres humanos especiais é o que podem fazer e fazem juntos.

"Nossa capacidade de nos conectarmos com os outros, especialmente com aqueles diferentes de nós, é um ato de resistência, uma forma de combater o discurso popular que nos divide e destrói" enfatiza.

Zaki nos lembra que, em um mundo tão polarizado como o de hoje, cultivar a esperança significa escolher confiar, e que essa decisão pode transformar relacionamentos, sociedades e culturas.

Empatia: a qualidade que está em perigo
Zaki dedicou os últimos 20 anos de sua vida a estudar como as conexões sociais podem ser aprimoradas para o crescimento individual e comunitário.

"Quando me tornei cientista, comecei a estudar empatia" diz ele.

Ele aprendeu que se trata de um superpoder humano que todos carregam consigo, e o descreve como a capacidade de entrar no mundo de outra pessoa e estar com ela.

"Também compreendi que a empatia está em perigo hoje em dia" alerta.

Mas nem tudo são más notícias. Como ele explica, a empatia não é inata; é uma habilidade treinável. É algo que pode ser desenvolvido por meio de práticas que vão da meditação à observação compassiva dos outros.

A empatia apresenta uma composição de três pilares. Primeiro, ela é composta pela capacidade de sentir o que os outros sentem; a segunda parte é tentar entender o que a outra pessoa sente e por quê — chamada de empatia cognitiva. E, terceiro, há o desejo de fazer com que os outros se sintam melhor, de ajudá-los se pudermos. É isso que chamamos de compaixão.

Zaki relembra o caso de McAleer. Vinte anos atrás, McAleer era um dos supremacistas brancos mais famosos e declarados em seu país natal, o Canadá. Ele costumava expressar abertamente o quanto odiava pessoas que eram diferentes dele em termos de raça ou etnia, explica o especialista.

"Em suas entrevistas e muitas conversas, descobri que ele odiava todo tipo de pessoa, mas a que mais odiava era ele mesmo. Ele era uma pessoa profundamente destruída" conta.

Mas isso mudou graças a duas coisas: ter filhos e fazer terapia. Zaki explica que cuidar de outra geração de seres humanos, preocupar-se com eles e amá-los permitiu que ele percebesse o quão ridículo era odiar outras pessoas, o quão doloroso era, e que seu ódio poderia prejudicar o futuro de seus filhos se eles estivessem associados a ele.

Esse foi o primeiro passo: perceber que queria mudar. O próximo passo foi adquirir as ferramentas necessárias para lidar com essa mudança. Foi assim que ele acabou em um consultório de terapia:

"Ele fez terapia com uma profissional maravilhosa e eles desenvolveram uma conexão profunda. Chegou um momento em que Tony se sentiu tão seguro que achou que poderia compartilhar seu maior problema: seu ódio" relembra Zaki.

Ele se abriu e admitiu que havia sido, e em parte ainda era, um supremacista branco. Seu terapeuta reagiu ao ódio com compaixão, até mesmo amor — e isso libertou Tony. Ele passou o resto da sessão chorando e o resto da semana se reconstruindo do zero.

"Ele não apenas deixou grupos de ódio, como também criou um novo chamado Vida Após o Ódio. Hoje, McAleer se dedica a remover pessoas de grupos de ódio para ajudá-las a se curar, pedir desculpas e reparar as coisas horríveis que fizeram" afirma.

Zaki ressalta que a divisão entre as pessoas é crescente. Ele aponta que nas décadas de 1950 e 1960, as pessoas discordavam umas das outras, mas ainda podiam sentar-se à mesma mesa e conversar sobre suas opiniões.

"Agora, evitamos uns aos outros" diz ele.

Quando duas pessoas com visões opostas se comunicam, elas frequentemente gritam uma com a outra, muitas vezes por celulares ou online. Nesse ambiente psicológico tóxico, nossa relação com a empatia começa a mudar. Podemos começar a sentir não apenas que ser empático é uma fraqueza, mas que pode ser perigoso, de acordo com o especialista.

Para confrontar esse paradigma, o especialista sugere ser cético e pensar como cientistas. Em um de seus livros, ele fala sobre ceticismo esperançoso, que envolve pensar como um cientista e estar aberto a evidências, mas também compreender que, como a maioria das pessoas está tão focada no negativo, quando se abrem mais e veem como as pessoas realmente são, ficam positivamente surpresos.

Zaki aponta décadas de evidências mostrando que a maioria das pessoas é mais confiável, generosa e amigável do que se imagina.

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