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Conflito

Confrontos entre manifestantes e policiais deixam dez mortos e 29 feridos no Quênia

As manifestações ocorrem no Dia de Saba Saba, ou dia sete do sete; A data celebra uma série de revoltas populares realizada em 1990, quando milhões de quenianos foram as ruas pedir por eleições diretas

Protestos no Quênia: Manifestantes sobem em veículo usado como barricada Protestos no Quênia: Manifestantes sobem em veículo usado como barricada  - Foto: Luis Tato / AFP

Dez pessoas foram mortas em todo o Quênia durante manifestações para marcar um "dia histórico de protesto", disse um órgão de direitos humanos da nação da África Oriental nesta segunda-feira.

As manifestações contra o governo do atual presidente, William Ruto, se iniciaram ainda na semana passada em todo o país em alusão ao aniversário de um ano de revoltas contra uma reforma tributária proposta pelo governo.

Já os protestos desta segunda-feira marcam o aniversário de 35 anos do Dia Saba-Saba, ou dia sete-sete, em homenagem a sete de julho de 1990, quando os quenianos exigiram o retorno à democracia multipartidária após anos de governo autocrático do então presidente Daniel arap Moi.

A Comissão Nacional de Direitos Humanos do Quênia (KNCHR) afirmou em um comunicado que "documentou dez mortos, vinte e nove feridos, dois casos de sequestro e trinta e sete prisões em dezessete condados". Não foram fornecidos mais detalhes.

No entanto, o órgão também observou a presença de "gangues criminosas portando armas rústicas, incluindo chicotes, bastões de madeira, facões, lanças, arcos e flechas" durante os protestos, afirmando que, na capital Nairóbi, "essas gangues encapuzadas foram vistas operando ao lado de policiais".

Pontos de controle e bloqueios em estradas
Desde o início da manhã, centenas de passageiros e viajantes noturnos ficaram retidos em postos de controle instalados na periferia de Nairóbi, alguns a mais de 10 km do centro da cidade, com apenas alguns veículos sendo autorizados a passar.

As estradas que levam a endereços do governo – incluindo a residência oficial do presidente, a State House, e o parlamento do Quênia – foram bloqueadas com arame farpado. Algumas escolas orientaram os alunos a ficarem em casa.

Os confrontos eclodiram em partes da capital quando manifestantes acenderam fogueiras e tentaram romper os cordões policiais. Os agentes responderam com gás lacrimogêneo e canhões de água.

Segundo o Nation, principal jornal queniano, as manifestações se espalharam por 17 dos 47 condados do país.

No condado de Meru, no leste do Quênia, um centro comercial na cidade de Makutano foi tomado pelas chamas.

Nuvens de fumaça preta espessa podiam ser vistas saindo do prédio. Na cidade de Ol Kalou, um manifestante foi morto a tiros e outro, que sofreu ferimentos por bala, sobreviveu.

Em Kamukunji, próximo ao local em Nairóbi onde os protestos originais do Saba Saba foram realizados, a polícia enfrentou grupos de manifestantes que acenderam fogueiras nas ruas.

Um pronunciamento do ex-primeiro-ministro Raila Odinga que estava marcado para essa noite foi cancelado.

Em comunicado, ele disse que "os bloqueios em toda a cidade, que dificultaram que as pessoas chegassem a Kamukunji", fizeram com que ele não pudesse "se juntar aos quenianos na comemoração deste dia importante".

No texto, o ex-premiê criticou a "força policial desonesta do Quênia que atira nas pessoas com impunidade, uma força herdada dos colonialistas", enquanto pedia por um diálogo nacional sobre a reforma da polícia do país.

Odinga foi preso após os protestos originais do Saba Saba em 1990, mas no ano passado declarou apoio ao governo.

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