Seg, 15 de Dezembro

Logo Folha de Pernambuco
Justiça

Decisão da CIJ é "um marco histórico para o clima", diz Vanuatu

Os Estados que violarem suas obrigações climáticas cometem um ato "ilícito" e podem ser obrigados a pagar indenizações aos países mais afetados.

Palácio da Paz, sede da Corte Internacional de Justiça (CIJ) em Haia, na HolandaPalácio da Paz, sede da Corte Internacional de Justiça (CIJ) em Haia, na Holanda - Foto: CIJ

Estados que violam suas obrigações climáticas cometem um ato "ilícito" e podem ser obrigados a pagar indenizações aos países mais afetados, concluiu a Corte Internacional de Justiça (CIJ) nesta quarta-feira (23), em um parecer consultivo que pode influenciar a jurisprudência mundial.

A opinião da mais alta instância judicial da ONU sobre as obrigações legais dos países para frear o efeitos da mudança climática e a responsabilidade econômica gerou expectativa, pois muitos especialistas acreditam que a opinião dos magistrados pode marcar uma virada nos litígios climáticos em todo o mundo.

"As consequências da mudança climática são graves e de longo alcance: afetam tanto os ecossistemas naturais quanto as populações humanas. Essas consequências ressaltam a ameaça urgente e existencial representada pela mudança climática", declarou o presidente da CIJ, Yuji Iwasawa, no início da audiência em Haia.

O tribunal concluiu por unanimidade que a "violação" das obrigações climáticas por um Estado constitui "um ato ilícito internacional", capaz de dar origem a indenização para os países afetados, sob certas condições e caso a caso.

"As consequências jurídicas decorrentes da prática de um ato ilícito internacional podem incluir (...) a reparação integral dos danos sofridos pelos Estados lesados na forma de restituição, indenização e satisfação", afirmou o juiz Iwasawa.

No entanto, os juízes acrescentaram que um nexo causal direto e certo deve ser estabelecido "entre o ato ilícito e o dano", o que, embora difícil de provar em tribunal, "não é impossível".

Este parecer é consultivo e não vinculativo, mas, por ser emitido pela mais alta autoridade judicial da ONU, estabelecerá uma interpretação jurídica sólida para orientar futuras ações ou decisões judiciais em todo o mundo em termos de justiça climática. Também poderá definir jurisprudência para leis.

- "Um marco" para o clima -

O ministro da Mudança Climática de Vanuatu, Ralph Regenvanu, disse que esta decisão é "um marco histórico para o clima".

"É uma mudança de rumo muito importante neste momento crítico", disse o ministro desta nação insular, onde a mobilização ativista chegou à Assembleia Geral da ONU, que solicitou aos 15 juízes da CIJ que se pronunciassem sobre duas questões.

Quais são as obrigações dos Estados, de acordo com o direito internacional, de proteger a Terra das emissões de gases de efeito estufa geradas pela combustão de petróleo, gás e carvão para as gerações presentes e futuras?

Quais são as consequências jurídicas das obrigações quando os Estados, "por meio de seus atos e omissões, causam danos significativos ao sistema climático", em especial aos Estados insulares mais vulneráveis de baixa altitude?

A segunda questão diz respeito às responsabilidades dos Estados pelos danos causados aos países pequenos e mais vulneráveis e suas populações, particularmente aqueles ameaçados pela elevação do nível do mar e condições climáticas extremas em regiões como o Oceano Pacífico.

"Com relação à obrigação de prevenir danos significativos ao meio ambiente, a Corte considera que ela também se aplica ao sistema climático, que é parte integrante e componente essencial do meio ambiente e deve ser protegido para as gerações presentes e futuras", afirmou o juiz Iwasawa.

O juiz acrescentou que "os efeitos adversos da mudança climática podem prejudicar significativamente o exercício efetivo de determinados direitos humanos, como o direito à saúde" e "o direito a um padrão de vida adequado".

O tribunal realizou sua maior audiência de todos os tempos no Palácio da Paz em dezembro, com a participação de mais de 100 nações e grupos. Como Davi versus Golias, o debate opôs pequenos países em desenvolvimento a economias avançadas.

Durante as audiências de dezembro, o tribunal ouviu mais de 100 petições, um recorde. Muitas vieram de pequenos Estados que compareceram ao tribunal pela primeira vez.

Grandes poluidores, como os Estados Unidos e a Índia, argumentaram que a legislação existente — a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC, na sigla em inglês) e as COPs anuais — é suficiente.

Sem contar que os Estados Unidos, sob o governo do presidente Donald Trump, retiraram seu financiamento da UNFCCC e se desvincularam de seu pacto histórico, o Acordo Climático de Paris.

Os países pequenos exigem indenizações de poluidores históricos, uma demanda inaceitável para países mais industrializados. Também exigem um cronograma para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis e o reconhecimento dos erros do passado.

Veja também

Newsletter