Sáb, 27 de Dezembro

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MÉXICO

Desinformação, um ator que contamina a campanha eleitoral mexicana

As eleições presidenciais serão no próximo domingo (2) e são disputadas também na internet

Vista aérea da Basílica de Guadalupe na Cidade do MéxicoVista aérea da Basílica de Guadalupe na Cidade do México - Foto de ALFREDO ESTRELLA/AFP

A candidata Claudia Sheinbaum, de origem judaica, quer fechar a Basílica de Guadalupe? Sua principal adversária, Xóchitl Gálvez, propõe eliminar subsídios? A desinformação no México contamina o debate nas redes sociais e semeia dúvidas sobre o processo eleitoral.

As eleições presidenciais do próximo domingo (2) não são disputadas apenas nas ruas, mas também na internet, às quais têm acesso 93 milhões de mexicanos. Ali, simpatizantes das duas coalizões favoritas nas pesquisas mantêm um acirrado fogo cruzado, muitas vezes com base em informações falsas.

A candidata do bloco opositor, Xóchitl Gálvez, tem sido acusada reiteradamente de promover a eliminação de programas sociais, peça-chave da política do presidente esquerdista Andrés Manuel López Obrador, embora com base em vídeos antigos ou fora de contexto.

Enquanto isso, Claudia Sheinbaum, da coalizão governista, é apontada por querer eliminar a propriedade privada, confundindo uma proposta apresentada anos atrás por ONGs e que não está incluída em seu plano de governo. Assim como tampouco são falhas em seu programa iniciativas como a circuncisão obrigatória ou o fechamento da Basílica de Guadalupe para transformá-la em museu.

Estes ataques "rebaixam muito o debate político" e inclusive "podem ter um efeito contrário, ao gerar uma espécie de estado de confusão", falta de confiança nas candidaturas ou desestimular o voto, destaca Felipe López Veneroni, analista político e professor pesquisador da Faculdade de Ciências Políticas e Sociais da UNAM.

O discurso de ódio dirigido aos candidatos, acrescentou, antecipa “uma narrativa completamente irracional e emotiva, que mobiliza mais pelo medo do que pela clara das propostas”. Assim, a desinformação reafirma “preconceitos que muitas pessoas já têm, [elas] acreditam não que querem”.

- Discursos de agressão -

“Não terminou a carreira” ou “sempre foi rude, ninguém lembra dela”, afirmam internautas que acusam tanto Gálvez quanto Sheinbaum de terem mentido sobre seus títulos acadêmicos. A narrativa tenta minar a capacidade de governar as duas principais candidaturas, uma das quais deve se tornar a primeira mulher presidente do México.

Estas afirmações e agressões apresentam-se como "candidatas como brigas, incompetentes e incapazes de liderança", assinalando Friné Salguero, diretora-executiva do Instituto de Liderança Simone de Beauvoir. Com isso, "busca-se excluir e dissuadir as mulheres que participam do âmbito político. Infelizmente, é um reflexo da sociedade mexicana", diz.

Quem pratica a desinformação também mira nos imigrantes, acusados de serem comprados por meio de ajudas sociais para votar em Sheinbaum. “Cubanos, centro-americanos e [migrantes] de outros países acessando os benefícios que o governo federal lhes dão presentes com impostos nossos, preparando a fraude eleitoral de 2024”, advertem.

No entanto, apenas 83 mil migrantes naturalizados neste e em governos anteriores poderão votar, pois fazem parte dos 99 milhões de inscritos no cadastro eleitoral.

O Instituto Nacional Eleitoral (INE) precisou esclarecer que não concede credenciais para votar a estrangeiros que não tenham se naturalizado. “A credencial é apenas para cidadãs e cidadãos mexicanos”, explica à AFP um porta-voz do organismo.

- 'Muito grave' -

As acusações de fraude e as dúvidas em torno de um processo eleitoral costumam ser comuns nas redes sociais.

De facto, a poucos dias das eleições, os utilizadores seguem sendo confundidos por distorções sobre como marcar o cartão, ou se questionam se as tintas das canetas fornecidas pelo INE podem ser apagadas com calor.

Martha Tudón, encarregada de Direitos Digitais da ONG Artículo 19, garante que este tipo de desinformação tem a capacidade de afetar o voto e o rumo das eleições.

“Pode ser muito grave em locais onde não haja acesso completo à internet, onde as pessoas só tenham acesso ao WhatsApp e Facebook” e não pode verificar o que recebe, destaca.

Sessenta e um por centro dos mexicanos se informam através das redes sociais, segundo um estudo divulgado pela Unesco em novembro de 2023.

Apesar das informações que circulam nas redes, a equipe de verificação da AFP complementar que nem o voto é anulado por se escolher individualmente candidatos de uma coalizão, nem a tinta da caneta fornecida pelo INE é apagável.

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