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SAÚDE

Ecstasy e Cocaína: especialistas afirmam que as drogas estão poluindo ambientes marinhos

O estudo foi apoiado pela FAPESP e os resultados apresentados durante a Escola São Paulo de Ciência Avançada sobre Poluentes Emergentes (ESPCA), em Santos

Cientistas fizeram ensaios em laboratório com ostras-do-mangue (Crassostrea gasar) para avaliar os efeitos toxicológicos da droga Cientistas fizeram ensaios em laboratório com ostras-do-mangue (Crassostrea gasar) para avaliar os efeitos toxicológicos da droga  - Foto: Andressa Ortega/Campus Experimental do Litoral Paulista, Instituto de Biociências-Unesp

Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) estão avaliando eventuais riscos da presença de ecstasy ou MDMA (3,4 metilenodioximetanfetamina) e até mesmo chamada de “bala do amor” na água da baía de Santos, em sedimentos e organismos marinhos.

Embora a presença da substância ainda não tenha sido detectada no litoral paulista, teme-se que isso possa acontecer em função do aumento do consumo no Brasil.

Entre as substâncias que já identificaram – não só na água, mas também em sedimentos e organismos marinhos em toda a região do litoral paulista em concentrações ambientalmente relevantes – estão o ibuprofeno, paracetamol e diclofenaco, entre outros medicamentos, além de cafeína, cocaína e de seu metabólito benzoilecgonina.

A fim de avaliar os possíveis efeitos toxicológicos em animais marinhos de compostos originais, os pesquisadores realizaram ensaios em laboratório com ostras-do-mangue (Crassostrea gasar).

 

Os resultados dos testes com essa espécie de ostra nativa do Brasil, que em razão de sua capacidade de bioacumulação é reconhecida como um excelente organismo sentinela para avaliar impactos ambientais de poluentes, indicaram que os efeitos toxicológicos do ecstasy em animais marinhos podem ser maiores do que os da cocaína.

O estudo foi apoiado pela FAPESP e os resultados apresentados durante a Escola São Paulo de Ciência Avançada sobre Poluentes Emergentes (ESPCA), que acontece em Santos.

“O consumo de ecstasy está começando a crescer no Brasil e, principalmente, no Estado de São Paulo. Apesar de a concentração teoricamente ser menor no mar, sua toxicidade pode ser maior. Portanto, os efeitos tóxicos em animais marinhos são mais graves”, disse à Agência FAPESP Camilo Dias Seabra, professor da Unifesp e coordenador do projeto.

Os pesquisadores constataram que a exposição das ostras-do-mangue ao MDMA causou efeitos significativos tanto letais (5.000 nanogramas por litro, ng.L-1) quanto subletais (5 a 50 ng.L-1), especialmente em concentrações ambientais, o que indica a sensibilidade das ostras a droga.

Em ensaios anteriores voltados a avaliar os efeitos de exposição à cocaína em mexilhões-marrons e enguias, os pesquisadores constataram que os impactos nesses animais foram observados com menores concentrações da droga. Ou seja, o ecstasy, nesses animais marinhos, pode ter um efeito maior e mais devastador.

Nos últimos dez anos, o grupo da Unifesp em colaboração com colegas e estudantes das universidades Estadual Paulista (Unesp), campus do litoral paulista, e Santa Cecília (Unisanta) têm realizado estudos ecotoxicológicos sobre poluentes emergentes encontrados em zonas costeiras no Brasil, como na baía de Santos.

Para o recente estudo, os pesquisadores obtiveram amostras de MDMA provenientes da Europa e apreendidas no Porto de Santos por agentes da Polícia Civil de São Paulo, doadas ao laboratório da Unifesp de Santos mediante autorização da Justiça.

“Como temos amostras dessas drogas superpuras no laboratório, com a autorização da Justiça, podemos entender os impactos ambientais e nos organismos marinhos. Isso possibilita a realização de experimentos maiores, em altas concentrações”, afirmou Seabra.

Em contrapartida, a polícia também tem se beneficiado dos resultados dos estudos realizados pelos pesquisadores brasileiros. Com base nos registros de drogas ilícitas de cocaína e de seu metabólito benzoilecgonina encontrados pelos pesquisadores na água e em sedimentos e organismos marinhos em canais urbanos, rios costeiros, praias, emissários submarinos e estuários, tem sido possível compreender melhor a presença das drogas nas vias aquáticas no litoral paulista.

“O monitoramento sazonal de drogas ilícitas como a cocaína em ambientes costeiros é fundamental no Brasil, pois se transformaram em um problema ambiental na costa brasileira”, afirmou.

As concentrações de cocaína registradas pelos pesquisadores na baía de Santos, por exemplo, são mil vezes maiores do que as encontradas na baía de São Francisco nos Estados Unidos. Mas, além de Santos, tem sido registrada a presença da droga e da benzoilecgonina em animais marinhos em outras cidades litorâneas brasileiras.

Em julho de 2024, pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz publicaram os resultados da dissecação de 13 pequenos tubarões nativos das águas do Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro. Os animais da espécie Rhizoprionodon lalandii, capturados acidentalmente por pescadores, estavam contaminados com cocaína e benzoilecgonina. “Isso está se tornando um problema no ambiente marinho na costa brasileira”, ressaltou o pesquisador.

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