Sáb, 06 de Dezembro

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Entenda: Por que os Estados Unidos mantêm bases militares no Oriente Médio?

Ataque do Irã a instalações no Catar e no Iraque reacende uma antiga controvérsia sobre a forte presença militar de Washington na região

O presidente dos EUA, Donald TrumpO presidente dos EUA, Donald Trump - Foto: Brendan Smialowski / AFP

O ataque do Irã nesta segunda-feira contra bases militares americanas no Oriente Médio reacendeu uma questão antiga (e controversa) na política externa americana: por que os Estados Unidos mantêm presença militar na região? A recente operação de Teerã — em retaliação ao bombardeiro perpetrado por Washington a três instalações nucleares iranianas —, mirou duas importantes bases no Iraque e no Catar.

No entanto, ainda há diversas infraestruturas militares americanas que podem se tornar alvo de novas ações em caso de escalada no conflito.

Com dezenas de bases espalhadas por ao menos 10 países, os Estados Unidos mantêm uma das maiores presenças militares fora do seu território justamente no Oriente Médio. O conjunto de instalações, que inclui navios, aviões e bases terrestres, serve a interesses estratégicos que vão da proteção de aliados ao acesso ao petróleo e, claro, à contenção de grupos armados ligados a Teerã.

De acordo com o Council on Foreign Relations (CFR), os EUA mantêm tropas em mais de 19 pontos da região, sendo oito considerados permanentes por analistas. O maior deles é a base aérea de al-Udeid, no Catar, que foi alvo da barragem de mísseis nesta segunda. Construída em 1996, o local abriga cerca de 10 mil soldados americanos e a sede avançada do Comando Central das Forças Armadas dos EUA.

De acordo com a agência de notícias Reuters, os EUA também mantêm tropas no Bahrein (sede da 5ª Frota da Marinha), no Kuwait, na Arábia Saudita, nos Emirados Árabes Unidos, no Iraque, na Síria, em Omã e na Turquia.

Origem da presença militar americana

A origem dessa rede remonta à Segunda Guerra Mundial, mas foi a Guerra do Golfo (1990-1991) que consolidou a presença militar americana no Oriente Médio. Com a expulsão das forças iraquianas do Kuwait, os EUA mantiveram tropas na região para dissuadir novas agressões.

Na sequência, os atentados de 11 de setembro de 2001 e a chamada “Guerra ao Terror” levaram à ampliação dessa estrutura, com invasões no Afeganistão e no Iraque. Em 2007, o número de militares americanos no Iraque chegou a 160 mil, segundo o Departamento de Defesa dos EUA.

Atualmente, embora o número de tropas seja bem menor, a presença continua expressiva: cerca de 40 mil militares estão no Oriente Médio, segundo uma fonte do Pentágono ouvida pelo Council on Foreign Relations. Eles atuam tanto em missões de combate, como a luta contra o Estado Islâmico no Iraque e na Síria, quanto em operações de contenção e dissuasão contra o Irã e seus aliados, como o Hezbollah no Líbano, os Houthis no Iêmen e milícias xiitas iraquianas.

A instabilidade recente entre Israel e Irã impulsionou novos reforços na região. Após o Irã lançar mísseis contra Israel e instalações americanas em retaliação ao ataque direto dos EUA a três sites nucleares iranianos, os Estados Unidos deslocaram bombardeiros B-2 para a base conjunta com o Reino Unido na ilha de Diego Garcia — estrategicamente próxima do Irã e do Iêmen.

Segundo a Reuters, os EUA também estão envolvidos em operações contra os Houthis no Mar Vermelho e no Golfo de Áden, além de conduzirem missões de treinamento com exércitos aliados, como o da Jordânia. Apesar dos riscos, umas vez que bases no Iraque e na Síria são alvos frequentes de ataques com drones e foguetes, instalações em países do Golfo, como Bahrein, Catar e Arábia Saudita, raramente sofrem agressões diretas como a que foi vista nesta segunda-feira.

O pano de fundo dessa presença permanente é um alinhamento estratégico com regimes do Golfo, consolidado desde a década de 1940, quando o presidente Franklin Roosevelt firmou um pacto com a Arábia Saudita para garantir petróleo em troca de proteção militar. Desde então, os EUA têm operado como fiadores da segurança regional, protegendo rotas marítimas vitais e tentando conter a expansão de Teerã, um rival histórico de Riad.

Todas essas bases existem com o aval formal dos governos anfitriões — com exceção da Síria, onde os EUA atuaram por anos sem consentimento para conter o Estado Islâmico. Recentemente, no entanto, o presidente americano, Donald Trump, deu o pontapé inicial para a normalização das relações com o país ao anunciar o fim das sanções contra Damasco, que no final do ano passado teve a ditadura de Bashar al-Assad derrubada por rebeldes.

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