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SAÚDE

Especialista descreve caso raro de lipedema em um homem no Brasil

Paciente tem 64 anos e estava no estágio 3 de 4 da doença; médicos retiraram 17 kg das pernas

LipedemaLipedema - Foto: Julia Larson / Pexels

O lipedema é uma doença vascular crônica que se caracteriza por um acúmulo anormal de gordura principalmente nos membros inferiores e de forma desproporcional ao restante do corpo. O diagnóstico foi descrito pela primeira vez ainda em 1940 por dois pesquisadores da Mayo Clinic, nos Estados Unidos, mas foi reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apenas em 2019.
 

Os casos são majoritariamente em mulheres. Entre as brasileiras, um trabalho publicado no periódico Jornal Vascular Brasileiro por pesquisadores paulistas, em 2022, estimou que 12,3% têm lipedema. Com base nos últimos números do Censo Demográfico do IBGE, o percentual representa cerca de 12,9 milhões de mulheres no país.

Mas é possível que homens também desenvolvam lipedema? Especialistas explicam que sim, embora seja extremamente mais raro – estimativas apontam para menos de 1% dos casos. Um deles foi identificado recentemente no Brasil, em São Paulo, pelo médico Fábio Kamamoto, um dos pioneiros no tratamento cirúrgico do lipedema no país e diretor do Instituto Lipedema Brasil.

"Em homens, o lipedema é ainda mais subdiagnosticado, pois a condição já é pouco conhecida e estudada no público feminino, onde é mais prevalente, então fica ainda mais difícil entender a doença no público masculino. Isso ocorre porque os sinais iniciais podem ser discretos, dificultando o diagnóstico precoce", diz o especialista.

O paciente em questão chama-se Luciano e é um homem de 64 anos que estava no estágio 3 dos 4 em que a doença é dividida de acordo com sua gravidade. O homem buscou o instituto após inúmeras tentativas com outros profissionais que não conseguiam solucionar o seu problema. A irmã de Luciano, Adriana, conta que o lipedema fazia ele ter “muitos sinais de sofrimentos”:

"Ele era dinâmico, tinha vida, e comecei a vê-lo se anular. Ele começou a ter dificuldades de locomoção, de autoestima. Nenhum profissional dava uma resposta clara sobre a sua saúde."

Kamamoto explica que o tratamento em homens é semelhante ao em mulheres: envolve técnicas como drenagem linfática, uso de meias de compressão e, nos casos mais graves, como o de Luciano, a cirurgia para remoção do excesso de gordura por meio de lipoaspiração. Na operação, os médicos retiraram 17 quilos apenas das pernas de Luciano. Adriana conta que o resultado foi melhor do que eles esperavam:

"Era uma coisa muito grande, bem desafiadora mesmo. E agora ficou perfeito. Eu pensei que iria dar uma melhorada na qualidade dele de andar, mas nunca imaginei que fosse ficar tão perfeito pela deformação que estava. Agora é fazer academia, voltar a trabalhar. Ainda tem muita vida pela frente."

Kamamoto aproveita a oportunidade para alertar sobre a importância de reconhecer os sinais do lipedema nos homens, “que incluem a presença de gordura localizada em áreas específicas do corpo, geralmente nas pernas e, em menor frequência, nos braços, e o aumento do volume da região, acompanhado de dor e sensibilidade”.

Os especialistas explicam ainda que essa menor ocorrência da doença no sexo masculino se deve ao fato de a doença ser muito associada à ação de hormônios femininos, especialmente do estrogênio, no seu desenvolvimento.

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