Família de seis pessoas é arrastada por enchente nos EUA, e parentes relatam angústia durante buscas
Ao todo, fenômeno repentino deixou ao menos 80 mortos e 41 desaparecidos
Hailey Chavarria estava sentada no domingo em frente a uma igreja que oferece abrigo para sobreviventes da enchente repentina do feriado de 4 de Julho — e para famílias como a dela, que correram para Kerrville, no Texas, na esperança de reencontrar entes queridos com quem perderam o contato. Ao todo, as enchentes já deixaram ao menos 80 mortos, incluindo 28 crianças, e 41 desaparecidos.
Para a jovem professora de 28 anos, a espera tem sido angustiante. Cinco membros de sua família — sua mãe, padrasto, uma tia, o marido da tia e um primo — continuavam desaparecidos três dias após uma torrente de água atingir o acampamento deles às margens do rio Guadalupe, onde estavam reunidos para o que deveria ser um feriado festivo.
Apenas uma integrante da família, a prima Devyn Smith, de 22 anos, foi encontrada com vida, agarrada desesperadamente a uma árvore. O resgate dela foi registrado em vídeo — um raro momento de alívio em dias tão sombrios. Ela foi arrastada por mais de 24 km rio abaixo, atravessando três barragens, passando por trailers e eletrodomésticos destruídos, das 4h até cerca das 10h da sexta-feira.
— Devyn continua hospitalizada, com grampos na cabeça e cada centímetro do corpo arranhado e machucado — disse Hailey. — Quanto aos demais, só espero que estejam em algum lugar. E mesmo que seja o pior cenário, que ao menos a gente tenha algo identificado e encontrado. Se eu pensar demais ou considerar o pior desfecho, provavelmente vou perder a cabeça.
Segundo Hailey, a família havia se programado para passar a noite de quinta-feira, véspera do feriado, em barracas montadas junto ao rio. A enchente, porém, chegou antes do amanhecer e invadiu o acampamento. Eles correram para os carros na tentativa de escapar, mas a correnteza foi implacável. Um dos caminhões da família foi encontrado vazio e amassado contra uma árvore.
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Momentos de terror
No domingo, cerca de uma dúzia de parentes, incluindo o pai de Hailey, Joe Chavarria, chegaram ao condado de Kerr com motosserras e machados para tentar abrir caminho entre árvores caídas e destroços no último local onde os desaparecidos foram vistos. À tarde, os familiares se reuniram em frente à igreja Calvary Temple, onde Hailey tentava manter a irmã mais velha, Celeste Helms, de 34 anos, de pé.
— Estamos indo de centro em centro, e ninguém consegue nos dar uma resposta — disse Hailey. — Não culpo quem trabalha nesses centros, porque dá pra ver que eles querem ajudar muito, sabe? Acho que é mais uma questão de que a cidade, o condado, não estavam preparados para algo assim. Tudo que eu faço é ficar olhando para o celular.
Devyn Smith, a prima sobrevivente, contou a Hailey os momentos de terror. Na noite de quinta-feira, começou a garoar. Por volta das 4h da sexta-feira, os acampantes foram acordados pela chuva. Eles sabiam que corriam perigo, e já tinham tentado fugir antes que os celulares emitissem o alerta de enchente.
A mãe de Hailey, a tia, o padrasto e um primo entraram na caminhonete quando a água começou a subir. Alguns ainda tentaram alertar um segundo grupo que havia se abrigado em um carro menor, em um terreno mais baixo, e que teria saído pelo teto solar enquanto a água cercava o veículo. Depois disso, não se teve mais notícias deles. Horas depois, os socorristas encontraram a caminhonete cinza tombada de lado.
Busca frustrante
Hailey descreveu a mãe, Michelle Crossland — que havia comemorado recentemente seus 50 anos com uma grande festa — como uma “mulher selvagem”, e o marido dela há 17 anos, Cody Crossland, de cerca de 45 anos, como um homem resistente, que tocava em uma banda e estudava para ser barbeiro. Ela acredita que ele teria feito de tudo para sobreviver.
— Todos os instintos de sobrevivência dele teriam se ativado, e ele teria acalmado minha mãe, porque sei que ela teria surtado — disse Hailey.
O grupo costumava viajar junto, com idas frequentes a Las Vegas, mas essa foi a primeira vez que Hailey soube de um acampamento deles na região de Kerrville. Celeste, a irmã de Hailey, disse que seu filho de 12 anos quase foi junto.
— Graças a Deus ele acabou não indo. Nem consigo imaginar — disse.
Os familiares relataram que a busca tem sido frustrante. Não há um responsável central informando as famílias sobre os resgatados vivos ou mortos. Hailey contou que recorreu a ligações para funerárias.
— Só quero saber se meu familiar está aí. É tudo o que peço. Mesmo que tenha falecido — disse ela, descrevendo pedidos feitos de forma repetida.
Outro parente, Eric Sanchez, de 53 anos, também de Midland, ficou ao lado das irmãs, com expressão séria.
— Vim assim que soube que estavam desaparecidos — disse. — Estamos apenas esperando qualquer notícia

