Governo Trump revoga regras climáticas e fecha escritórios de Justiça ambiental nos EUA
Republicano mirou em normas de incentivo à produção de carros elétricos e investimento em energia verde e desmantelou 10 agências que acompanhavam a poluição em comunidades vulneráveis
O governo do presidente americano Donald Trump reverteu nesta quarta-feira diversas políticas climáticas importantes, incluindo duas regras que miravam a emissão de veículos e usinas de energia, além do fechamento de escritórios de justiça ambiental que acompanham a poluição em comunidades vulneráveis.
Leia também
• Siderurgia brasileira deve perder US$ 1,5 bi de exportações com as tarifas de Trump, mostra Ipea
• Brasil não planeja tomar represálias contra tarifas ao aço impostas por Trump
• Trump espera que Putin aceite cessar-fogo na Ucrânia
A medida representa um grande golpe no progresso que vinha sendo feito nos Estados Unidos sobre a questão climática, sobretudo na administração anterior, que tinha a agenda como uma de suas prioridades.
A Agência de Proteção Ambiental (EPA, em inglês) anunciou que acabará com as regras que incentivavam os setores de eletricidade e de fabricação de automóveis a adotarem formas mais limpas de energia.
O departamento também se prepara para reconsiderar uma descoberta científica que serviu de base para uma regulamentação federal voltada para a redução da poluição climática, segundo a CNN americana.
A EPA pretende, ainda, desmantelar uma norma do governo do ex-presidente Joe Biden que teria levado as montadoras americanas a produzir mais carros elétricos e híbridos, acrescentou a rede.
As mudanças acontecem apenas um dias após Trump ter exibido na Casa Branca carros elétricos da Tesla, comandada pelo seu aliado de primeiro hora e chefe do Departamento de Eficiência Governamental (Doge, em inglês), Elon Musk.
Com as ações da empresa em baixa devido a acidentes recentes com alguns de seus veículos, Trump prometeu na ocasião comprar um modelo para si.
Fim da justiça ambiental
O governo ainda decidiu fechar escritórios de justiça ambiental que acompanham a poluição em comunidades de baixa renda e de minorias nos Estados Unidos, entre elas o “Cancer Alley” — região na Louisiana, próxima a áreas de extração de petróleo e refinarias, onde as taxas de poluição no ar ultrapassam os limites permitidos.
A medida, que afetará os 10 escritórios regionais e a sede da agência, foi relatada pela primeira vez pelo New York Times e confirmada pelo chefe da EPA, Lee Zeldin, nesta quarta-feira.
— O problema é que, em nome da justiça ambiental, uma fortuna foi enviada a grupos ativistas de esquerda — disse Zeldin aos repórteres. — O presidente Trump quer que ajudemos a inaugurar uma era de ouro nos Estados Unidos que seja para todos os americanos, independentemente de raça, gênero, origem.
Grupos ambientalistas reagiram:
— O presidente Trump e seus aliados não têm nenhuma consideração pelo bem-estar das pessoas que vivem nos Estados Unidos e se preocupam apenas em proteger os lucros dos poluidores — disse Chitra Kumar, da Union of Concerned Scientists.
— Essa medida abominável deixará aqueles que vivem, trabalham, estudam e se divertem perto de indústrias poluidoras, tráfego formador de fumaça e cursos d'água e solo contaminados, com pouco apoio da própria agência da qual dependem para fazer cumprir a lei de proteção.
Biden fez da justiça ambiental um pilar central da sua agenda verde. Sua iniciativa Justice40 — revertida por Trump — visava direcionar 40% dos investimentos federais em clima, energia limpa e moradia acessível para comunidades historicamente marginalizadas.
A Lei de Redução da Inflação, assinada por Biden, alocou US$ 3 bilhões para o Escritório de Justiça Ambiental e Direitos Civis Externos, criado pelo ex-presidente republicano George H.W. Bush em 1992.
Na segunda-feira, a EPA anunciou que estava cortando 400 subsídios, totalizando US$ 1,7 bilhão, de iniciativas de justiça ambiental.
Na semana passada, o Departamento de Justiça de Trump também anunciou que estava desistindo de um processo em nome da EPA contra a Denka Performance Elastomer em relação à sua fábrica de neoprene em LaPlace, Louisiana.
A fábrica, localizada no trecho conhecido como “Cancer Alley”, responde por cerca de um quarto da produção petroquímica dos EUA. O local é conhecido por ter uma das maiores taxas de câncer do país devido a poluição do ar.
A EPA ainda planeja cortar 65% de sua equipe de aproximadamente 15 mil funcionários, deixando cerca de 5 mil empregados.
A frente da agência, Zeldin disse que havia “algumas centenas” de funcionários em estágio probatório que já haviam saído, e os funcionários restantes estavam sendo solicitados a justificar suas posições.
— Quero saber o que cada funcionário definiria como sua descrição de trabalho, o que eles acreditam ser seu trabalho, quem eles acreditam ser seu supervisor, o que eles acreditam ser o trabalho de seu supervisor — disse ele, acrescentando que essas respostas ajudariam a determinar as próximas rodadas de cortes de pessoal.

