Sex, 05 de Dezembro

Logo Folha de Pernambuco
crime organizado

Investigação aponta que PCC usou rede de laranjas em esquema de lavagem de dinheiro

As informações constam em relatório da PF que detalha um dos braços do esquema

Investigação aponta que PCC usou rede de laranjas em esquema de lavagem de dinheiroInvestigação aponta que PCC usou rede de laranjas em esquema de lavagem de dinheiro - Foto: Reprodução/PF

A investigação da Polícia Federal que apura suspeitas de lavagem de dinheiro por meio de postos de combustíveis ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC) identificou o uso de uma série de laranjas entre pessoas humildes para omitir os reais proprietários dos negócios.

Entre os nomes estão eletricistas, motoboys, lavadores de carros. A lista inclui até mesmo um homem morto há mais de quatro anos.

As informações constam em relatório da PF que detalha um dos braços do esquema revelado pela megaoperação contra o crime organizado, deflagrada na semana passada. O ação foi classificada pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, como “a maior da história”.

De acordo com a investigação, o esquema movimentou mais de R$ 23 bilhões por meio de postos de combustíveis, distribuidoras, holdings, empresas de cobrança e instituições de pagamento — algumas autorizadas pelo Banco Central.

Segundo o documento obtido pelo Globo, um dos integrantes da facção, após deixar o sistema prisional em 2017, passou a estruturar uma rede de lavagem de dinheiro a partir da criação de empresas de fachada, “arregimentando comparsas, cooptando laranjas e expandindo cada vez mais suas atividades”.

“Trata-se de pessoas humildes (como lavadores de carro, vendedores, motoboys e eletricistas) as quais, não obstante já terem sido descortinados em operações policiais anteriores, continuam deliberadamente praticando atos formais e fornecendo seus dados pessoais para serem utilizados sub-repticiamente pelos líderes do grupo criminoso na constituição de empresas”, diz um trecho do relatório.

Entre os nomes usados pelo grupo estava o de um homem que morreu em 2021 e, mesmo assim, constava como sócio de quatro empresas. Apenas uma delas, segundo a PF, recebeu R$ 5,9 milhões em 2.396 depósitos fracionados em dinheiro em espécie.

Esse mesmo negócio, em nome do morto, realizou 730 transferências de recursos “de forma dissimulada e sem lastro fiscal” a distribuidoras de combustíveis, movimentando entre janeiro de 2019 e agosto de 2023, R$ 169,6 milhões. Outra empresa em nome de Joaquim, sem qualquer funcionário registrado, recebeu R$ 5,2 milhões de empresas investigadas.

Outro suposto laranja, segundo o relatório da investigação, admitiu que trabalhava como motoboy e recebia R$ 1,5 mil por mês para atuar em nome do grupo. Nos registros formais, ele aparecia vinculado a pelo menos 18 empresas. De acordo com a PF, o motoboy contribuiu ao longo dos anos “de forma frequente e substancial na atividade de branqueamento de capitais desenvolvida pelo grupo”.

Um eletricista de Piracicaba (SP), a 158 quilômetros da capital paulista, também admitiu ter “emprestado” seu nome para figurar como sócio minoritário de uma empresa do grupo que movimentou R$ 982 milhões. “Ele contou não saber nada da administração dessa empresa”, registra o relatório.

Ao todo, foram identificados 28 postos de combustíveis envolvidos no esquema, sendo 27 no Paraná e 1 em São Paulo, registrados em nome de laranjas.

As operações que miraram no megaesquema de lavagem de dinheiro pelo PCC foram realizadas em conjunto pela Polícia Federal, Receita Federal e Ministério Público de São Paulo.

Além de redes de postos de gasolina, a a investigação aponta o uso de refinarias, lojas de conveniência, fundos de investimento e fintechs. Foram cumpridos mandados de busca e apreensão contra 350 alvos, entre pessoas físicas e jurídicas, em sete estados.

Veja também

Newsletter