Investigação aponta que PCC usou rede de laranjas em esquema de lavagem de dinheiro
As informações constam em relatório da PF que detalha um dos braços do esquema
A investigação da Polícia Federal que apura suspeitas de lavagem de dinheiro por meio de postos de combustíveis ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC) identificou o uso de uma série de laranjas entre pessoas humildes para omitir os reais proprietários dos negócios.
Entre os nomes estão eletricistas, motoboys, lavadores de carros. A lista inclui até mesmo um homem morto há mais de quatro anos.
As informações constam em relatório da PF que detalha um dos braços do esquema revelado pela megaoperação contra o crime organizado, deflagrada na semana passada. O ação foi classificada pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, como “a maior da história”.
De acordo com a investigação, o esquema movimentou mais de R$ 23 bilhões por meio de postos de combustíveis, distribuidoras, holdings, empresas de cobrança e instituições de pagamento — algumas autorizadas pelo Banco Central.
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Segundo o documento obtido pelo Globo, um dos integrantes da facção, após deixar o sistema prisional em 2017, passou a estruturar uma rede de lavagem de dinheiro a partir da criação de empresas de fachada, “arregimentando comparsas, cooptando laranjas e expandindo cada vez mais suas atividades”.
“Trata-se de pessoas humildes (como lavadores de carro, vendedores, motoboys e eletricistas) as quais, não obstante já terem sido descortinados em operações policiais anteriores, continuam deliberadamente praticando atos formais e fornecendo seus dados pessoais para serem utilizados sub-repticiamente pelos líderes do grupo criminoso na constituição de empresas”, diz um trecho do relatório.
Entre os nomes usados pelo grupo estava o de um homem que morreu em 2021 e, mesmo assim, constava como sócio de quatro empresas. Apenas uma delas, segundo a PF, recebeu R$ 5,9 milhões em 2.396 depósitos fracionados em dinheiro em espécie.
Esse mesmo negócio, em nome do morto, realizou 730 transferências de recursos “de forma dissimulada e sem lastro fiscal” a distribuidoras de combustíveis, movimentando entre janeiro de 2019 e agosto de 2023, R$ 169,6 milhões. Outra empresa em nome de Joaquim, sem qualquer funcionário registrado, recebeu R$ 5,2 milhões de empresas investigadas.
Outro suposto laranja, segundo o relatório da investigação, admitiu que trabalhava como motoboy e recebia R$ 1,5 mil por mês para atuar em nome do grupo. Nos registros formais, ele aparecia vinculado a pelo menos 18 empresas. De acordo com a PF, o motoboy contribuiu ao longo dos anos “de forma frequente e substancial na atividade de branqueamento de capitais desenvolvida pelo grupo”.
Um eletricista de Piracicaba (SP), a 158 quilômetros da capital paulista, também admitiu ter “emprestado” seu nome para figurar como sócio minoritário de uma empresa do grupo que movimentou R$ 982 milhões. “Ele contou não saber nada da administração dessa empresa”, registra o relatório.
Ao todo, foram identificados 28 postos de combustíveis envolvidos no esquema, sendo 27 no Paraná e 1 em São Paulo, registrados em nome de laranjas.
As operações que miraram no megaesquema de lavagem de dinheiro pelo PCC foram realizadas em conjunto pela Polícia Federal, Receita Federal e Ministério Público de São Paulo.
Além de redes de postos de gasolina, a a investigação aponta o uso de refinarias, lojas de conveniência, fundos de investimento e fintechs. Foram cumpridos mandados de busca e apreensão contra 350 alvos, entre pessoas físicas e jurídicas, em sete estados.

