Sáb, 06 de Dezembro

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RÚSSIA X UCRÂNIA

Líderes europeus discutem ação conjunta na Ucrânia em meio a pedidos de garantias de segurança

Encontro em Paris se insere em uma tentativa dos aliados europeus de participarem das decisões sobre o conflito

Líderes europeus discutem ação conjunta na Ucrânia em meio a pedidos de pressão e de garantias de segurançaLíderes europeus discutem ação conjunta na Ucrânia em meio a pedidos de pressão e de garantias de segurança - Foto: Ludovic Marin/Pool/AFP

Líderes europeus e representantes de governos de 30 países e da União Europeia se reuniram nesta quinta-feira em Paris para discutir conjuntamente a estratégia coletiva de defesa diante das mudanças no cenário do Leste Europeu, com as negociações entre Rússia e Ucrânia, mediadas pelos EUA.

França e Reino Unido tentam emplacar a iniciativa apelidada de "coalizão dos dispostos", que visa o envio de tropas a Kiev para contenção de Moscou — um plano que ainda não reuniu apoio entre os aliados e foi alvo de críticas russas —, em meio a pedidos de pressão continuada contra o regime de Vladimir Putin enquanto nenhuma saída diplomática prospera.

O encontro em Paris se insere em uma tentativa dos aliados europeus, mais próximos da situação na Ucrânia, de participarem das decisões sobre o conflito, uma vez que foram excluídos da principal frente de negociação organizada pelos EUA. Com o retorno de Donald Trump à Casa Branca, os europeus perderam influência, sobretudo em decorrência da reabertura do diálogo entre Washington e Moscou.

Anfitrião do encontro, o presidente francês, Emmanuel Macron, é um dos maiores patrocinadores — ao lado do premier britânico, Keir Starmer — da chamada "coalizão dos dispostos", uma iniciativa que as potências europeias pretendem emplacar para garantir o envio de tropas ao território ucraniano ao fim da guerra como forma de impedir uma nova invasão russa no futuro. Apesar do importante apoio das duas potências nucleares do continente, os outros países no bloco ainda não se comprometeram em aderir à proposta — que já foi considerada insuficiente por autoridades de Kiev em declarações públicas.

Apesar de tema central da pauta, autoridades europeias e ucranianas fizeram declarações nesta quinta ao chegarem para a reunião em que indicam estar passos atrás da pretensão. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou que a Europa precisa "provar" que "pode se defender". Na quarta-feira, um negociador ucraniano ouvido pela AFP afirmou diretamente que a "mera presença" de tropas europeias no país não teriam serventia, se fossem apenas uma forma de demonstrar que estão presentes, mas que seria necessário que estivessem preparados "para lutar".

Enquanto, o presidente do Conselho Europeu falou em "manter a pressão" sobre Rússia, em uma aparente referência a sanções econômicas e financeiras — que as Rússia pretende derrubar em troca do acordo sobre a trégua no Mar Negro.

"A melhor maneira de apoiar a Ucrânia é permanecer constante em nosso objetivo de alcançar a paz justa e duradoura. Isso significa manter a pressão sobre a Rússia através das sanções", escreveu António Costa, autoridade europeia, em um comentário no X.

Apesar da falta de um sinal verde dos aliados e da oposição russa à ideia do envio de tropas, analistas apontam que o comparecimento à reunião mostra que os esforços europeus para criar uma resposta conjunta estão dando frutos — ao menos no sentido de criar um consenso sobre o apoio contínuo a Kiev.

— Estamos e permaneceremos resolutamente ao lado da Ucrânia — disse Macron em uma coletiva de imprensa na quarta-feira à noite, após uma reunião bilateral com Zelensky. — O futuro do continente europeu e nossa segurança estão em jogo.

Ainda não está claro qual papel os EUA teriam dentro do plano que a Europa tenta gestar. O enviado dos EUA ao Oriente Médio, Steve Witkoff, classificou como "simplista" a ideia de enviar tropas ao país do Leste Europeu, e os americanos já demonstraram que não se importam de confrontar os interesses ucranianos para tentar obter um acordo final, e a Europa para que aumente seus gastos de defesa.

Antes do encontro, o Palácio do Eliseu anunciou que Macron conversou por telefone com o presidente dos EUA, Donald Trump, embora não tenha oferecido detalhes sobre o conteúdo da discussão.

O último avanço obtido por meio das negociações americanas foi um compromisso — ainda frágil — de trégua em ataques a instalações de energia em ambos os países e contra embarcações no Mar Negro. Kiev e Moscou trocaram acusações sobre descumprimentos e hostilidades.

Um fonte do governo ucraniano alegou nesta quinta-feira, um dia após o presidente do país dizer que a Rússia não demonstrava compromisso com o processo de paz ao atacar a Ucrânia, que os dois lados vêm respeitando o discutido sobre instalações energéticas desde 25 de março.

Moscou, porém, contesta a narrativa, e acusou Kiev de atacar instalações energéticas russas nos dias 25 e 26 de março, citando um depósito subterrâneo de gás na Crimeia, região ucraniana anexada pela Rússia em 2014, e instalações elétricas nas regiões russas de Briansk e Kursk. (Com NYT e AFP)

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