Médica se choca ao ver corpos dos mortos em praça: 'Já vi muito coisa difícil, mas nada se compara'
Maria Sampaio se voluntariou para atender pessoas feridas, mas entendeu que não poderia fazer nada
Os desdobramentos da operação policial nos complexos do Alemão e da Penha, a mais letal da história do estado, segue chocando os moradores. Uma delas foi Maria Sampaio, médica pela UFRJ, que chegou por volta das 9h na Penha para atender, voluntariamente, pessoas feridas. No entanto, ao chegar na comunidade, entendeu que não poderia fazer nada:
— Não tem nada para fazer aqui. Achei que iria encontrar pessoas feridas, precisando de atendimento médico, mas só há pessoas mortas, todas já em estado de decomposição.
Segundo ela, assim que chegou na Penha viu uma fileira de corpos estendidos na pista. Atordoada pela situação, decidiu subir a mata com moradores para tentar retirar outros mortos.
— A gente subiu, consegui ajudar na remoção de um corpo, mas, com certeza, tem muito mais para chegar. Eu trabalho como médica há 3 anos, já vi muito coisa difícil, mas nada se compara a isso.
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O governador Cláudio Castro disse, em coletiva, que, até o momento, o balanço confirma 58 mortos, sendo 54 suspeitos e os 4 policiais. O dado, no entanto, diverge do balanço oficial divulgado pelo governo até o fim da noite do ontem, que somava 64 óbitos.
— Nós não contabilizamos imagens e fotos a partir do momento que eles chegam ao IML. A polícia faz esse trabalho. Daqui a pouco fica uma guerra dos números. Por enquanto, são 58, sendo 54 suspeitos e quatro policiais. E esse dado vai mudar, e não é maior ainda porque o trabalho da perícia não terminou.
Desde as primeiras horas da manhã desta quarta-feira, moradores da Penha recuperam corpos na região de mata da Vacaria, na Serra da Misericórdia, que já ultrapassa 120.

