Sex, 05 de Dezembro

Logo Folha de Pernambuco
INTOXICAÇÃO

Metanol do PCC pode ter sido repassado para fábricas de bebida clandestina, aponta associação

ABCF diz suspeitar que o metanol usado para adulterar as bebidas pode ser o mesmo importado ilegalmente pela facção para misturar aos combustíveis

Metanol do PCC pode ter sido repassado para fábricas de bebida clandestinaMetanol do PCC pode ter sido repassado para fábricas de bebida clandestina - Foto: Pexels

A facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) pode estar por trás dos recentes casos de intoxicações provocadas por bebidas alcoólicas adulteradas em São Paulo, segundo a Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF).

Em nota divulgada neste domingo, 28, a entidade diz suspeitar que o metanol usado para adulterar as bebidas pode ser o mesmo importado ilegalmente pela facção para misturar aos combustíveis.

Segundo o Centro de Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo (CVS), duas pessoas morreram por intoxicação por metanol em bebidas alcoólicas na capital paulista e em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.

Ainda conforme o CVS, outros seis casos foram confirmados desde junho. Atualmente, 10 pacientes são investigados por possível contaminação pela mesma substância.

Há um mês, uma grande operação do Ministério Público de SP contra o crime organizado constatou o uso de combustível adulterado em postos alvos. Os estabelecimentos usavam 90% de metanol - o máximo permitido é de 0,5% da substância na gasolina e no álcool.

Para a ABCF, o fechamento nas últimas semanas de distribuidoras e formuladoras de combustível "diretamente ligadas ao crime organizado", pode ser a causa dessa recente onda de intoxicações e envenenamentos de consumidores. Investigações do MP apontam que o PCC importa o metanol de maneira fraudulenta para adulteração de combustíveis.

Ainda segundo a entidade, a facção e seus parceiros podem "eventualmente ter revendido tal metanol para destilarias clandestinas e quadrilhas de falsificadores de bebidas, auferindo lucros milionários em detrimento da saúde dos consumidores".

A ABCF apontou ainda que o Estado de São Paulo vive um surto de violência e que a crise econômica, associada ao desemprego, ajuda na escalada da criminalidade, levando muita gente a buscar recursos na informalidade. "Uma conjuntura que leva essas pessoas diretamente aos braços da facção criminosa dominante em nosso Estado, o PCC", diz.

Retomada do sistema de controle
A entidade defende a retomada do Sistema de Controle de Produção de Bebidas (Sicobe), desativado em 2016, para restabelecer a rastreabilidade das bebidas no País.

"Desde o desligamento do Sicobe, que era operado pela RF (Receita Federal) e pela Casa da Moeda do Brasil, os volumes de bebida falsificadas no país aumentaram muito, em bilhões de litros, bem como a sonegação fiscal advinda dessa atividade criminosa", diz.

De acordo com o anuário da falsificação da ABCF 2025, o setor de bebidas foi o mais prejudicado pelo mercado ilegal no último ano, com perdas estimadas em 88 bilhões de reais, 29 bilhões em sonegação de tributos e 59 bilhões restantes de perdas de faturamento das indústrias que sofrem com tais fraudes e falsificações.

Sobre a retomada do Sicobe, a reportagem entrou em contato com a Receita Federal e aguarda retorno.

O que é metanol?
Também chamado de álcool metílico, o metanol é um biocombustível altamente inflamável, que pode ser obtido por meio da destilação destrutiva de madeiras, processamento da cana-de-açúcar, ou de gases de origem fóssil. Suas propriedades químicas são semelhantes ao etanol, mas com um nível mais elevado de toxidade

Utilizada como solvente em indústrias químicas, a substância também é aplicada para a fabricação de plásticos e para a produção de biodiesel e combustível.

A ingestão acidental ou intencional de metanol provoca intoxicações graves e pode levar à morte. De acordo com o Governo, a adulteração de bebidas aumenta a gravidade da situação, já que, do ponto de vista de saúde pública, pode causar surtos epidêmicos com casos severos e alta taxa de letalidade.

Desde o último sábado, 27, a Secretaria da Saúde de São Paulo recomendou que bares, restaurantes e locais que fazem a venda de bebidas chequem com atenção a procedência dos produtos oferecidos pelo fornecedores.

A pasta alerta ainda que a população compre apenas bebidas de fabricantes legalizados e que possuam rótulo, lacre de segurança e selo fiscal, evitando opções de origem duvidosa para prevenir casos de intoxicação que podem colocar a vida em risco.
 

Veja também

Newsletter