Mulino denuncia novas pressões dos EUA por empresas chinesas no Panamá
Segundo o presidente, funcionários da embaixada dos Estados Unidos no Panamá ameaçaram retirar os vistos de entrada de funcionários panamenhos que favoreçam a presença de empresas chinesas no país
O presidente do Panamá, José Raúl Mulino, denunciou nesta quinta-feira (16) pressões dos Estados Unidos sobre funcionários panamenhos para reduzir a presença de empresas chinesas em seu país.
Desde antes de assumir o cargo, em janeiro, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaça recuperar o canal do Panamá sob o argumento de que a via interoceânica está sob controle de Pequim.
Agora, segundo Mulino, funcionários da embaixada dos Estados Unidos no Panamá ameaçaram retirar os vistos de entrada de funcionários panamenhos que favoreçam a presença de empresas chinesas no país.
"Eu tenho essa informação, de várias pessoas, de que há uma funcionária por aí da embaixada ameaçando retirar vistos, isso não é coerente com uma boa relação que eu aspiro manter com os Estados Unidos", disse Mulino durante sua coletiva de imprensa semanal.
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"Eles são livres para conceder ou retirar vistos de quem quiserem, mas não ameaçando que, se você não fizer isso, eles retiram o visto", acrescentou.
Mulino respondeu dessa forma a um jornalista que lhe perguntou sobre pressões da embaixada dos Estados Unidos sobre ministros, deputados e advogados panamenhos para prejudicar empresas chinesas no Panamá.
"Os contratos que existem com empresas chinesas por parte do Estado são muito conhecidos e muito poucos" e "não podem ser eliminados, por mais que sejam os Estados Unidos", afirmou o presidente.
"Eu só aspiro ao respeito, não me ocorreria ir ao estado da Califórnia para falar sobre os problemas do estado da Califórnia ou dos Estados Unidos dentro do seu território", acrescentou.
A presença chinesa no Panamá remonta à metade do século XIX, quando cidadãos do gigante asiático chegaram para trabalhar na construção da ferrovia interoceânica.
O Panamá mantém relações diplomáticas com a China desde 2017. Desde então, empresas chinesas ganharam licitações para realizar várias obras de infraestrutura, como um porto para cruzeiros e uma nova ponte sobre o canal do Panamá.
Em junho, o governo de Trump cancelou o visto do ex-presidente panamenho Martín Torrijos (2004-2009), junto com outros políticos e ativistas, por criticar um acordo que permite o envio de militares americanos ao país centro-americano.

