Ter, 16 de Dezembro

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SAÚDE

Novo estudo indica que chiclete libera microplásticos na boca; entenda

Pesquisadores pregam cautela sobre potencial impacto de partículas na saúde humana

Chiclete faz mal? Estudo indica liberação de microplásticos Chiclete faz mal? Estudo indica liberação de microplásticos  - Foto: Freepik

A goma de mascar — também conhecida como chiclete — libera centenas de microplásticos diretamente na boca, de acordo com um estudo apresentado nesta terça-feira por pesquisadores, que permanecem cautelosos sobre o potencial impacto na saúde dos consumidores.

Micropartículas de plástico (com menos de cinco milímetros) já foram detectadas no ar, na água, em alimentos, embalagens, tecidos sintéticos, pneus e cosméticos. Todos os dias, os humanos os ingerem, inalam ou entram em contato com eles através da pele.

Dos pulmões aos rins, ao sangue e ao cérebro, microplásticos foram encontrados em quase todas as partes do corpo humano. Embora os cientistas não tenham certeza sobre seu impacto na saúde, vários já fizeram soar um alarme sobre possíveis prejuízos ao organismo.
 

— Não quero assustar as pessoas — disse à AFP Sanjay Mohanty, principal autor do estudo, apresentado em uma reunião da Sociedade Química Americana e submetido para a revisão por pares, mas ainda não publicado.

Não há evidências, até o momento, de uma ligação direta entre microplásticos e alterações na saúde humana, observou o pesquisador da Universidade da Califórnia, em Los Angeles (UCLA). O objetivo do estudo, segundo ele, era destacar um caminho pouco explorado pelo qual pequenas frações de plástico, muitas vezes invisíveis, entram em nossos corpos: a goma de mascar.

Lisa Lowe, uma doutoranda na UCLA, mascou sete pedaços de dez marcas diferentes de chiclete, e então os pesquisadores fizeram uma análise química de sua saliva. Eles concluíram que um grama de goma de mascar liberou uma média de 100 microplásticos, mas que algumas dessas gomas foram liberadas mais de 600. O peso médio de um pedaço de goma de mascar é de cerca de 1,5 gramas.

Quais ingredientes?
Segundo os cientistas, pessoas que mascam cerca de 180 chicletes por ano podem ingerir cerca de 30 mil microplásticos. No entanto, essa é uma quantidade pequena comparada às muitas outras oportunidades de ingestão desse tipo de partícula, ponderou Mohanty.

Por exemplo, outros pesquisadores estimaram no ano passado que um litro de água em uma garrafa plástica continha uma média de 240 mil microplásticos. O tipo mais comum de goma de mascar vendida em supermercados, chamada sintética, contém polímeros à base de petróleo para obter o efeito mastigável, disseram os pesquisadores. No entanto, a embalagem não menciona nenhum plástico.

— Ninguém lhe dirá quais são os ingredientes — disse Mohanty.

Os pesquisadores testaram cinco marcas de gomas sintéticas e cinco marcas de gomas naturais, que usam polímeros de origem vegetal, como seiva de árvore.

— Ficamos surpresos ao descobrir que os microplásticos eram abundantes em ambos os casos — disse Lowe à AFP.

A goma de mascar libera quase todos os microplásticos nos primeiros oito minutos de mastigação, de acordo com os pesquisadores. David Jones, pesquisador da Universidade de Portsmouth, no Reino Unido, que não participou do estudo, disse que os fabricantes deveriam ser obrigados a detalhar os ingredientes de forma mais precisa nas embalagens.

Jones disse ter ficado surpreso que os pesquisadores tenham encontrado alguns plásticos cuja presença não era conhecida na goma de mascar, sugerindo que eles poderiam ter vindo de outra fonte, como a água bebida pela doutoranda. Mas disse que os resultados gerais são "nada surpreendentes".

E a goma de mascar também é uma fonte de poluição, observou Lowe, especialmente quando as pessoas "a cospem na calçada". Questionada pela AFP, a Wrigley, maior fabricante de gomas de mascar do mundo, não respondeu.

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