Novos confrontos no sul da Síria, apesar da retirada das tropas governamentais
A Presidência síria afirmou que trabalha no envio de uma "força especial" à região "para pôr fim aos confrontos e resolver o conflito" na cidade
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Após a retirada das forças governamentais, a violência continuou nesta sexta-feira (18) em Sweida, no sul da Síria, aonde chegaram combatentes sunitas de outras áreas do país para enfrentar os grupos drusos.
A Presidência síria afirmou que trabalha no envio de uma "força especial" à região "para pôr fim aos confrontos e resolver o conflito" na cidade, pouco depois de os combates voltarem a eclodir.
Segundo um correspondente da AFP, na noite de sexta-feira, cerca de 200 combatentes de tribos árabes sunitas, que chegaram pela manhã em apoio aos beduínos locais, trocaram disparos de armas automáticas e projéteis com grupos drusos posicionados dentro da cidade.
O Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH) confirmou os combates na região e reportou que "bairros da cidade estavam sendo bombardeados".
A ONU pediu fim ao "derramamento de sangue" após os confrontos que começaram na região de maioria drusa no domingo e deixaram, até então, 638 mortos, segundo o último balanço do OSDH.
Em comunicado, o presidente sírio pediu que "todas as partes mostrem moderação".
'Pedidos de ajuda'
A violência não deu trégua, apesar da retirada das forças governamentais na quinta-feira da cidade de Sweida. O presidente interino da Síria, Ahmad al Sharaa, afirmou que ordenou a saída das tropas para evitar uma "guerra aberta" com Israel.
O Exército israelense bombardeou nos últimos dias alvos governamentais na província de Sweida e em Damasco, alegando que pretendia defender os drusos, uma minoria presente em Israel e nas Colinas de Golã sírias, ocupadas pelos israelenses desde 1967.
O governo sírio enviou suas forças à região na terça-feira, com o objetivo de encerrar os confrontos entre combatentes drusos e tribos beduínas sunitas locais.
Grupos drusos e testemunhas acusaram as forças governamentais de lutarem ao lado dos beduínos e de realizarem execuções sumárias durante a mobilização em Sweida.
Na manhã de sexta-feira, os combatentes das tribos árabes sunitas, que viajaram de várias regiões da Síria para apoiar os beduínos, se posicionaram em várias localidades nas proximidades de Sweida, segundo correspondentes da AFP.
Um líder tribal, Anas al Enad, disse à AFP, perto da localidade de Walgha, que viajou com seus combatentes da região central de Hama "para responder aos pedidos de ajuda dos beduínos".
Um correspondente da AFP observou casas, lojas e carros queimados ou ainda em chamas na cidade drusa de Walgha, agora sob o controle de forças tribais e beduínas.
'Não temos água'
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) declarou estar "profundamente preocupado com a rápido deterioração da situação humanitária" na região.
"As pessoas estão sem nada. Os hospitais estão enfrentando cada vez mais dificuldades para atender os feridos e doentes", declarou Stephan Sakalian, chefe da delegação do CICV na Síria.
"Não temos água ou eletricidade, e estamos começando a ficar sem medicamentos", contou Rouba, uma funcionária do hospital estatal de Sweida, à AFP.
Esta unidade médica, única que segue funcionando no local, recebeu "mais de 400 corpos desde a manhã de segunda-feira", incluindo mulheres e crianças, declarou o médico Omar Obeid à AFP nesta sexta.
Na cidade de Sweida, que sofre uma escassez de água e de energia elétrica e onde as comunicações estão cortadas, "a situação é catastrófica, não há nem leite em pó para bebês", declarou à AFP o editor-chefe do portal de notícias Suwayda 24, Rayan Maaruf.
O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, pediu nesta sexta-feira uma investigação rápida sobre a violência.
"O derramamento de sangue e a violência devem cessar, e a proteção de todas as pessoas deve ser a prioridade absoluta. Devem acontecer investigações independentes, rápidas e transparentes sobre todas as violações e os responsáveis devem prestar contas", declarou Türk.
Cerca de 80 mil pessoas foram deslocadas pela violência, informou a Organização Internacional para as Migrações (OIM).
A comunidade drusa da Síria, com uma grande concentração em Sweida, tinha quase 700 mil pessoas antes do início da guerra civil.

