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Assembleia Geral da ONU

ONU recebe negociações climáticas um dia após críticas de Trump

O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, abrirá o encontro na sede das Nações Unidas em Nova York, onde mais de 100 países apresentarão seus planos para combater o aquecimento global

O presidente dos EUA, Donald Trump, faz comentários na Assembleia Geral das Nações Unidas na sede da ONU em Nova YorkO presidente dos EUA, Donald Trump, faz comentários na Assembleia Geral das Nações Unidas na sede da ONU em Nova York - Foto: Angela Weiss / AFP

Líderes de 118 países participam nesta quarta-feira (24) de uma reunião de cúpula em Nova York na qual defenderão a luta contra as mudanças climáticas, um evento que não terá a presença de representantes dos Estados Unidos, um dia após o presidente Donald Trump afirmar que o aquecimento global é uma "farsa".

O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, abrirá o encontro na sede das Nações Unidas em Nova York, onde mais de 100 países apresentarão seus planos para combater o aquecimento global.

Tudo isso um dia após Trump afirmar na tribuna da Assembleia Geral, em um longo discurso, que a luta contra as mudanças climáticas é "a maior farsa já realizada contra o mundo", que as previsões de aumento de temperatura vêm de "pessoas estúpidas que fizeram seus países gastarem fortunas" e que as energias renováveis não têm a eficácia dos combustíveis fósseis.

Mas representantes de pequenos países vulneráveis à mudança climática, como São Cristóvão e Neves, tentarão responder respeitosamente a Trump.

A proliferação de algas, as tempestades antecipadas... "Tudo isso é causado pela mudança climática acelerada, que ameaça nosso pilar econômico, o turismo", disse o primeiro-ministro Terrance Michael Drew à AFP antes do início da cúpula.

O premiê chinês, cujo país emite 30% dos gases do efeito estufa do planeta, anunciará, previsivelmente, um objetivo histórico: reduzir as emissões até 2035.

Até agora, a China não se comprometeu a cortar as emissões de dióxido de carbono, um dos principais gases causadores do efeito estufa. O país prometeu atingir um pico de emissões até 2030, o que parece estar conseguindo com cinco anos de antecedência graças ao avanço da energia solar e dos carros elétricos.

Muitos países ricos, historicamente os mais poluentes, atingiram o pico de emissões há décadas, mas carecem de um plano viável para alcançar a neutralidade de carbono dentro de 25 anos.

"Todos os olhos estão voltados para a China", disse à AFP Li Shuo, do centro de estudos Asia Society.

Li Shuo espera um objetivo de redução conservador, ao redor de 10% ou até menos, para os próximos 10 anos.

Uma meta que, embora possa decepcionar os ambientalistas, demonstrará o compromisso de Pequim com o multilateralismo climático. "A China é agora a superpotência das tecnologias verdes", afirmou.

Uma COP30 difícil
O secretário-geral da ONU, António Guterres, convidou para a reunião apenas os países dispostos a apresentar metas atualizadas de combate ao aquecimento global até o ano 2035.

A medida é uma obrigação do histórico Acordo de Paris assinado em 2015. Os países membros, quase a totalidade do planeta, com exceção de algumas nações como Irã, Líbia e, em breve, Estados Unidos, estabelecem de maneira livre suas metas, mas precisam atualizá-las a cada cinco anos.

Os compromissos, no entanto, são frequentemente considerados insuficientes. E muitos estão atrasados, começando pela UE, onde França e Alemanha bloquearam a apresentação a tempo de um plano mais ambicioso.

O atual cenário aumenta as expectativas sobre um cronograma da China, que permitirá recalcular a trajetória mundial antes da grande reunião de cúpula do clima prevista para novembro na cidade brasileira de Belém, a COP30, que se anuncia desafiadora.

"As COPs não são eventos isolados. Elas refletem tensões geopolíticas", afirmou Ana Toni, diretora-geral do evento brasileiro.

Equilíbrio diplomático
A ONU tenta manter um equilíbrio entre o catastrofismo e a confiança na diplomacia.

De um lado, Guterres reconheceu em entrevista à AFP que a esperança de limitar o aquecimento a 1,5°C até o final deste século, em comparação com a temperatura média de meados do século XIX, "estava prestes a desmoronar".

A comunidade científica calcula que, atualmente, o aquecimento já alcança 1,4°C.

Do outro lado, o diretor da ONU Clima, Simon Stiell, insiste que o Acordo de Paris de 2015, que estabeleceu a meta e os objetivos por país, está funcionando, ao menos parcialmente.

"Sem a cooperação climática na ONU, estaríamos caminhando para um cenário de aquecimento de 5°C, um futuro possível. Atualmente, estamos mais propensos a um aumento de 3°C. É muito, mas a curva está melhorando", disse na segunda-feira em Nova York.

Parte da "melhoria" vem da China. Metade da energia elétrica do país ainda depende da queima de carvão, mas a proporção era de quase 75% há uma década.

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