Sex, 05 de Dezembro

Logo Folha de Pernambuco
OPINIÃO

Alcione - A Voz Marrom que Vence o Tempo

No dia 21 de novembro, o Brasil celebra mais do que o aniversário de uma cantora: celebra um símbolo nacional. Alcione Dias Nazareth, a eterna Marrom, completa 78 anos de vida - e continua entoando sua voz inconfundível com a mesma potência, elegância e verdade que encantaram o país desde os anos 1970. É raro encontrar um artista que atravesse tantas décadas mantendo relevância, vigor e amor pelo que faz. Alcione é uma dessas raridades.

Nascida em São Luís do Maranhão, filha do maestro e compositor João Carlos Nazareth, Alcione cresceu envolta em acordes e partituras. Foi com o pai que aprendeu a tocar instrumentos de sopro e, ainda jovem, tornou-se cronner da Orquestra Jazz Guarani, regida por ele. Essa experiência, hoje praticamente extinta na formação de novos intérpretes, deu-lhe uma base musical sólida, apurada e sofisticada. A convivência com músicos de orquestra moldou sua percepção rítmica e harmônica, fazendo dela uma cantora precisa, de afinação impecável e fraseado refinado.

Antes de conquistar o grande público, a Marron passou pelas noites cariocas, paulistas e estrangeiras, levando sua voz a palcos de diversos países. Essa vivência internacional ampliou seu repertório e lapidou sua versatilidade: Alcione canta com domínio absoluto em diferentes idiomas - português, italiano, francês e inglês - sem jamais perder a autenticidade do seu timbre e da sua expressão. Sua assinatura vocal é única, reconhecível em qualquer canto do mundo.

Com uma carreira marcada por sucessos como “Não Deixe o Samba Morrer”, “Você Me Vira a Cabeça”, “Meu Ébano”, “Sufoco” e “A Loba”, Alcione consolidou-se como uma das maiores intérpretes da música brasileira. Sua voz tem a força do samba, a ternura do bolero e a sofisticação do jazz. E tudo isso sem jamais abandonar sua raiz popular, a conexão direta com o povo - aquele que a chama, carinhosamente, de Marrom.

Hoje, aos 78 anos, Alcione mantém uma agenda intensa de shows, projetos e gravações. A vitalidade com que encara o palco é o retrato de uma artista que nunca se acomodou. Canta como quem celebra a vida - com entrega, emoção e respeito à sua própria história.

Em tempos de efemeridade e vozes fabricadas, Alcione continua sendo sinônimo de verdade artística. Sua trajetória é uma aula de musicalidade, disciplina e autenticidade. E seu aniversário é motivo de celebração não apenas para os fãs, mas para toda a cultura brasileira.  Alcione é mais que uma cantora: é um monumento vivo à canção brasileira - uma sinfonia em tom marrom, que segue ecoando forte, firme e eterna.

Veja também

Newsletter