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Allan Kardec: o educador que codificou o espiritismo e influenciou gerações

Muito antes de seu nome se tornar sinônimo de espiritismo, Allan Kardec — pseudônimo de Hippolyte Léon Denizard Rivail — já era um respeitado educador francês. Nascido em 1804, em Lyon, e fortemente influenciado pelo pedagogo suíço Johann Heinrich Pestalozzi, Rivail dedicou grande parte da vida ao ensino e à produção de livros didáticos, com ideias consideradas avançadas para sua época. Defensor de uma educação racional, laica e acessível, ele viria, anos depois, a sistematizar uma doutrina que hoje reúne milhões de adeptos ao redor do mundo — especialmente no Brasil.

A virada em sua trajetória ocorreu já na maturidade, quando passou a investigar os chamados fenômenos espíritas, como as “mesas girantes”, populares na Europa do século XIX. Longe de descartar tais manifestações como mera superstição, Kardec adotou uma abordagem de caráter científico: observou, registrou e analisou comunicações atribuídas a inteligências desencarnadas, por meio de médiuns.

Esse trabalho resultou na publicação de O Livro dos Espíritos, em 1857 — obra inaugural do espiritismo e pedra fundamental do que viria a ser chamado de Codificação Espírita.

Nos anos seguintes, o educador publicou outros quatro livros essenciais: O Livro dos Médiuns (1861), O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864), O Céu e o Inferno (1865) e A Gênese – Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo (1868). Essas cinco obras formam o chamado Pentateuco Espírita, onde estão sistematizados os princípios fundamentais da doutrina, como a imortalidade da alma, a reencarnação, a comunicação entre os mundos material e espiritual e a evolução moral do ser humano. Para Kardec, o espiritismo não era uma religião no sentido tradicional, mas sim uma doutrina de natureza científica, filosófica e moral, com consequências religiosas.

Além dos livros, Kardec fundou a Revista Espírita – Jornal de Estudos Psicológicos (1858–1869), periódico mensal no qual publicava análises, relatos de experiências mediúnicas e reflexões doutrinárias. Após sua morte, em 1869, foi lançada a obra Obras Póstumas (1890), reunindo manuscritos inéditos e textos íntimos que revelam um panorama ainda mais profundo de seu pensamento.

Curiosamente, o nome “Allan Kardec” teria sido utilizado por ele em uma encarnação anterior, entre os druidas. Esse detalhe ilustra um dos pilares centrais do espiritismo: a reencarnação.

Embora tenha vivido e morrido na França, foi no Brasil que o espiritismo encontrou seu maior campo de expansão. O país é hoje o principal reduto espírita do mundo, com milhões de adeptos, centenas de centros de estudos, vasta produção literária e audiovisual, além de ações sociais inspiradas nos princípios de fé, razão e caridade que Kardec tanto valorizava.

Segundo a tradição espírita, Allan Kardec contou com a orientação do Espírito da Verdade, considerado seu guia espiritual na codificação da doutrina. Ele teria sido o responsável por conduzir os ensinamentos morais e filosóficos presentes nas obras básicas. Além dele, outros espíritos, como Erasto, também contribuíram para a construção dos fundamentos doutrinários. Ainda assim, é o Espírito da Verdade quem ocupa posição central na elaboração e orientação espiritual das obras, sendo visto como a principal fonte dos conhecimentos transmitidos por Kardec.

Mais de 150 anos após a publicação de O Livro dos Espíritos, o legado do educador francês continua vivo, provocando reflexões sobre a vida, a morte e os caminhos da alma — sempre à luz da razão, da moral e do amor ao próximo.


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