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OPINIÃO

Dom Quixote na Fliporto 2025 - 1.ª Parte

A crônica anterior, Dom Quixote e o Rotary - 2ª Parte (Folha de Pernambuco, 04/11/2025), nos informou que o cavaleiro andante ainda tinha um compromisso na cidade do Recife, no Parque Dona Lidu, local da Fliporto 2025 (Festa Literária Internacional de Pernambuco), no dia 15 de novembro, para realizar a palestra “420 anos de Dom Quixote - Personagens Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade”.

Na caminhada ao destino do evento, quando atravessava o rio Capibaribe, entre os bairros da Ilha do Leite e Joana Bezerra, Dom Quixote lembrou-se do rio Ebro, em Zaragoza, onde, ao lado de Sancho Pança, viveu a “aventura do barco encantado” (Cap. XXIX, II Parte). Adiante, ao chegar à Praia de Boa Viagem e assistir à luta dos arrecifes com as águas do Oceano Atlântico, foi a vez de recordar a Praia de Barcelona, a Barceloneta, quando ele e Sancho Pança viram o mar pela primeira vez (Cap. LXI, II Parte). Tudo lhe deslumbrava.

Ao chegar ao Parque Dona Lidu, Dom Quixote admirou as instalações do projeto do arquiteto Oscar Niemeyer. Bem recepcionado pelo coordenador da Fliporto, o advogado, escritor e acadêmico Antônio Campos e assistentes, na conversa soube que a palestra estava prestes a acontecer, no Teatro Luiz Mendonça. Subitamente, citou o refrão: “cortesias geram cortesias” (Cap. LXI, II Parte).

Enquanto aguardava sua vez, Dom Quixote escutou o desfecho da palestra que estava sendo realizada sobre a biografia do poeta Miró da Muribeca. Achando interessantes os comentários do biógrafo palestrante e do mediador, ele disse às pessoas próximas o que já tinha escrito sobre a poesia: “O poeta nato que se auxiliar da arte será muito melhor, e com vantagem, do que o poeta que somente por saber a arte quer sê-lo: a razão é que a arte não se avantaja à natureza, mas aperfeiçoa; assim, misturadas a natureza e a arte, e a arte com a natureza, produzirão um perfeitíssimo poeta” (Cap. XVI, II Parte).

Um clima favorável regia o ambiente… Por sinal, foi neste intervalo que apresentaram a este cronista o novo diretor do Instituto Cervantes do Recife, o espanhol Luis Ángel Macías Amigo… Denotando boas impressões e seriedade, desejamos sucessos no novo desafio.

Anunciada a palestra sobre o Quixote, com mediação do historiador, professor e acadêmico George Cabral, atual presidente do IAHGP (Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco), as primeiras palavras do cavaleiro andante foram de boas-vindas às damas e cavaleiros da plateia… e para fazer ver a todas e todos que o livro era a razão de estarmos na Fliporto, este primoroso instrumento em que se registram, por meio da escrita, as ideias da humanidade, e que isso, em parte, quanto à literatura, se deve ao “livro dos livros”, O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de la Mancha, do escritor Miguel de Cervantes, por ser considerado o primeiro romance moderno e por ter sido gerado a partir das leituras de livros de cavalaria.

Na sequência, ele apresentou a magnitude do Quixote: possui 126 capítulos, divididos em dois volumes, 52 capítulos na I Parte e 74 capítulos na II Parte; foram escritas 381.000 palavras, sendo

23.000 diferentes; as palavras mais escritas são: “que, Quixote e Sancho”; há mais de 600 personagens envolvidas na história, 60 são femininas; já foi publicado em mais de 150 línguas; é o livro mais vendido da literatura, um best-seller desde a publicação da edição princeps, em janeiro de 1605, em pleno “Século de Ouro” de tantas figuras estelares.

Num aparte, magnânimo, como era de se esperar, o cavaleiro palestrante fez questão de falar sobre o escritor, poeta e dramaturgo Miguel de Cervantes, afirmando ser ele um homem sensível, de muitas superações frente às dificuldades da vida na época e das adversidades sofridas. Que Cervantes conseguiu instruir-se, que foi um herói de guerra, ferido, e depois escravo, além de um tipo perseverante e de raro talento, capaz de escrever um livro genial, de considerável influência nas gerações subsequentes… Um livro que revolucionou a arte da escrita, o próprio caráter do livro, o papel do leitor, a importância da leitura, a estética e o modelo de diálogo da narrativa.

P.S. A 2.ª Parte será publicada na próxima semana.

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*ADMINISTRADOR DE EMPRESAS (UFPE), DA ASOCIACIÓN DE CERVANTISTAS (ES), DA ASOCIACIÓN INTERNACIONAL DE LECTORES Y COLECCIONISTAS DE DON QUIJOTE (MX), AUTOR DO LIVRO “SONHO IMPOSSÍVEL - O RECIFE E CERVANTES” (2024)

 

 

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