Sex, 05 de Dezembro

Logo Folha de Pernambuco
opinião

Eles e nós

Há segregações bem conhecidas, dentre elas as da Coreia e do Vietnam, na Ásia; da Irlanda, no Reino Unido; da Espanha, então, nem se fala, com 17 comunidades autônomas. Com a dissolução da União Soviética, em 1991, 15 países ficaram independentes: Rússia e mais quatorze. Na Itália, há dois “países” diferentes: o do Norte (rico) e o do Sul (pobre).
Recentemente saiu o livro “Só sei que foi assim – A trama do preconceito contra o povo do Nordeste” (2), de Octávio Santiago, potiguar, jornalista, pesquisador em Comunicação e doutor em Ciência da Comunicação pela Universidade do Minho, Portugal. O livro apresenta um extrato da tese de doutorado que defendeu na mesma universidade. Em 254 páginas, faz um traçado histórico, desde a chegada de Cabral ao Brasil. Segundo alguns historiadores, o desembarque não aconteceu em Porto Seguro e sim em Touros, no Rio Grande do Norte. 

O escritor/historiador discorre sobre o interesse de Portugal e da Holanda pelo açúcar. Com a Holanda fora do jogo, Portugal se volta para as Minas Gerais, com a descoberta do ouro. Por causa do metal precioso e de um melhor escoamento através do Sudeste, por volta de 1730, o Rio virou referência, com movimento portuário superior a 60% em relação a Salvador. 

A partir de então, o curso da história mudou e nunca mais foi recuperado. Mais na frente, a ascensão da cultura cafeeira paulista fez com que o Nordeste passasse a ocupar papel secundário. Para piorar, veio a maior seca da história da nossa região (1877-1879) que matou mais de 500 mil brasileiros; proporcionalmente, mais que a covid-19 (2020/2023).

A partir da época da seca, começaram as migrações dentro do Nordeste e desta para outras regiões: Centro-Oeste e, principalmente, Sudeste. Há um episódio constrangedor, pouco divulgado, da construção, no Ceará, de campos de concentração, no período de 1915-1932, para receber os “esfomeados” da seca.

Lamento a existência dessas desigualdades regionais, oriundas de políticas equivocadas ou com o propósito de aliviar cada crise, mas sem a intenção de resolver o problema. Tome-se como exemplo, esses programas de bolsas e outros programas assistenciais. Que desenvolvimento trazem para a região? Nenhum. A situação de pobreza tende a ser agravada se não houver mudança na condução desses programas e na criação de outros que façam com que os nossos conterrâneos saiam da situação de flagelo ou miséria para outros patamares melhores. Mais: se não houver essa mudança, voltaremos a ter outros campos de concentração abrigando filhos da terra.

“Haja o que hajar”, sou e sempre serei Zé, pau-de-arara, nortista, paraíba, baiano, cabra da peste, cabeça chata, caipira, caboclo, candango, matuto, capiau, corumba, mangalho, casacudo, jeca, brasileiro, com muito orgulho. 
 



___
Os artigos publicados nesta seção não refletem necessariamente a opinião do jornal. Os textos para este espaço devem ser enviados para o e-mail [email protected] e passam por uma curadoria antes da aprovação para publicação.

Veja também

Newsletter