Sex, 05 de Dezembro

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opinião

Estratégia Trump deu errado. Ou a resposta soberana

Recorrer a um presidente de país estrangeiro. Para delinear uma troca de favor político. Vestida de tarifa comercial. Aumentar as tarifas para forçar anistia política. É uma estratégia improvável. Por duas principais razões: a primeira razão, fere a soberania do país. Porque os Poderes republicanos são independentes. A segunda razão, configura uma interferência estrangeira no domínio nacional.

Jair Bolsonaro sempre adotou, como método de atuação política, o desafio às instituições. Foi assim no Exército. Quando se insubordinou face às normas da corporação. Foi processado. Sua expulsão foi acordada em exoneração. O epitáfio de sua carreira no Exército, dado pelo ex-presidente Ernesto Geisel, foi: um mau militar.  

O segundo episódio de insurgência foi político. A tentativa de golpe de Estado, no exercício da presidência da República. Uma manobra que cobriu todo o período de sua gestão. Quatro anos de mandato. Quatro anos de conspirata. Ensaiando diariamente conflitos. Testando cotidianamente as instituições. Conferenciando solertemente com auxiliares. O arremate, na sua saída, sem entregar o cargo ao sucessor, foi um ato Shakespereano. Digno de Hamlet. Sou ou não sou? Dou ou não dou o golpe?

O instinto autoritário não suportou a rosa dos ventos. Produziu arquitetura indigna. Instruiu o filho a negociar a soberania do país com um estrangeiro. A estratégia foi ficando clara. O estrangeiro penalizou o Brasil com um tarifaço. Embaraçando as exportações brasileiras. Comprometendo o emprego de milhares de trabalhadores. E imaginou amedrontar o trópico com medidas contra o Supremo Tribunal Federal – STF. Recorde-se que a exportação para os EUA significa apenas 12% do total exportado pela economia nacional.

Ao mesmo tempo, planejou desencadear pressões internas nas ruas. Repetindo as manifestações que eram açuladas durante seu mandato. Reproduzindo as mesmas táticas de então. Ataques ao Judiciário. Estímulo à desmoralização da Suprema Corte. Ligações telefônicas para exortação pública. Reprodução dos eventos nas redes sociais. Violando determinações contidas em sentença judicial. Do outro lado do Atlântico, o eco filial era ouvido. A escalada subindo o tom. O evento de Copacabana cingiu o tamanho da provocação. Não adiantou. Não somos uma banana republic.    

Admito que a atual circunstância de tensão política esteja prevista. No caderno de notas desafiadoras dos inconformados. Porque é coerente com o lema do quanto pior, melhor. A marcha da insensatez é uma obra de derruição. Trata-se de criar as condições para nomear de ditadura o que é defesa do Estado de Direito. Basta ler as reiteradas declarações do deputado Eduardo Bolsonaro. Pregando medidas contra seu próprio país. No mínimo, obstrução de Justiça.

O que se passa no Brasil não teria ocorrido se não fosse o presidente Trump. E o que se passa nos Estados Unidos? Desde 1945, os americanos construíram o soft power. No seu ideário, constavam Marlon Brando, Marilyn Monroe, Cole Porter, Wynton Marsalis, Ernest Hemingway, Emily Dickinson, Jackson Polock. E a democracia. A prática da democracia, como modelo de regime político. E o conceito de democracia, como produto de exportação americano. Isto acabou. Com Trump. Não existe mais o valor da democracia, tal como exercido por Abraham Lincoln, Franklin Roosevelt e Barack Obama.
O que há é uma engenharia do mal. Articulada internacionalmente. Que precisa ocupar o Brasil. Para dar ressonância, no Sul, à rouquidão do Norte. Não tenhamos a pressa que aniquila o verso. Porque, como disse o maestro soberano, Tom Jobim, o Brasil não é para amadores. Nem para sublevadores.
 


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