Os Barômetros Indicam: Pressão Cai Para Lula às Vésperas de 2026
A recente pesquisa Genial/Quaest de novembro revela um movimento que já não pode ser tratado como oscilação pontual: trata-se de uma mudança de clima político. As pressões atmosféricas da opinião pública começam a se reorganizar, e o governo Lula atravessa o final de 2025 sob nuvens carregadas. A queda sustentada da aprovação, o avanço da insegurança como tema dominante, a percepção econômica negativa e a busca crescente por alternativas à polarização compõem um cenário novo, diferente de qualquer ciclo recente da política brasileira.
A aprovação presidencial recuou para 47%, enquanto a desaprovação alcançou 50%. A avaliação negativa supera a positiva, e apenas 44% descrevem Lula como “bem-intencionado”. Além disso, 63% afirmam que o presidente não tem cumprido as promessas de campanha. Somado a isso, o dado de maior peso simbólico: 59% dos brasileiros dizem que Lula não deveria concorrer à reeleição. Não é a fotografia de uma crise episódica, mas o retrato de uma fadiga prolongada.
O desgaste fica ainda mais evidente quando se observa a mudança de prioridades do país. A violência e a segurança pública saltaram, em um ano, de 17% para 38% como principal preocupação nacional, deixando a economia — tradicional bússola eleitoral — em segundo plano, com 15%. A avaliação do governo federal na área é baixa: apenas 26% aprovam sua atuação.
A percepção de que o Brasil segue na “direção errada” (58%) reforça a sensação de perda de controle. Quando o eixo central de uma eleição escapa ao comando narrativo de um presidente, o custo político costuma ser alto.
A economia também não oferece alívio. Para o eleitor, nada fala mais alto que o orçamento doméstico: 72% afirmam que o poder de compra diminuiu no último ano. Apenas 24% veem melhora econômica. A deterioração da percepção, somada a preços pressionados pela inflação e sensação persistente de instabilidade dos juros altos, afeta diretamente o voto. Em democracias, incumbentes raramente atravessam ciclos prolongados de perda de renda percebida sem sofrer impacto eleitoral.
Nesse ambiente de desalento, cresce a demanda por alternativas. Questionados sobre o melhor resultado para o Brasil em 2026, 24% preferem um nome que não seja nem lulista nem bolsonarista. Outros 17% gostariam de alguém de fora da política. Há um cansaço claro com a disputa que leva à formação de maiorias negativas e uma abertura real para novos protagonistas.
É nesse contexto que Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, aparece como o adversário mais competitivo. A curva de intenção de voto em um eventual segundo turno mostra deslocamento firme: Lula despencou de 52% para 41% em um ano; Tarcísio subiu de 26% para 36%. A diferença, que já foi de 26 pontos, agora é de cinco. Sua rejeição, embora não seja baixa, é administrável e está abaixo da de líderes consolidados. E seu principal ativo — governar o estado com uma das menores taxas de homicídios do país — dialoga diretamente com a preocupação número um do eleitor brasileiro.
Mas há um ponto decisivo no mapa eleitoral: o Nordeste. A pesquisa mostra que é a única região onde Lula mantém folga expressiva. Em novembro, registrou 59% de aprovação, contra 38% de desaprovação. No restante do país, ocorre o inverso: no Sudeste, a desaprovação chega a 53%; no Sul, 61%; e no Centro-Oeste/Norte, 55%. Sem o colchão eleitoral nordestino, Lula estaria, pelos números da própria Quaest, em situação de inviabilidade eleitoral.
Para Tarcísio, isso significa que qualquer estratégia competitiva exige construir uma ponte sólida com a região — não episódica, mas estrutural. Os últimos governadores paulistas que tentaram avançar no Nordeste falharam porque adotaram a linguagem de Lula e do PT, reforçando o enquadramento adversário, como descreve George Lakoff. Há espaço, porém, para uma mensagem alternativa ancorada em outro eixo: a segurança pública. O Nordeste é hoje a região mais violenta do Brasil e concentra os estados com os piores indicadores de homicídios — Bahia e Ceará, ambos governados pelo PT. Uma narrativa centrada em ordem, proteção, presença do Estado e reconstrução da autoridade pública pode encontrar terreno fértil diante da crescente inquietação social com o crime organizado. Mas discurso não basta: será preciso presença, constância e coerência.
Por fim, a isso se somam fatores recentes que corroem o governo. Não há sinais, pelos dados da própria pesquisa, de que a COP30 trará dividendos eleitorais ao presidente; o evento gera mais exaustão do que engajamento. O escândalo do INSS voltou ao centro do noticiário, reacendendo críticas à capacidade administrativa do governo. E as perdas bilionárias registradas por estatais sob sua gestão reforçam a narrativa de descontrole e alimentam preocupações sobre governança.
Sem Bolsonaro na disputa — que funcionou como contraponto decisivo em 2022 — Lula chega ao ano eleitoral em clara desvantagem, mas ainda não derrotado. O presidente enfrenta um desgaste profundo, real e mensurável. E, enquanto Lula fala ao mundo sobre mudanças climáticas e já não encontra o eco internacional de antes, a verdadeira mudança de clima ocorre na relação entre ele e o eleitor brasileiro.
Para o presidente, os indicativos são de instabilidade no horizonte — e pode haver tempestade no primeiro domingo de outubro do próximo ano. Ainda assim, é preciso a advertência final, apoiada nos dados: enquanto a oposição não colocar Tarcísio de Freitas efetivamente em campo, Lula continua sendo o favorito.
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Ph.D. em Ciência Política pela New School For Social Research - New York. Professor da Universidade Federal de Pernambuco
