Tecnologia, trabalho e educação: o impacto das tarefas na reconfiguração das profissões
A relação do ser humano com a tecnologia é tão antiga quanto sua própria existência enquanto espécie. Desde o momento em que se utilizou de uma pedra para caçar, ou descobriu o fogo para cozinhar, a tecnologia passou a representar uma extensão das capacidades humanas. O que muitos parecem esquecer, contudo, é que as revoluções tecnológicas - como a que vivemos atualmente - sempre foram fenômenos cíclicos, transformadores e inevitáveis.
O espanto contemporâneo com a velocidade das transformações digitais revela, na verdade, uma memória curta ou uma falta de compreensão histórica mais profunda. O Tripé Organizacional: Pessoas, Processos e Tecnologia. Toda organização - seja ela pública ou privada, pequena ou complexa - estrutura-se a partir de um tripé fundamental: pessoas, processos e tecnologia. Esse tripé configura os ambientes de trabalho e dá origem às funções, que por sua vez se desdobram em tarefas e definem o exercício das profissões.
Historicamente, as grandes revoluções tecnológicas - da prensa de Gutenberg à máquina a vapor, do microchip à inteligência artificial - não afetaram imediatamente as profissões, mas sim as tarefas. São estas que, uma vez impactadas, transformam o modo de operar, exigem novas competências e, por consequência, reconfiguram as funções profissionais. A partir daí, as profissões se reinventam, desaparecem ou se fundem.
O Impacto Tecnológico nas Tarefas: uma transição silenciosa. O ponto de inflexão em nosso tempo está na velocidade exponencial com que as tecnologias estão transformando tarefas operacionais e cognitivas. Inteligência Artificial, blockchain, Internet das Coisas, robótica, nanotecnologia, computação quântica e impressão 3D já estão integradas a setores diversos - da saúde à indústria, do direito à educação. Essa transformação das tarefas não é futurista. Ela já está em curso. O desafio não está no futuro das profissões, mas no presente das tarefas. A obsolescência de tarefas rotineiras, antes feitas exclusivamente por seres humanos, já vem sendo absorvida por sistemas autônomos e algoritmos preditivos.
O Colapso da Formação Tradicional! O setor educacional é, paradoxalmente, o mais impactado e o menos adaptado a essa realidade. A miopia institucional, aliada à rigidez curricular, impede muitas instituições de perceberem que a formação profissional tradicional - linear, estanque, baseada em disciplinas desconectadas da realidade - já não responde às demandas atuais. A desconexão entre as competências ensinadas e aquelas exigidas pelo mercado resulta em um vácuo de empregabilidade e produtividade. Por isso, muitos empresários passaram a buscar seus próprios modelos de formação, criando estruturas internas de capacitação que atendam à lógica do seu negócio e ao ritmo das mudanças tecnológicas.
Uma Nova Pedagogia da Tarefa! É necessário, portanto, reformular a concepção de formação profissional, partindo do entendimento de que a mudança começa pelas tarefas. As instituições educacionais precisam: redefinir currículos com base em mapas de tarefas impactadas por tecnologia; desenvolver trilhas formativas modulares, ágeis e ajustáveis; preparar os alunos para o reaprender constante, por meio da educação por competências, com ênfase em adaptabilidade, resolução de problemas e pensamento crítico; e, incorporar tecnologias educacionais aplicadas com IA, gamificação, simulações em RV, etc.
A capacidade de desaprender será a principal habilidade das próximas décadas. Do Homo Faber ao Homo Digitalis. A espécie humana sempre sobreviveu por sua capacidade de adaptação tecnológica. O fogo, a roda, o telescópio, o computador - todos são expressões daquilo que nos diferencia: a engenhosidade. No entanto, o descompasso entre as transformações tecnológicas e a resposta educacional pode ser fatal.
Tarefas estão desaparecendo ou sendo reconfiguradas a uma velocidade inédita, e com elas, funções e profissões. O profissional do futuro não é aquele que domina um diploma, mas aquele que compreende o seu papel dentro de processos em mutação constante - e que sabe reconfigurar sua tarefa à luz da tecnologia. As organizações que não compreenderem isso morrerão. Os profissionais que não se adaptarem ficarão para trás. E as instituições de ensino que ignorarem essa lógica desaparecerão.
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